Quem hoje ainda consegue situar Lustosa num dos mapas que têm o cuidado de a incluir depara-se com dois factos incontornáveis: é a maior freguesia do concelho de Lousada e faz fronteira com quatro outros concelhos.
Uma freguesia de posição privilegiada. Uma freguesia onde ecoam promessas de desenvolvimento.
Uma freguesia onde as promessas morrem nos discursos.
Lustosa é o exemplo perfeito de que tamanho não é sinónimo de desenvolvimento, nem promessas são sinónimo de mudança. Lustosa parou no tempo.
O retrato atual de Lustosa está longe de ser digno de uma galeria. Recordo-me de, em criança, percorrer a pé a Nacional 106 rumo à escola, obrigado a descer do passeio para a estrada, porque as ervas das bermas reclamavam o espaço limpo apenas uma vez por ano.
Ao longo desse caminho, cruzava-me com terrenos abandonados e casas em ruína, devoradas pela vegetação que me empurrava para fora do passeio.
Hoje, já adulto, o cenário pouco mudou. Troquei os passos por rodas — e os passos por solavancos.
A cada buraco que o carro encontra, sinto a essência de Lustosa: remendada para votos, esquecida quando já não é precisa.
Talvez, quando me casar, os tapem.
Há, no entanto, uma verdade que ninguém pode negar: Lustosa está perto de tudo.
Os mais idosos têm o centro de dia em Raimonda.
Os jovens, se quiserem praticar desporto, vão a Paços de Ferreira.
Se quiserem conviver com os amigos, Lustosa não serve — mas alternativas não faltam.
Pelo menos, se quiserem ir a um parque, há o famoso parque de Lustosa.
Rasteira para os menos atentos: o parque continua apenas promessa.
Uma promessa mais velha do que eu e que, a este ritmo, só os meus filhos verão sair do papel — se a sorte quiser.
Como compreender que este ano freguesias como Meixomil, Seroa e Raimonda tenham sido elevadas a vila, enquanto Lustosa, com mais população, área e potencial, continua sem conseguir chamar alguém para colocar iluminação numa rua?
Porque é que Lustosa insiste em ser apenas uma placa indicativa de onde ir, em vez de um lugar onde se vive e se faz?
É fácil apontar dedos.
Lousada é um concelho politicamente estagnado, entregue há 36 anos ao poder socialista, que fecha os olhos às freguesias onde o povo ousou escolher uma letra a mais.
Num patamar onde devia imperar a cooperação, instalou-se uma lógica de vingança e bloqueio mútuo.
Projetos ficam por aprovar, pedidos são adiados e o desenvolvimento é substituído por silêncio.
Criou-se uma freguesia esquecida pelo município e desunida por dentro, onde as culpas recaem na suposta incompetência da junta que, embora tenha feito pouco, também pouco consegue fazer quando se vê abandonada por quem devia estar ao lado do crescimento, e não refém do ego.
Mas por que razão atiramos pedras quando recusamos olhar-nos ao espelho?
Como é que nos resignámos durante tantos anos à mediocridade?
As pessoas deixaram de acreditar que é possível mudar.
O “é o que há”, o “podia ser pior” e o “não vale a pena chatear-me” tomaram conta da minha terra.
A mediocridade e o comodismo enraizaram-se como um regime silencioso, especialmente entre os mais velhos.
Temo que, um dia, esse pensamento sangre para os mais jovens.
Jovens, a quem nunca deram voz, espaço ou oportunidade de ficar.
Não têm de sair. Têm de se juntar.
Precisamos de união e participação ativa, nas associações, na política e na sociedade civil.
Só nós podemos inverter o rumo.
A mudança nunca virá de cima — virá sempre de quem se cansa do “mais do mesmo”, de quem é empurrado a sair.
Virá dos nossos jovens.
Enquanto aceitarmos pouco, Lustosa continuará a receber pouco.
O futuro de Lustosa não depende de quem tem o poder, mas de quem decidir levantar-se contra ele.
PEDRO PEREIRA
- Vice-presidente da JSD Lousada













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