Jorge Magalhães, ex-presidente da Câmara Municipal de Lousada e da Assembleia Municipal, assumiu recentemente o cargo de Diretor Geral da Ambisousa. Estivemos à conversa com o ex-autarca, que nos explicou quais são os principais objetivos para o futuro desta entidade.
Como surgiu esta oportunidade?
Esta casa, apesar de tudo, tem necessidade de abordagens decisórias, dado que, ao longo dos tempos, se estava a notar que o presidente da Ambisousa, que cumula com o cargo de Presidente da Câmara de Penafiel, não poderia estar em dois lados ao mesmo tempo, ou seja, na câmara e aqui. Teve o cuidado de me falar no ano passado, quando eu ainda estava na entidade Turismo Porto e Norte. Neste contexto, fomos falando e, durante o mês de março, acabei por aceitar, até porque já tinha terminado as minhas funções na entidade de turismo. A seguir ao Presidente e ao Conselho de Administração, estarei eu para coordenar as políticas e dar a atenção que uma instituição destas necessita.
Conte-nos um pouco da sua experiência enquanto vice-presidente da entidade Turismo Porto e Norte.
Foi interessante, numa área que eu não conhecia muito por dentro, apenas conhecia de uma forma lateral. Houve situações bem conseguidas e abordagens muito positivas. Não digo que tenham sido criadas por mim, mas contribui de alguma forma para esse resultado. No fundo, coincidiu com a grande expansão da procura da região Norte e isso é um marco interessante, não para mim, mas sobretudo para a região e para todos os seus operadores. Acho que tem sido extremamente positivo todo o grande potencial que a região tem e que foi aproveitado.
Um dos aspetos negativos é o processo judicial que envolveu a entidade Turismo Porto e Norte de Portugal…
Sim, é verdade. No meio disto tudo, o que está em causa muitas vezes é a própria instituição e a tendência de confundir a instituição com as pessoas. Aliás, tenho essa experiência. Logo naqueles primeiros dias e nas primeiras detenções, surgiram para aí notícias (sei que não foram veiculadas pela imprensa sequer, mais pelas redes sociais) que nos atingem. São problemas que existem nas instituições e, portanto, muitas vezes eu também lá estava. Estava num cargo de relevância. Foi um momento difícil para mim, na primeira vez que foram feitas as investigações. Eu estava em Lousada e ligaram-me: “Está aqui a judiciária”. E eu disse “abra as portas e dê-lhes tudo o que precisarem”. Cheguei lá e identifiquei-me, fui ter com o inspetor geral e a procuradora e disse: “O que necessitar esteja à vontade”. Disseram que não precisavam de mim e que eu poderia sair. Foi uma experiência diferente.
Para quem não conhece, como surgiu a Ambisousa?
A Ambisousa é uma instituição que emergiu da própria Associação de Municípios do Vale do Sousa. É o braço armado nesta área do ambiente destes seis municípios. A Associação de Municípios, há uns anos, tinha um problema gravíssimo: em 93 e 94, herdamos um processo complicado dos sítios de deposição dos nossos RSU’S, pois tínhamos espaços de lixeiras a céu aberto. Lustosa já vinha de uma situação de alguns anos, e os municípios juntaram-se para arranjar soluções para esse processo. Fruto disso, avançaram para uma instituição que foi a RESIN. No caso de Lousada, fez-se a recuperação dessa lixeira, o que permitiu que se desse um primeiro passo no tipo de tratamento dos RSU’S que eram lá depositados. Depois, deu-se o processo da construção dos aterros e a RESIN ficou a fazer a sua manutenção. O serviço era demasiado penalizante para os municípios e, a partir do momento de que terminou o contrato dessa manutenção, a associação deliberou no sentido de avançar no processo da criação desta empresa para operar na área. E assim foi: tem desempenhado esse papel de uma forma muito clara, em proveito dos próprios municípios, porque conseguiu-se, com várias abordagens, quer em Lousada, quer em Penafiel, ter proveitos, e com isso ter a tarifa que se cobra aos munícipes a mais baixa de todo o país. É importante fazer o serviço e ter qualidade, mas que a tarifa seja a mais razoável possível. A própria empresa não tem como primeira abordagem o lucro e isso reflete-se nesta redução das tarifas.
Caracterize o atual momento da Ambisousa.
O atual momento é de definição da abordagem e do papel da própria Ambisousa no contexto no qual atua neste momento. Ela está direcionada essencialmente para uma área do tratamento dos RSU’S que são recolhidos nos seis municípios.
Neste momento, estamos no momento de alteração de todo o paradigma da realidade que está à volta dos resíduos, em particular no caso do tratamento e deposição. Há aqui definições que se tem de fazer a curto prazo e estão a ser objeto de reflexão porque, como sabe, quer o aterro de Lousada, quer o de Penafiel, estão a caminhar a passos largos para terminar o seu processo de vida útil. A questão que se põe a seguir é qual é o meio para resolver o problema. Nós estamos a dois ou a três anos de terminar este processo, em termos de deposição. E, portanto, temos de resolver o que se vai fazer a seguir.
E quais são as soluções para esse problema?
Se tivermos de ir para a construção de novos aterros, eles têm de ser lançados o quanto antes. Sabendo logo à partida que não há fundos comunitários para este tipo de investimento, terão de ser os municípios do seu próprio pecúlio terão de resolver o problema.
Mas há aqui um modelo que teremos de seguir e implementar a muito curto prazo. Efetivamente, o esforço, quer dos municípios quer da Ambisousa e dos concidadãos, é o que está a ser desenvolvido na Europa: deverão, cada vez mais, procurar selecionar os seus resíduos. No fundo, é potenciar aquele processo de separação que todos conhecemos. Dessa forma, será mais fácil rentabilizar os resíduos. Relativamente aos produtos que foram durante muito tempo para aterro de uma forma indiferenciada e não eram aproveitados, cada vez mais a reciclagem está a permitir que uma grande parte seja aproveitada, mas a perspetiva é ir mais além. Mesmo os resíduos orgânicos podem ser valorizados e até, num futuro que esperamos curto, podem definitivamente não chegar a aterro. Vamos fazer uma caminhada muito persistente e consistente no sentido de procurarmos sensibilizar todos os envolvidos, envolver toda a gente, pois todos temos a ganhar, no sentidos dos RSU’S serem aproveitados e geradores de mais-valias.
O Aterro de Lustosa será encerrado só daqui a três anos?
Este aterro ainda tem um espaço de deposição. Vai caminhar muito rapidamente para a sua incapacidade de receber resíduos, mas sim, dá para mais uns dois a três anos.

Mas está colocada de parte a possibilidade de novos aterros?
Este conjunto de municípios, se tiverem de construir um novo aterro, terão de ir à banca. São investimentos que têm algum impacto financeiro e que podem ser projetados mais tarde nas tarifas. A Ambisousa seguiu sempre esta política: os proveitos que anualmente absorve incorpora-os nas tarifas, diminuindo assim o valor cobrado aos cidadãos.
Há um investimento recente, nomeadamente na compra de camiões e agora de uma nova unidade de tratamento para Lustosa. São investimentos com esse novo objetivo?
A aquisição de viaturas altamente equipadas e o investimento nas unidades de triagem tem essencialmente um propósito, que é aquele que referi há pouco: procurar fazer, no âmbito da reciclagem, o máximo de cobertura deste território, para retirarmos o máximo daquilo que é para aterro e valorizá-lo, ou seja, nós retiramos, recolhemos, tratamos e valorizamos, e acabamos com isso por trazer mais-valias para o processo. Nestes resíduos, ficam sempre os orgânicos, que não são tão fáceis de aproveitar, mas já há algumas soluções sem necessidade de aterros ou incineradoras. Encaminhá-los e valorizá-los: este é o nosso grande desafio. Procurar posicionar-se e encontrar este caminho, que é muito mais saudável para todos, em termos financeiros, ecológicos… em todos os aspetos. Investir nestes camiões é sempre um investimento com algum significado. A Ambisousa está qualificada, tem uma experiência grande e está devidamente vocacionada para fazer este trabalho.
Têm também projetos em andamento que envolvem a comunidade…
Os projetos do aproveitamento do cartão e dos plásticos, nomeadamente do projeto tampinhas, continuarão a ser apostas. São abordagens que têm sido muito positivas, e até não vejo isso refletido na comunicação social. Esta casa, com o projeto das tampinhas, tem ajudado muita gente, desde a compra de carrinhos, camas articuladas, entre outros. E deve ser realçada, pois é importante perceber que uma pequena cápsula, com muitas outras, resolve estes problemas, que muitas vezes o Estado e os particulares não conseguem resolver. E a Ambisousa está a conseguir fazer. Também no cartão, em função do que as pessoas trazem para a reciclagem, é creditado um valor. Devido à parceria com a SONAE, é atribuído um crédito para utilizarem nas lojas do Grupo. Nós estamos nesta região com um nível de recuperação de cartão muito elevado fruto desta política. Vamos acompanhar as diretivas em relação ao plástico, pois percebemos que há aqui alternativas e deverão ser consubstanciadas.
Como estão a ser estes primeiros dias com esta responsabilidade?
Estou a conhecer os cantos da casa. Já pedi aos responsáveis para conhecer todos os colaboradores, para me entrosar o máximo possível com toda esta realidade. Este espaço necessita sobretudo da disponibilidade de todos os seus trabalhadores. Não é uma estrutura muito grande, e isso é importante. Se houver o “vestir da camisola”, seguramente, conseguimos fazer mais e melhor, sem termos grandes custos. Esta abordagem é aquela que vou garantir sempre. Este caminho que a Ambisousa está a fazer é fundamental para chegar ao nível que lhe referi há pouco, que é de termos o sistema montado sem grandes impactos económicos para os nossos cidadãos, e que a esmagadora maioria daquilo que é lixo seja devidamente aproveitado e recuperado sem impactos ambientais. Eventualmente, aproveitar aquilo que tiver de ser incinerado e tentar, junto da capacidade da Lipor, negociar uma tarifa que permita ser ela a tratar.
Comentários