Num evento de beneficência, vi algo que me parece familiar: a exibição da solidariedade.
Como em campanhas eleitorais, como em fotografias de esmolas atiradas a chapéus de pedintes, como em imagens de políticos a fingir apagar um fogo florestal.
Não é apenas marketing, nem propaganda. Não é vaidade, nem egocentrismo. É exibicionismo. Fanfarronice. Entretenimento.
Tom Waits disse: “as pessoas não querem saber se lhes estão a dizer a verdade ou a mentira, desde que isso as entretenha”. O exibicionismo entretém, e muitos aplaudem.
Mas quando o gesto se mostra, deixa de ser puro. Quem se faz ver a ajudar procura retorno, dividendos, vantagens.
Sobre o que me trouxe a este escrito, eu vi alguém num palco, apontando para um necessitado e dizendo: “eu pago o que falta”. Um gesto que parecia grande, mas carregado de outro peso.
Há atos que nascem do coração e se perdem no gesto. Outros, friamente calculados, buscam aplauso. Mais vale o recato, o donativo silencioso, a oferta anónima.
Hoje, nas redes sociais, abundam campanhas de solidariedade. E nem sempre a intenção é genuína.
Quando eu era pequeno, em Lousada, ouvia contar que uma comerciante de padaria fazia benemerência sem se mostrar. À noite, deixava sacos com as sobras do dia à porta de quem precisava. Sabia-se que eram dela, mas nunca o confirmou. Outros tempos. Outros gestos. Atos genuínos, desinteressados.
Façam Natal, sem o dizer.
Como fazia a Justininha Padeira.













Comentários