Opinião de Vasco Lourenço
Quarenta e sete anos são passados sobre o 25 de Abril. Estamos prestes a ultrapassar a idade da longa noite escura, em que os ditadores suprimiram as liberdades aos portugueses, os oprimiram e asfixiaram, lhes impuseram uma guerra e os transformaram num dos povos mais infelizes da Europa Ocidental. Nesses tempos de lutas, muitos portugueses não se renderam aos ditadores e criaram as condições para que os jovens Capitães de Abril pudessem abrir as portas à Democracia.
Começou, então, um novo período da História, em que o povo português assumiu em pleno o seu estatuto de cidadania, construindo uma sociedade mais livre, mais democrática, mais justa e mais solidária.
Aos sonhos iniciais, onde tudo parecia ser possível de alcançar e onde todas as utopias pareciam ser realizáveis, outros tempos de maiores dificuldades se seguiram. Nestes 47 anos, tivemos altos e baixos, estivemos perto de soçobrar. A eufórica explosão de alegria quase era submergida pelas espúrias tentativas de adulterar a sociedade que Abril nos prometera e que tantos sonhos fez despertar. Foi muito difícil, após golpes e contra golpes, construir a plataforma que congregasse a esmagadora maioria dos portugueses, sustentáculo da aprovação da Constituição da República, a maior das conquistas de Abril. Seria precisamente essa Lei fundamental que nos permitiria, sempre fiéis aos valores de Abril, salvaguardar os objetivos fundamentais que haviam levado àquela madrugada libertadora. São esses valores de Abril que nunca devemos deixar de cultivar e que devemos ostentar sem hesitações perante os novos inimigos que, traiçoeiros, vão surgindo.
É tempo de dar especial atenção à Fraternidade, eternamente glorificada por Zeca Afonso e tão esquecida por entre as enormes mudanças do mundo. As desigualdades e as injustiças na sociedade estão disseminadas, os mais frágeis estão cada vez mais desprotegidos enquanto a riqueza cada vez mais se concentra nas mãos de poucos. A escandalosa má distribuição da mais valia produzida tem de ser alterada radicalmente, sob pena de caminharmos para graves e devastadores conflitos. É uma realidade que a pandemia veio agravar, que é imperioso travar.
Temos de dizer Não ao agravamento das desigualdades e temos, acima de tudo, de dizer Sim à necessária e indispensável Recuperação e Reconstrução, que não poderão nunca acentuar essas desigualdades, mas antes ser o caminho para a concretização dos sonhos de Abril. Para isso, teremos de ter Coragem para enfrentar as campanhas de desinformação, de manipulação, de mentira, de demagogias populistas que procuram vender, agora como no passado, um mundo idílico a pensar na conquista do poder, que lhes permita impor os seus desígnios, sempre, como a História nos ensina, através de regimes fortemente opressivos que rapidamente esquecem os valores por si apregoados. Como em tudo o mais, para que essa luta saia vitoriosa, os responsáveis políticos têm de ter Autoridade Moral. E isso não é compatível com a existência de Corrupção. É tempo de lhe pormos termo, de a criminalizar. É tempo de a Honestidade passar a ser norma e não excepção!
Os tempos são de resistência e de luta, mas também de Esperança num Futuro melhor. Abril faz-nos acreditar que o Futuro será melhor, mais livre, mais igual, mais solidário e mais fraterno. Por isso, continuando a assumir o nosso estatuto de cidadania, escolhemos para imagem e mensagem do nosso Cartaz comemorativo deste 47º aniversário do 25 de Abril o apelo às gerações mais novas, como símbolo do Futuro que desejamos. Transmitindo com Alegria, Determinação, Liberdade, Diversidade, Igualdade, Inclusão, Fraternidade e União entre gerações, em respeito e defesa da Natureza.
Não desistimos do Presente na realização dos Sonhos de Abril.
25 de Abril, Sempre!
Viva Portugal!
Um grande abraço de Abril