Há muitos e muitos anos, nestas terras do Norte de Portugal (já desde o séc. XII, no então Condado Portucalense), nomeadamente nas Terras banhadas pelo Rio Sousa e rio Mezio era habitual associar a religiosidade do povo às manifestações do Cristianismo baseado no Catolicismo.
Já outrora se entendia por religiosidade toda a manifestação, exterior ou interior, da relação entre a divindade e o homem. Ainda hoje a prática religiosa consiste na obediência exterior que uma pessoa ou grupo social presta, a certas obrigações (preceitos) ou a certos rituais e “conselhos” dados por uma igreja.
Através dos versos que se iam criando no seio da comunidade religiosa que na sua maioria esmagadora era de índole Católica, Apostólica e Romana, celebravam-se rituais, enquanto atos cumpridos pelas pessoas no domínio religioso e intelectual, relativa aos conhecimentos que os indivíduos têm dos dogmas fundamentais da sua Fé, traduzidos em atitudes e comportamentos “institucionais”, mas também, como forma de rogar e agradecer dons concedidos.
Todas as freguesias de Lousada têm o(a) seu(sua) Padroeiro(a), uns com maior dedicação e outros com menor devoção, mas não menos influente, principalmente por parte dos forasteiros e peregrinos que vinham de longe. Mas, a todos Eles se dedicaram e dedicam imensos versos que se interpretam em forma de oração e de transmissão de rituais de Fé, tanto nas Novenas, nas Igrejas, como nas Festas anuais comemorativas, ou nos trabalhos do campo e ao serão a tecer e a bordar com rendas ou folhos, as lindas toalhas que iriam cobrir os altares da Igreja.

No ritmo do calendário civil entra o calendário religioso que é, também, norteado por imensa poesia popular, nomeadamente no Cantar das Janeiras e dos Reis, na Quaresma, na Páscoa e visita Pascal, no dia dos Fiéis Defuntos e no Natal, e exprime a íntima comunhão entre a fé e a vida, testemunhada também em outras celebrações como batizados, comunhões, casamentos e ritos fúnebres e principalmente na Eucaristia.
Escolhemos nesta rubrica alguns versos, do “Cancioneiro de Lousada”, relativos à nossa Religiosidade e Fé Cristã, a que tivemos acesso, através dos Grupos Folclóricos e de algumas publicações etnográficas:
I
Ó Senhor dos Aflitos
Bem aflita estou eu
Que me chegou por notícia
O meu Amor que morreu!…
II
Meu Bom Sr. dos Aflitos
Olhai que pesada Cruz!
Ouvi meus ais e meus gritos…
Foram-se-me os olhos bonitos,
Que me davam tanta luz!…
III
Óh!… Igreja de S. Fins
Toda caiada ao redor
Logo da banda do adro
Mora lá o meu amor.
IV
Óh!… Senhora d’Aparecida
Numa pedra me sentei
Com sentido nos Amores
Nem esmola à Santa dei.
V
A Senhora d’Aparecida
Apareceu na barreirinha
Oh!… Que milagre tamanho
Senhora tão pequenina.
VI
Santo Tirso de Meinedo
E S. Brás de Nespereira
Daí juizinho aos homens
Que eles têm tamanha leira
VII
Ao Domingo na Igreja
Deus me queira perdoar
Primeiro olho p’ra ti
“Ó despois” para o altar.
VIII
Quem quiser amar a Deus
Não diga que não tem tempo.
Pode andar no trabalho
Com Jesus no pensamento.
IX
Óh!… Igreja de Meinedo
De que pedra foste feita
Foste tu a causadora
De eu dar a minha mão direita.
X
Hei de ir ao Senhor da Pedra
Com a minha devoção
Para pedir o milagre
Que trago no coração.
XI
Bendito Senhor da Pedra
Bendito sempre sejais
Não tenho nada de meu
Óh!… Senhor tanto me dais.
XII
Milagroso Santo Ovídeo
Eu venho de lá eu venho
Deixei lá o meu amor
Que pena eu agora tenho
XIII
Todos os homens são santos
Só o meu é pecador
Que mal fiz eu a Deus
P’ra merecer isto: – Óh Senhor!….
XIV
Óh meu Menino Jesus
Quem me dera ser só Teu
Teria já paz na terra
E a felicidade no Céu.
XV
Com os Pastores de Belém
Vamos nós todos cantar
Louvores à Virgem Maria
A Deus Menino adorar.
Comentários