por | 20 Out, 2025 | Sociedade

FAZER O LUTO POR ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO: PARA MUITOS É COMO PERDER UM FAMILIAR

Há quatro cemitérios de animais em Portugal. Nenhum é nesta região. Estão localizados em Lisboa, Castelo Branco, Nogueira da Regedoura (Santa Maria da Feira) e Lagos. Estes espaços destinam-se ao enterro e cremação de animais de estimação, oferecendo aos donos um local para dar uma despedida digna aos seus companheiros. Sobre a despedida, a saudade e, enfim, o luto, trata-se nesta reportagem d’O Louzadense. Uma das questões que levantamos é precisamente se Lousada devia ter um cemitério para animais.

Um tema que tem vindo a ocupar debates e análises é a possibilidade de haver uma licença de trabalho para quem perde um animal de estimação. Tal temática merece de Teresa Cândido, da Associação Lousada Animal, a seguinte consideração: “Perder um animal de estimação é doloroso”, mas não considera fundamental que, nessa situação, seja necessário ter licença de trabalho, justificando que “cada pessoa gere a sua perda de forma muito pessoal, pelo que, para uns, poderá ser uma dor que só o próprio entende, mas que, para outros, a perda, apesar de triste, não deixa de ser uma lei da vida que se tem de assumir para que se torne possível seguir em frente”.

Opinião diferente tem Rute Cunha, conhecida ativista lousadense da causa animal: “Nalguns países, felizmente, já se debate essa possibilidade. A dor da perda de um animal de estimação, não raras vezes, para pessoas que amam e cuidam verdadeiramente dos seus patudos, não é tão diferente da sentida quando se perde alguém. Pode não ser exatamente proporcional, mas não deixa de doer. Por exemplo, em casos em que temos de optar pela eutanásia. Só quem já passou por isso sabe a confusão mental, a angústia diária, a dificuldade em acreditar e aceitar que era o único cenário possível — e que não deixa de ser um gesto de amor. Uma licença, por mais pequena que seja, daria tempo para digerir, pois o impacto emocional é muito significativo”.

De igual modo, outra defensora dos direitos dos animais, Sara Sanhudo, afirma ser “a favor das licenças por perda dos animais de estimação. No meu caso, e cada vez mais isto se tem vindo a verificar, os meus animais são família. São a minha companhia diária, a minha fonte de vida, o amor mais puro e genuíno que conheci”.

Há casos em que as pessoas em luto pelo falecimento de animais de estimação precisaram de acompanhamento psicológico para superar a perda. A dirigente associativa Teresa Cândido diz acerca disso que “a personalidade de cada um é sempre distinta, assim como a sensibilidade, e isso provoca diferentes consequências. O importante é sempre poder respeitar e dar o espaço que cada um necessita para ultrapassar qualquer perda”.
Diz ainda Sara Sanhudo que já conheceu “pessoas que entraram em depressão profunda e necessitaram de acompanhamento psicológico”.
Quanto a este tema, Rute Cunha refere que “não conhece alguém que tenha passado por isso”, mas revela que “aquando da perda da minha gata, senti que precisava mesmo de ajuda profissional. Encontrei e desenvolvi algumas rotinas que me têm ajudado a não recorrer a ajuda especializada, mas se voltar a achar que preciso, não hesitarei. A saúde mental deve ser priorizada”.


ADOTAR NOVAMENTE OU NÃO?

Depois da perda — por acidente, doença ou simplesmente por velhice —, os tutores ou donos costumam sentir “um vazio”. A ausência de um ser que fazia parte do quotidiano da casa é algo que marca muitas pessoas, que reagem de várias formas, nomeadamente procurando um novo animal.
Na opinião de Teresa Cândido, “uma nova adoção nunca ‘abafa’ a dor de uma perda, mas a novidade de ter um novo membro em casa desvia sempre a atenção para tudo o que faz. Adotar após uma perda não é ser-se infiel ou insensível para com quem partiu, mas, acima de tudo, caracteriza-se por uma bondade extrema em poder estender a mão a mais uma patinha, seja ela qual for”.

No caso de Rute Cunha: “Em cinco anos perdi os meus quatro gatos e comprometi-me a canalizar o que gastava com eles para ajudar associações, pessoas, e apoiar adoções de animais errantes, mas não adotar a curto ou médio prazo. Foi muito doloroso e pode parecer egoísmo, mas sei que me será muito difícil voltar a passar pelo mesmo — sentir de novo a impotência, a frustração de não ter conseguido fazer mais”. Acrescenta que “tê-los perdido para a doença, apesar de todos os cuidados, de todo o investimento e de todo o amor, foi (e continua a ser) algo muito difícil de aceitar”.
No caso de Sara Sanhudo, a adoção após uma perda é assim comentada: “Conheço pessoas que me são próximas e que passaram recentemente por uma situação de perda, e consigo perceber que há uma fase de negação. Sentem que estão a substituir o animal que perderam e dizem não querer voltar a passar pelo mesmo. Em alguns casos, a situação poderá reverter-se, mas acredito que não seja algo imediato”.

CRIAÇÃO DE UM CEMITÉRIO

Sobre a eventualidade de se criar um cemitério para animais, Teresa Cândido declara que seria “importante para muitos. No entanto, e tendo esse de ser um espaço organizado e acompanhado, obviamente teria custos, o que não permitiria o acesso a todos. Havendo possibilidade financeira, hoje em dia é possível mandar cremar autonomamente o corpo do animal falecido e poder guardar as suas cinzas”.
Outra lousadense que se destaca na ajuda animal é Rute Cunha. A criação de um cemitério é uma medida que defende: “Muitas pessoas não têm disponibilidade financeira para optar pela cremação, nem espaço onde possam depositar os restos mortais do seu patudo, assim, haver cemitérios dignifica a despedida e conforta”.
Quanto a Sara Sanhudo, esta ativista diz ser “a favor da criação de um cemitério para animais, assim como de abrigos temporários gratuitos, uma vez que nem todas as associações têm espaço físico para os poder acolher ou resgatar até arranjarem adotante. Assim como uma vida digna, todo e qualquer animal merece um fim digno”.

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