Opinião de Marco Sousa – Ellus Saúde
Em todo lado notamos um clima “historicamente único” no ar e não é somente uma impressão psicológica, é REAL, pois afeta o nosso ritmo de contato, corpo e pensamento.
Cada qual está a sentir na pele os efeitos deste tempo “estranho”, a adaptação a um novo estilo de vida e um novo modo de relacionar-se consigo e com os outros.
Impossível negar, porque não só sentimos na nossa carne e espírito, mas também observamos o mesmo a acontecer com os nossos semelhantes, próximos ou distantes.
Estes são tempos que nos aplacam com uma realidade desconfortável mas nunca antes tão necessária de encarar, isto é, aceitar que a “perda do controlo” faz parte do dia-a-dia e que nos guia automaticamente para um lugar indeclinável, como uma força magnética que nos puxa para um vazio opressor: “O LUGAR DA VULNERABILIDADE.”
Não podemos subestimar o efeito deste estado emocional e encarar, olhos-nos-olhos, esse lugar tão humano e tão pouco estudado. Aprendemos a fugir dele e agora está-nos cobrar, falando: “Onde estiveste antes?” “Não sabias que, mais cedo ou mais tarde, terias que te encontrar comigo?!”
A Vulnerabilidade é tida como estado emocional de todo evitável, pois procuramos criar camadas de endurecimento para que esse “íntimo sentimento” não seja sequer tocado, nem com uma leve pena. À custa de uma sociedade adoentada, ser-se vulnerável trouxe-nos bastantes custos, onde mensagens tóxicas nos encheram de pavor quando permitimos abrir o coração à vulnerabilidade.
Toda esta onda implacável de insegurança coletiva, teve o poder em nos obrigar a saber estar neste lugar e, sobretudo, aprender a criar estratégias para lidar com a mesma.
Por isso, fugir a esse remoinho absorvente emocional, só nos cansa ainda mais porque, o poder magnético de “sentir-me vulnerável”, succiona toda e qualquer tentativa vã que ajude a desprender-nos desta realidade tão sagradamente humana.
Em termos psicológicos, muitos estão em fase de negação desta realidade psicológica e lutam para que tal não exista em si mesma.
Mesmo abandonando a luta e optando pela resignação, sabemos garantidamente que caímos num pântano emocional que espreme a vontade em agir e, inclusive, a vontade em viver.
Ambas as polaridades com comportamentos aparentemente opostos, são REAÇÕES habituais do nosso cérebro reptiliano e suas programações inconscientes.
A Vulnerabilidade ativa traumas por resolver.
Quando passamos a ser possuídos por esta faceta “sombria”, sem consciência da mesma, estamos a um passo de reagir como animais famintos ou cordeiros mansos, ambos desconectados consigo mesmos.
Aceitar a vulnerabilidade é reconhecer que tal não é mau, nem vergonhoso, sinónimo de fraqueza, mariquice ou outro estilo descritivo que se baseia somente em ignorância pela nossa mais profunda dignidade humana.
Sabendo que esta realidade nos está a magoar em locais dentro de nós que jamais tínhamos noção que existiam, “estar presente para a vulnerabilidade”, é sinónimo de dignidade, amor-próprio e coragem.
Nesse momento de entrega à dor (não confundir com resignar), necessidades vitais pedem para ser reveladas e afirmadas em voz alta para as ouvirmos, ou escritas a ouro num papel de seda.
“Quando me sinto vulnerável, que necessidade emocional sinto em falta?”
Toda e qualquer forma de vulnerabilidade é um grito de uma necessidade emocional não expressa, como: segurança, carinho, confiança, amor incondicional, entrega, apoio, amizade, sensualidade, movimento, conexão, etc;
Quer esteja sozinha ou acompanhada, a vulnerabilidade não espera pela nossa autorização em surgir. Surge, naturalmente, inesperadamente…
E nesse momento, perguntamos nós próprios:
Que necessidade emocional a minha vulnerabilidade está a pedir? Depois de a reconheceres, esse vazio pode ganhar uma voz e uma correspondência. Nesse momento, a vulnerabilidade transforma-se num lugar de Força, Alivio e Entrega, abrindo espaço para que a MAGIA nos encontre.












Comentários