Olhando à superfície, a cidadã que representa esta rubrica nesta edição é natural de Meinedo, freguesia portuguesa do concelho de Lousada. Porém, falar da Telma é ir às profundezas da simpatia e independência com que vive a vida. Aos 36 anos de existência, os seus espaços são conquistados com a lealdade do seu coração. Presidente da Assembleia de Freguesia de Meinedo e do Grupo Folclórico e Cultural “As lavradeiras do Vale do Sousa”, em ambas as suas funções a aprendizagem é constante.
“Sempre vivi em Meinedo”, introduz Telma visivelmente orgulhosa das suas origens. Uma freguesia detentora de uma história fascinante em várias vertentes e não fosse a própria uma apaixonada por esta temática. Sendo assim, a cidadã magnetense nasceu e cresceu na freguesia ideal. Todavia, no meio desta vivência houve um período que não habitou em Lousada o que nos remete aos tempos académicos.
Telma licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). “A comunicação está em todo lado”, afirma. No meio do seu percurso universitário, frequentou a Universidade Federal de Pernambuco, no Brasil, pelo programa Erasmus. E, dado isto, foram nestes meses que deixou a sua estimada freguesia para se aventurar e abraçar um novo desafio, características inerentes ao longo da sua vida.
Após ter concluído o seu curso, Telma trabalhou inicialmente na área geográfica do Porto e depois encaminhou os seus olhares para Lousada. E, ainda hoje os cá mantém.
Seria deselegante abordar a Telma e não a ligar ao Grupo Folclórico e Cultural “As lavradeiras do Vale do Sousa”, onde pertence desde os 7 anos de idade. Assim como, não estabelecer este laço a duas pessoas que, segundo a própria, são os grandes responsáveis pela sua integração no grupo e depois pela sua continuidade.
Primeiro, respetivamente, Carlos Ferreira – o seu tio – e um dos sócios fundadores da coletividade. Posteriormente à sua chegada, foi Ana Perdigão que também era uma das sócias fundadoras. A alma do grupo, como carinhosamente apelida Telma, faleceu em 2014, porém deixou o seu trabalho exemplarmente bem feito e conservado. “Incutiu-me toda a orgânica”, declara.
As raízes foram fomentadas por estas duas figuras incontornáveis do Grupo Folclórico e Cultural “As lavradeiras do Vale do Sousa”. Os anos foram passando, bem como, os cargos de Telma neste. Em 2007, entra para a direção com a função de vogal e, no ano de 2008 até 2018, foi secretária de direção. Corria o ano de 2019, na sequência de uma necessidade de reformulação diretiva a cidadã assumiu a presidência, tendo a mesma sido reforçada com a eleição no mês passado.
“Nunca esteve na minha perspetiva ser presidente do grupo, aliás em várias reuniões fui frisando que não estou presa a cargos”, assume Telma mostrando a sua forma de encarar as hierarquias e formalismos.
Telma já esteve ligada a outros projetos no setor cultural, porém foi “As Lavradeiras do Vale do Sousa” que a absorveram. A dinâmica que o grupo foi adotando, ao longo do tempo, exigiu paralelamente outra dedicação por parte de Telma. “Por gosto cá fiquei”, reforça.
O arrojamento é a palavra de ordem do Grupo Folclórico e Cultural “As lavradeiras do Vale do Sousa”. As permutas culturais, os intercâmbios com grupos das ilhas e fora do país são atividades que exigem uma logística enorme e que paulatinamente e cautelosamente irão retomar.

O Grupo Folclórico e Cultural “As lavradeiras do Vale do Sousa” pertence à Federação do Folclore Português o que solicita um maior estudo para justificar num âmbito mais científico e académico o porquê do funcionamento de certas realidades. “Foi através da Ana Perdigão que acabei por ganhar gosto e me interessar por estudar todas as matérias”, salienta.
Todas as recolhas feitas por Telma não são personalizadas pois transmite-as ao grupo para que possam reproduzir devidamente as memórias e tradições de outrora. O ciclo do linho é o mais recente caso de estudo de Telma, incutido pelas várias sinergias e referências. O terreno e as pessoas são os pontos de partida para obter registos e fotografias de antigamente.
“Este setor é exigente, temos de ser muito autodidatas e criativos para contornar uma série de fatores, logo estudar é preliminar”, afirma Telma.
A par desta função com o Grupo Folclórico e Cultural “As lavradeiras do Vale do Sousa” é também Presidente da Assembleia de Freguesia de Meinedo desde o ano transato. No entanto, as funções apresentam ligações emocionais totalmente distintas.
Telma manteve sempre uma participação ativa no projeto apresentado pelo atual Presidente da Junta, Nuno Ferreira, mas nunca ambicionou ficar em qualquer tipo de cargo. “Fui permanecendo nos programas de back office”, reforça. Mas, no ano passado, foi surpreendida com o convite para integrar o número quatro na lista e, levando em consideração, as propostas e o grupo de trabalho, Telma decidiu aceitar.
Assim sendo, nas últimas eleições foi eleita Presidente da Assembleia de Freguesia de Meinedo. E, devido à sua forma de estar, entendeu que devia apresentar a sua demissão no Grupo Folclórico e Cultural antes da tomada de posse. Esta deve-se ao facto de defender que se deve afastar o associativismo dos contornos mais políticos, existindo uma isenção máxima. Contudo, Telma apenas se demitiu do cargo de Presidente, tendo continuado como elemento.

A direção prosseguiu o trabalho, contudo houve uma dificuldade avultada em se constituir uma nova diretoria e após várias conversas de exposição das situações a todos os associados, a cidadã foi motivada a voltar. “As funções enquanto Presidente da Assembleia não se esbarram com as funções que exerço no Grupo Folclórico e Cultural “As lavradeiras do Vale do Sousa”, afirma Telma que se encontrava plenamente tranquila pois o seu historial falava por si.
Questionada sobre onde se viria daqui a 10 anos, a nível cultural, Telma quer olhar para trás e perceber que fez às gerações mais novas o que outrora fizeram com ela. Deste modo, que tenha conseguido transmitir e incutir o gosto e, no futuro, que alguém dê continuidade ao grupo que vigora desde 1982. A nível profissional não sabe onde estará, devido a ser uma pessoa imprevisível e destemida.
Exemplo destas características intrínsecas de Telma é o facto de ter sido sócia gerente de um projeto empresarial e ao fim de 10 anos entendeu que estava na hora de abandonar. Trocou um contexto sólido e estável pelo incerto, reformulou tudo e, neste momento, encontra-se em recomeços.
Ligada à família, que considera sinônimo de amor e música, aos amigos, leal, acessível e livre são algumas das suas particularidades. Não tem como objetivo ser mãe, no entanto tem a sua vida preenchida e agitada pelos primos mais novos, a Inês, o David e o Santiago, pela sua sobrinha Beatriz e pela sua afilhada Mathilde. Em jeito de finalização, Telma afirma ser bastante “crítica e quebra os padrões todos”. Ciclos mecanizados não combinam com a forma de ser e estar de Telma, a cidadã livre desta edição.

Um exemplo de Mulher.
Um exemplo de Cidadania.
Um exemplo d’Alma Magnetense.
Parabéns pelo teu brilhante e exemplar percurso !!!!