Alexandra Guerra cresceu e viveu em Lousada até aos 16 anos. De Lousada recorda os tempos da Revolução dos Cravos e como o concelho se desenvolveu em democracia. Saiu aos 16 anos para estudar no Porto e, depois de conhecer a Dinamarca através de um programa Erasmus, decidiu fixar-se por lá.
Não nasceu em Lousada, mas, quando tinha cerca de cinco meses, os seus pais decidiram mudar-se para o concelho. Cresceu na vila, mas, aos 16 anos, saiu para tirar uma licenciatura em Engenharia Alimentar, na Universidade Católica.
No entanto, recorda-se do concelho em plena Revolução dos Cravos. “O meu pai foi apontado como o primeiro Presidente da Câmara, logo na altura do 25 de abril de 1974. Lembro-me de os militares virem e estarem em Lousada, da Revolução dos Cravos e de coisas que me marcaram muito. Ver como as pessoas de Lousada acabaram por evoluir, de sair do regime e libertarem-se das tradições”, refere Alexandra Guerra.
“Uma coisa que recordo muito é quando estava na primeira classe e era uma escola só de meninas e uma só de meninos. Lembro-me quando tínhamos de cantar o Hino Nacional quando entrávamos e, passado alguns meses, tínhamos de cantar ‘uma gaivota voava, voava’. Lembro-me bem”, recorda.
A cientista acredita que Lousada faz parte de si: “o Sr. dos Aflitos, a Igreja, fazer a comunhão solene e participar nas festas lousadenses várias vezes. Uma vez tive a honra de ir no burrito. Para mim Lousada marca-me muito, no fundo tem muito a ver com aquilo que somos”.
No último ano de curso, decidiu fazer Erasmus e acabou por ficar pela Dinamarca. “Foi um país que me interessou, vi que era um país em que a parte científica era importante, o conhecimento era importante, a justiça social era importante e vim para ficar”, conta.
“O que me fez voltar foi conhecer melhor a Dinamarca e ter uma bolsa onde poderia continuar a desenvolver o trabalho que tinha feito durante o estágio, durante cerca de dois anos.”
“Quando se vai fazer Erasmus é uma festa. Uma pessoa sai e encontra-se com pessoas na mesma situação, mas nunca acaba mesmo por conhecer a parte dinamarquesa. Acho que da segunda vez é que encontrei mesmo o bom e o mau. O que me fez voltar foi conhecer melhor a Dinamarca e ter uma bolsa onde poderia continuar a desenvolver o trabalho que tinha feito durante o estágio, durante cerca de dois anos. Não estava bem interessada numa carreira académica, mas era uma boa possibilidade”, explica.
Embora não estivesse nos seus planos a realização de um doutoramento, acabou mesmo por terminar esse nível na Dinamarca. “Sou uma pessoa muito prática. Gosto do conhecimento e de aplicar o conhecimento que tenho. Nunca fui uma pessoa muito teórica, nunca quis fazer um doutoramento. O facto é que fui financiada por uma das maiores companhias de lacticínios na Escandinávia e a nível mundial”, refere.
Os filhos, embora conheçam pouco Lousada, conhecem as suas raízes. “Já foram a Lousada, mostrei-lhes a casa onde nasci, mas eles não se relacionam muito. Talvez mais com Amarante, porque é onde temos uma casa de verão e onde vamos passar algum tempo”, afirma a cientista.
A adaptação ao país
Durante os primeiros meses, Alexandra comunicava através da língua inglesa. “Comecei a mudar de língua num período em que, quando acabei o doutoramento, essa companhia ofereceu-me trabalho e fui trabalhar para uma zona industrializada. Lá ninguém falava comigo em inglês, veio daí. Tive de começar a ir a jogos de andebol, porque senão estava sozinha a falar numa casa. É completamente diferente a atitude de ser estudante e viver numa cidade e viver no meio do campo”, recorda.
“Foi difícil para mim aprender o dinamarquês. Nesta altura falo dinamarquês na minha família e no trabalho, mas o que utilizo mais é o inglês.”
“Foi difícil para mim aprender o dinamarquês. Sou disléxica, ou seja, as línguas nunca foi um forte meu, mas vai-se tentando. Nesta altura falo dinamarquês na minha família e no trabalho, mas o que utilizo mais é o inglês”, explica.
Tendo em conta a comemoração do Dia da Mulher, no dia oito de março, Alexandra acredita que a Dinamarca “luta muito pela igualdade”.
“O facto de a mulher ter filhos, a mulher ficaria em casa. A licença de maternidade é de um ano, em que quatro meses é o salário inteiro e depois o próximo seria um salário menor. O que fizeram agora foi obrigar o homem a ter quatro ou cinco meses de licença. Quando tive a minha filha, o meu marido ficou cerca de três meses antes de ela ir para o infantário. Na altura, isso não era muito aceitável. Agora, o que não é aceitável é o homem não ficar com os filhos também”, relata.
O que, na sua opinião, não impede de continuar a existir desigualdade: “mas não me sinto da mesma forma que sentia em Portugal, acho que há igualdade de oportunidades. Ainda há caminhos a percorrer. Aqui tenta-se criar um balanço, mas vê-se que o homem ainda ganha mais e é mais fácil um homem chegar a advogado”.
Relativamente à covid-19, alerta que “teremos que aprender a viver com ele, tal como se vive com a gripe e vai haver vacina. Agora não há, mas foi um passo gigante ao desenvolvê-las. Acho que daqui por seis meses vai haver muitas vacinas e solução tecnológica para isto”.