Vivem-se tempos inéditos no ensino em Portugal. O Covid-19 provocou grandes mudanças na vida dos portugueses e dos estudantes, em particular. Com as escolas fechadas há 4 semanas, alunos e professores têm experimentado novas formas de ensinar e aprender.
Se é certo, que ninguém estava preparado para esta situação, não é menos verdade que todos se empenharam em conseguir respostas rápidas que pudessem atenuar as consequências do fim das aulas presenciais.
Filipe Plácido é o diretor do Agrupamento de Escolas de Lousada. Reconhece, que, no início, as pessoas não estavam a ver o problema como ele efetivamente era. “Nenhum de nós estava a prever um fenómeno tão catastrófico. Olhávamos para a China e não prevíamos que pudesse chegar ao que chegou em Itália e Espanha”, diz.

A’O Louzadense, contou, que a primeira preocupação foi alertar todos os alunos e encarregados de educação de que as escolas estariam encerradas. Esta medida não foi suficiente para consciencializar as pessoas acerca do problema, na sua opinião. “Com as escolas fechadas em Lousada e Felgueiras, as pessoas não tomaram imediatamente consciência da gravidade do problema e saíam de casa”, constata. No entanto, a situação mudou quando a pandemia tomou proporções mais graves em todo o país. Filipe Plácido considera, que a partir deste momento jamais Portugal e o mundo serão os mesmos. “Temos de deixar de ser egoístas, não somos comunitários”, considera.
“A escola tem dado uma resposta à altura do desafio de que não estava à espera”, Filipe Plácido
O diretor do Agrupamento de Escolas de Lousada diz-se orgulhoso dos seus professores, assistentes operacionais, técnicos e comunidade educativa no geral, e dos alunos em particular, pela resposta que deram. “Infelizmente, não conseguimos chegar a todos, mas chegamos a grande parte deles”, assegura, estimando, que seja superior a 90%, perante o feedback que tem dos alunos.
Os métodos de trabalho passam pela utilização de ferramentas digitais. O diretor explica, que foi criado um e-mail para todas as turmas, que os professores podem utilizar para deixar trabalhos aos os alunos. Mas há também aqueles docentes mais tecnológicos, que utilizam plataformas de comunicação como o Zoom e o Skype. Filipe Plácido mostra-se, contudo, preocupado com a proteção de dados, mas reconhece que o mais importante é o trabalho que está a ser desenvolvido em prol dos alunos.
Faltam computadores e Internet a alguns alunos
Mais preocupante neste momento são os alunos que não têm computador ou ligação à Internet. Por isso, foi feito um levantamento desse dados e, juntamente com a autarquia, estão a ser encontradas soluções para que os alunos possam desenvolver as suas atividades. Esta é uma ação, que envolve todas as escolas do concelho.
O diretor do maior agrupamento de escolas de Lousada garante, que a resposta dos alunos tem sido muito positiva e que a maioria está em contacto permanente com os professores. Apesar de tudo, reconhece, que os alunos estão cansados de permanecer em casa e que precisam de ser incentivados aí continuar, procurando outras ocupações, que lhes deem algum alento.
A Escola Secundária de Lousada é uma escola de acolhimento para filhos de profissionais, que não podem deixar de trabalhar ou mesmo para alunos carenciados que precisem daí recorrer para fazerem as suas refeições. No entanto, até o momento, não foi solicitada para esse efeito.
Pedro Araújo é professor na Escola Secundária de Lousada e presidente da Associação de Cultura Musical de Lousada. Enquanto cidadão, tenta manter-se informado, atento e procura cumprir as recomendações das autoridades de saúde.
Enquanto professor, os primeiros dias foram de expetativa, mas rapidamente encontrou formas de trabalhar com os alunos, situação idêntica à dos seus colegas. Genericamente, considera, que os alunos estiveram ocupados com atividades escolares nas diferentes disciplinas, “em alguns casos até com algum exagero”, diz.
“Este período poderá deixar algumas formas de trabalho, que podem ser usadas no futuro”, Pedro Araújo

Para este docente, os tempos que vivemos são diferentes, mas também de aprendizagem, que poderá ser útil no futuro, principalmente num cenário de aulas à distância no terceiro período. Pedro Araújo acredita, que se pode fazer um trabalho interessante. “Este período poderá deixar algumas formas de trabalho, que podem ser usadas no futuro, mesmo quando voltarmos à normalidade”, diz.
Relativamente aos alunos, este professor reconhece, que não tiveram dificuldades em adaptar-se à nova forma de trabalho, com recurso às novas tecnologias, e, também os professores se ajustaram com relativa facilidade.
Avaliando a qualidade do trabalho dos alunos, o professor reconhece, que tem sido interessante. Embora a relação interpessoal seja essencial, na sua opinião, “é interessante ver como alguns alunos reagem de forma diferente nesta modalidade de ensino. Há até alunos, que estão a responder melhor do que em sala de aula. É o caso dos alunos mais tímidos, que agora se revelam mais”, refere.
Enquanto pai de duas filhas em idade escolar e a esposa também professora, em teletrabalho, debate-se em casa com escassez dos computadores, situação que tem sido também relatada por outros pais.
O terceiro período está à porta, e Pedro Araújo espera, que sejam rapidamente dadas indicações sobre a sua organização, especialmente sobre os exames nacionais, para assim evitar ansiedade. Se a opção for continuar a ensinar à distância, garante: “Estamos todos preparados para continuar neste sistema de trabalho, com alguns acertos”.
Também os professores do Conservatório de Música do Vale do Sousa tiveram de se adaptar e continuam a lecionar através os meios digitais. Pedro Araújo explica, que alguns alunos vão mesmo partilhando as suas músicas nas redes sociais, ajudando, desta forma, a ultrapassar este período de grande ansiedade. “A arte é uma excelente forma de ocupar o tempo livre”, refere.
Rui Miranda é aluno do 12º ano da Escola Básica e Secundária Lousada Norte. Como todos os alunos, tem-se adaptado a esta nova etapa. Quando tomou conhecimento do encerramento da escola, percebeu a gravidade da situação. Sem perder tempo, começou a interagir com os professores, que o vão ajudando nos trabalhos. Apesar de ser uma modalidade de ensino diferente, Rui Miranda diz que “tem corrido bem. Tem recorrido sobretudo ao e-mail, mas os professores estão a pensar em iniciar os trabalhos por videoconferência. Para já, os alunos vão trocando apontamentos, fazendo os exercícios e ouvindo o feedback dos professores”.

Alunos preocupados com os exames nacionais
A sua maior preocupação neste momento é com a realização dos exames e o acesso à universidade. Preocupa-o a indefinição, mas está convencido de que vai acontecer um adiamento dos exames, o que poderá afetar o início do próximo ano letivo. Já inscrito nos exames, espera agora por indicações sobre a sua realização, esperando para o ano frequentar o curso de Física Teórica na Universidade do Porto.
Sair à noite e o convívio com os amigos estão por agora proibidos. Não é fácil, reconhece, mas tem de ser. “À medida que o tempo passa vai ficando ainda mais difícil”, afirma.
Aluno de Ciências é pragmático quando aborda o Covid-19. É uma nova experiência para todos, mas reconhece que, “a nível histórico, não é a primeira vez que acontece uma pandemia deste género, nem será a última. A nós, como cidadãos, cabe-nos o isolamento social, para evitar a propagação da doença”, lembra.
Os professores portugueses espalhados um pouco por todo o mundo vão também desenvolvendo o seu trabalho com os alunos, recorrendo aos meios digitais. É o caso de Nair Ferreira, que se encontra a lecionar em França, numa localidade perto do Lyon. Esta professora já esteve em Timor e na Suíça. Há uma década em França, os seus alunos são a maior parte de origem portuguesa, mas também alguns que estudam o português como língua estrangeira, entre eles árabes, turcos e italianos.
Situação dos professores no estrangeiro semelhante à dos portugueses
Há 4 semanas em casa, sai apenas para fazer as compras essenciais. Diz-nos, também, que em França as medidas de isolamento social estão cada vez mais restritivas. Neste momento, os cidadãos estão impedidos até de praticar qualquer tipo de desporto das 10 às 19 horas.
A adaptação ao ensino digital não foi difícil, embora no início o feedback dos alunos tenta sido “gota a gota”. Também em França, os professores debatem-se com a falta de computadores. “Quando não têm computadores, usam o telefone”, explica.
Entretanto, o Instituto Camões tem proporcionado formação aos professores para que possam explorar as diversas alternativas digitais. “É preciso dar tempo ao tempo”, diz.

Nair Ferreira vai também acompanhando as notícias de Portugal e contactando com a família diariamente. Pela comunicação social francesa vai tomando conhecimento também do que se passa no seu país de origem e diz que a imprensa se refere a Portugal como um bom exemplo.
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