FILIPA MARIA GONÇALVES PINTO
Professora, cidadã ativista, dirigente política, deputada, são algumas das facetas de Filipa Maria Gonçalves Pinto. É natural de Sobrado, concelho de Valongo, e reside em Lousada há 27 anos, para onde veio viver quando ficou colocada na Escola Secundária de Lousada, como professora e, conforme faz questão de sublinhar, “de onde nunca mais quis sair”.
A política é um dos palcos preferidos de Filipa Pinto, que tem-se notabilizado recentemente com intervenções na Assembleia da República, onde é deputada pelo seu partido, O Livre. Mas foi na docência que primeiramente se destacou. Exerce profissão no ensino secundário e explica assim o surgimento dessa vocação: “Decidi ser professora quando ajudei uma amiga a preparar-se para o exame de inglês de equivalência à frequência do ensino secundário e ela passou! Eu tinha 17 anos e andava ainda no 11º ano”.
Quando aquela sua amiga tirou positiva no exame, “por mérito dela, claro, mas com alguma ajuda minha, eu percebi que tinha vocação para ensinar e que gostava de ver o sucesso nos outros”, exclama.
Tirou o curso de Ensino de Português-Inglês na Universidade do Minho. Depois, deu aulas em algumas escolas: fez o estágio em Caldas das Taipas, a seguir foi para Lisboa durante três anos e deu aulas em S. João da Talha e Loures. Quando a família regressou ao Porto, ficou em Lousada, onde permanece 27 anos depois.

Um dos seus fascínios na docência vem da “possibilidade de trabalhar com jovens. É uma forma de não envelhecermos, também. Ao longo destes anos, depois de os ver sair da escola, continuei em contacto com muitos deles e a acompanhar o seu percurso de vida. Hoje são adultos e alguns já têm filhos que, inclusive, já passaram pela minha sala de aula, anos depois”, explica Filipa Pinto.
Considera que “os jovens de hoje têm enormes desafios pela frente: a crise climática, que trará enormes desafios no futuro e colocará em risco a própria humanidade, se nada for feito, é um deles, e penso que isso preocupa a maioria dos jovens”.
Por outro lado, salienta também “a evolução e os desafios tecnológicos que mudarão o mundo do trabalho, desafios para os quais os nossos jovens terão de estar preparados. Para além disso, considero que os jovens de hoje têm outros problemas que requerem conhecimento de modo a protegerem-se, como, por exemplo, a forma como lidam com as redes sociais e o impacto que elas têm nas suas vidas. São jovens que muitas vezes têm dificuldades de socialização, por terem vivido uma pandemia nos seus anos formativos e também porque convivem sobretudo através de um ecrã, em redes sociais”.
Contudo, a professora entende que “esta geração é, de um modo geral, mais informada e com mais formação académica que as gerações anteriores”.
ESPÍRITO INCONFORMADO
Estas perspetivas e formas de ver a vida e a sociedade conferem a Filipa Pinto um interesse marcadamente político. “Desde sempre fui muito interessada pelas questões sociais e políticas. À medida que o tempo foi avançando, a questão ecológica começou a preocupar-me também, por uma preocupação genuína com o futuro das próximas gerações e com os jovens”, esclarece. E acrescenta que sempre teve “um espírito inconformado e esse inconformismo levou-me a enveredar pela política, onde achei que podia fazer a diferença”.
Em termos ideológicos, considera-se progressista: “sou defensora de uma sociedade onde todas as pessoas sejam respeitadas e possam ser quem são, sem discriminações”. Deseja “viver num mundo onde ninguém se sinta rejeitado, seja porque é de outra classe social (sim, as classes sociais existem e geram injustiça e desigualdade) seja porque é de outra etnia, de outra nacionalidade, ou religião, seja por questões de orientação sexual, género, ou identidade de género”. E salienta que “todas as pessoas devem poder viver onde querem e ter condições para ter uma vida plena e feliz”.

A adesão ao partido que defende aconteceu “porque me preocupavam as questões ambientais e o LIVRE é um partido ecologista, com um programa virado para a transição energética, a par de mais justiça social”. Por outro lado, “em 2019 surgiu em Portugal um novo partido político, reacionário e populista de extrema-direita, que vinha colocar em causa tudo aquilo em que acredito. Temi e temo pelos mais novos e pelas mudanças sociais e políticas que estamos a viver e que ameaçam a democracia, a segurança e a liberdade”. Percebeu que “não podia ficar no sofá a ver as coisas acontecer e dei conta de que a minha voz era ouvida e que, no LIVRE, poderia fazer a diferença na luta por uma vida melhor para os que mais precisam”.
PREOCUPAÇÕES LOCAIS E REGIONAIS
É deputada pelo Círculo do Porto, em substituição, na Assembleia da República e a sua primeira intervenção foi há dias na sessão de aprovação do Orçamento de Estado para 2025. Sobre isso descreve que “preocupam-me as questões regionais, para além das nacionais. Numa das minhas primeiras intervenções questionei o ministro sobre a questão dos transportes e da ferrovia para o Vale do Sousa, que há muito está prometida e nunca mais está concretizada. Senti que estava a falar pelos que votaram em nós, mas também por aqueles que não o fizeram, mas poderão perceber que estamos a lutar por todos”.
Recorda que também já fez intervenções e propostas para a Educação, que é outra matéria que muito a preocupa. Além disso, “estou em várias comissões: como a do Poder Local e Coesão Territorial; Comunicação, Cultura, Juventude e Desporto; Educação e Ciência; Agricultura e Pescas. Somos só quatro deputados, queremos estar em todas as comissões e o trabalho é dividido, mas muito intenso”.
Pensa continuar a trabalhar com o LIVRE no futuro, “por uma sociedade mais justa, quer como dirigente, deputada ou outros cargos que possa vir a ter. É o partido onde sinto que poderei fazer mais e melhor pelo meu país, porque rege-se por ideais com os quais me identifico: Liberdade, Esquerda, Europa e Ecologia”.
Apesar do protagonismo crescente que a atividade política vai tendo na sua vida, não pensa deixar o ensino. “Sou professora por opção e paixão. Mas, a par disso, tenho uma enorme vontade de trabalhar diretamente no centro da decisão política, como estou a fazer agora, apresentando propostas que possam melhorar e fazer a diferença na vida das pessoas”, afirma.
Assim se resume muito sucintamente a atividade de uma cidadã que se define como “uma pessoa simples, que gosta de coisas simples, mas também obstinada nalgumas matérias. Tenho a tendência a não deixar passar em claro situações erradas e injustiças. Podia deixar passar e ignorar certas realidades, mas algo dentro de mim obriga-me a atuar. Seja no trabalho, na sociedade ou na política”. Para Filipa, “combater a intolerância, o discurso de ódio, a discriminação, a pobreza, as desigualdades, o avanço e a ameaça da extrema-direita populista e reacionária, são objetivos que me movem”.
Por tudo isso tem o “sonho e deixar um mundo melhor para as futuras gerações. É muito ambicioso, eu sei, podem até achar pretensioso da minha parte, mas acreditem que tenho força suficiente para fazer das utopias sonhos concretizados”.

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