Empresas lousadenses sofrem efeitos da pandemia

A pandemia que alastrou pelo mundo e também em Portugal está a provocar graves danos na economia. Muitas empresas fecharam portas ou viram reduzida a sua atividade. As empresas lousadenses não escaparam às consequências deste problema de saúde pública. O Louzadense falou com os proprietários de duas empresas diferentes: uma agência de viagens e um salão de cabeleireiro.

A Penatravel dedica-se essencialmente às viagens turísticas e transportes. Tito Brandão, proprietário, mostra-se pessimista em relação ao recomeço da atividade. Lembra que o turismo foi o primeiro setor a parar e será certamente o último a recomeçar.

No início da pandemia, a Penatravel viu todos os seus serviços serem cancelados. Nos últimos, tempos, tem realizado, contudo, alguns serviços a nível internacional, relacionados com a deslocação de passageiros ao estrangeiro para trabalharem. “Este foi um fator positivo, o qual veio suavizar um pouco o problema que o surto epidémico, Covid –19, causou”, considera. Acrescenta que a Penatravel se diferencia por oferecer a estes trabalhadores a possibilidade de deslocação para os seus locais de trabalho extrafronteiriços.

Apesar de tudo, a empresa enfrenta dificuldades financeiras: “A escassez de procura dos serviços faz com que estejamos a trabalhar a 50%, sofrendo assim da falta de capital. Mesmo assim, conseguimos honrar os nossos compromissos, pelo menos até ao momento”, afirma.

Medidas para ajudar as empresas ineficazes

Este empresário queixa-se da ineficácia das medidas criadas para ajudar as empresas, “uma vez que as ajudas disponibilizadas ainda não chegaram e, certamente, poucas serão as empresas beneficiadas face aos requisitos exigidos”, lamenta. Acrescenta que o recurso à banca consiste num adiamento do problema: “Os únicos beneficiários são a banca, que é financiada com spreads de 0.75 e vendem capital a 1.50”.

Tito Brandão

Na opinião de Tito Brandão, “nenhuma empresa deveria viver de apoios subsidiários, porque esta situação faz com que as empresas fiquem dependentes de terceiros”. E avança com algumas soluções: “Apenas queremos condições de trabalho, nomeadamente a inexistência de concorrência desleal por parte das entidades públicas, câmaras e juntas de freguesia, diminuição dos impostos cobrados ao nosso setor, como portagens, combustíveis, seguros, compra de viaturas novas…”

“Vá para fora cá dentro” para resolver problema do turismo

No futuro, espera poder contar com o turismo dentro de portas, “para melhorar o setor na nossa região”. Espera também que as diversas entidades, como câmaras municipais, juntas de freguesia, associações e empresas, bem como a população contratem as empresas locais.
Tito Brandão está já a preparar-se para o pós-confinamento e aponta para a segunda quinzena de maio, altura em que serão criadas “medidas estruturais que contribuam para uma retoma mais rápida. Identificar as melhores práticas comerciais e de gestão, tendo em vista a sustentabilidade da empresa, e conferindo maior liquidez e margem operacional no futuro. Futuro esse que passa por trabalhar na próxima época de 2021, uma vez que esta já se demonstra uma época negra”, diz.

Para fazer face à crise, as empresas reinventam-se e a Penatravel está já a desenvolver um projeto na modalidade de alojamento local, a fim de combater a escassez de trabalho e suavizar as dificuldades sentidas.

Cabeleireiros tiveram de fechar portas

Fernanda Almeida

Os cabeleireiros foram dos que mais sofreram com a pandemia, pois viram a sua atividade parar completamente, pelo fecho de portas obrigatório. Fernanda Almeida, proprietária do Salão Nanny, fala do início da pandemia em Lousada, que caracteriza como “assustador”. Passou a trabalhar por marcação, para conseguir oferecer condições de segurança aos seus clientes e funcionárias.

As coisas complicaram-se quando teve de fechar, a 21 de março, na sequência do estado de emergência decretado. “Já trabalho há 26 anos e, pela primeira vez, tive de deixar o meu espaço, onde eu me sentia bem a tratar dos meus e minhas clientes. Fiquei muito triste, não foi fácil”, refere.
Fernanda Almeida recordará por muito tempo a data de 21 de março, pois é o dia de aniversário do filho. Um dia que tinha tudo para ser de felicidade, mas que acabou por também ser invadido pela tristeza de ter de interromper a sua atividade profissional. “Foi um dia de muitas emoções. Eu não consigo explicar o que eu senti”, afirma. Quando visita o seu espaço vazio, sem clientes, entristece-se por “não poder ajudar à autoestima das pessoas”.

Os clientes ligam-lhe a lamentar as brancas no cabelo, mas também para matar saudades: “Dói mesmo não poder dar aquele abraço, aquele conforto. Eu sou muito dada ao meu cliente. Gosto de senti-lo, fazê-lo feliz. Nas duas semanas seguintes ao encerramento, sempre que desligava o telefone, as lágrimas caíam-me pela cara abaixo”, conta.

Relativamente à funcionária, esta empresária já acautelou a situação, para amenizar as consequências financeiras desta paragem. Enquanto empresária, seguiu o conselho da contabilista e pediu também apoio para si, apesar de ainda não ter obtido resposta. Queixa-se, por isso, da falta de respostas: “Nós não recebemos ajudas de nada. Já lá vai um mês, temos a mesmas despesas e ajudas nada. É muito complicado”, diz.

Recomeço da atividade muito condicionado

O recomeço da atividade também não se adivinha fácil, pelas medidas de segurança que terá de implementar e que terão custos: “Assusta-me um bocado. Temos de estar preparados, pois vem aí uma crise complicada”, alerta. Apesar de não necessitar de fazer obras para se adaptar à nova situação, vê alguns constrangimentos: “Uma pessoa não está habituada em usar máscaras e luvas e temos que incutir isso também aos clientes. Vou ter desinfetante à entrada do salão”, diz. Procedimentos habituais no passado vão agora ter de ser intensificados, como refere Fernanda: “Uma coisa que já fazíamos era desinfetar sempre o espaço, mas agora teremos de fazer a higienização do salão sempre que servimos uma cliente, o que dantes não era necessário”, explica.

Fernanda está ansiosa por reabrir o seu espaço e poder contar com as palavras amigas das clientes: “Não vou poder ver o sorriso das minhas clientes devido à máscara, mas podemos dar uma palavra amiga e fazer aquilo de que mais gostamos”, diz.

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