Rogério de Castro: “Senhor Viticultura”

Das maiores figuras de investigação e conhecimento das vinhas!

Oriundo de uma família numerosa oriunda de Gondomar, Rogério de Castro é um dos  vultos máximos da nossa Viticultura. Muito se conseguia contar sobre este ilustre homem,  cheio de conhecimento e experiência, mas as palavras só nos servem até um certo ponto,  a partir daí o que realmente deve-se honrar fica aquém dos limites da linguagem.  

Um dos mais conceituados cientistas portugueses no estudo da Viticultura, deu os  primeiros passos na sua terra natal, Gondomar. Filho, neto e bisneto de agricultores de sucesso, pouco letrados, mas de espírito aberto. Rogério nunca quis fugir à regra de  família, nascido num berço de pessoas ligadas ao campo, desde cedo manifestou a sua  apetência pela área.  

O seu percurso escolar e profissional foi construído e cimentado por um caminho realizado passo a passo. Frequentou a escola primária, na sua cidade e, foi nessa altura  que surgiu um episódio marcante na vida de Rogério. Quando estava na 3º classe, à pergunta sobre o queria ser quando fosse grande, escreveu uma redação onde expressou a sua vontade em deixar de estudar e tornar-se, somente, agricultor. O professor preocupado, de imediato, fez questão em falar com o seu pai e contar-lhe o sucedido. “Creio que terá sido a única vez que o meu pai foi chamado à escola para o abordarem  sobre mim”, salienta.  

O resultado deu-se na apreensão dos pais e dos irmãos. No entanto, nessa produção escrita também afirmou que se estudasse iria para agrónomo.  

Sem se desviar da natureza lógica, o tempo foi passando e durante alguns anos vingou a sua convicção e tornou-se jovem agricultor. Sempre caracterizado pelo ato de rebeldia, depois do falecimento do seu pai, decidiu recomeçar a estudar, havendo feito 7 anos de  liceu em tempo relâmpago, diga-se, em apenas 3 anos.  

Já com ambos os progenitores falecidos, ingressou no ISA, Instituto Superior de  Agronomia, da Universidade de Lisboa, para a licenciatura em Engenharia Agronómica que ficou concluída em 1975. Desta forma, “corrigiu” as palavras proferidas no passado e singrou no curso para o qual tinha gosto e o desassossego dos seus familiares resultante  da sua rebeldia estava ultrapassado. 

Já na fase final do seu curso, disputou um concurso para Monitor de Viticultura no qual foi selecionado para o lugar. Rogério tinha uma “nova certeza” na sua vida,  independentemente de ir contra o sistema, “não ficarei em Lisboa, nem no ensino, nem  na universidade”.  

Aliciado por desafios e experiências, estava no estágio de licenciatura quando foi instigado para ir para Assistente. De convicções, negou diversas vezes, porém os seus colegas da licenciatura convenceram-no a aceitar. Entretanto em 1997 entrou para Assistente no ISA, Universidade de Lisboa, onde fez toda a carreira académica. Após 1 ano nesta função de Assistente e num ritmo de estudo alucinante, surge a área experimental. O ímpeto forte de experimentalista vem ao de cima e começou a envolver-se em projetos e “a semear ensaios por todo o país”.  

Enquanto exercia a atividade de Monitor, o bicho pelo ensino e pela investigação mostrou-se. A convite deu aulas em quase todas as Universidades em Portugal, nomeadamente na Universidade do Porto, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e na Universidade dos Açores.  

Corria o ano de 1984 quando concluiu o Doutoramento em Ciências Agrárias. Realizou uma parte na área da Viticultura e outra na da Fruticultura, concretamente, na dissertação optou pela “Condução de macieiras nas primeiras idades” e na prova complementar sobre  “Reconversão da Viticultura nas Vinhas Verdes.” 

Tornou-se Doutor e, desde então, sucederam-se variadíssimos projetos de investigação, como: INIC, JNICT, AGRO, PAMAF, entre outros.  

O mesmo foi professor convidado em muitas Universidades Portuguesas a realizar várias sessões científicas em Jornadas Europeias sobre Sistemas de Condução de Vinha. “Dependia de uma instituição, Universidade de Lisboa, mas muito cedo criei ligações  com outros organismos.”, sublinha Rogério de Castro.  

No decorrer do tempo, vieram os eventos internacionais, ora no âmbito de coordenador de projetos comunitários, ora através de participações das mais diversas naturezas. Foi o caso da OIV, Organização Internacional da Vinha e do Vinho, ASHS e, sem menor relevância, da GIESCO, Groupe international d’Experts en Systèmes vitivinicoles pour la  CoOpération.

Por conseguinte dos estágios, das visitas, dos congressos, teve a possibilidade de conhecer  inúmeros sítios desde os Estados Unidos até à Argentina, passando todos os países.  “Gosto muito de viajar e ainda hoje, apesar da menor frequência, percorro muitos  lugares”, declara Rogério que continua a ser consultor na Catalunha e no Brasil (Vale de  São Francisco).  

Atualmente, Rogério é orientador de três teses de doutoramento no ISA, e é também gerente da Quinta de Lourosa, Sociedade Agrícola onde produz os vinhos “Quinta de  Lourosa” e “Vinhas de Lourosa”. 

De salientar que, Rogério de Castro é o único Professor Catedrático em Portugal na área da Viticultura. Porém este não se ficou pelas Universidades e pelos centros de investigação. É no terreno que prefere trabalhar e criar as suas ideias, sendo que estas tem-se revelado fundamentais para o sucesso de muitas empresas e vinhos.  

No meio da vida agitada de Rogério, a quinta antiga na família há mais de 100 anos, descendente do seu tio avô, iria ser vendida. O mesmo não deixou e, desde esse momento, tem se envolvido juntamente com o seu agregado familiar na Quinta de Lourosa, em Sousela, longe da azáfama citadina.  

“É um projeto de família, uma sociedade de 4 personagens”, afirma Rogério.

Vinhas da Quinta de Lourosa

Todavia, a sua envolvência na mesma já vem desde criança sempre que participava nas visitas do seu pai à quinta. Com um legado fora de série, a quinta conhecida por ser tradicional, ter pouca área de vinha tornou-se completamente diferente de quando a adquiriu. A família revolucionou tudo, empenhou-se profundamente e, atualmente “a Quinta de Lourosa transformou-se um campo experimental para a comunidade e as vinhas são, cada vez mais, atualizadas”.  

Quando questionado sobre como descreveria a Quinta de Lourosa para alguém que, pela primeira vez, a estaria a visitar, o Professor não hesitou e prontamente respondeu ser “um espaço vivo, de construção contínua, de produção de conhecimento, de lazer e trabalho onde se encontram familiares, amigos e clientes”.  

Na Quinta de Lourosa, situada no coração da Rota dos Vinhos Verdes existe uma capela que remonta ao séc. XVII e uma casa com beiral do séc. XVIII. A Quinta de Lourosa renasceu nos últimos decénios, graças ao labor do Professor Rogério de Castro, no entanto, o seu apego à terra estende-se à família: mulher, filhos e netos participam no dia-a-dia da propriedade, fazendo dela uma verdadeira Casa. Coadjuvado pela filha, a enóloga Joana de Castro, Rogério de Castro faz da Quinta de Lourosa um lugar onde o respeito pela natureza e pela tradição se harmoniza com a inovação técnica e ousadas experiências vitivinícolas. Destino de eleição para amantes do vinho, a Quinta de Lourosa é também a escolha ideal para quem procura aprazíveis dias de repouso e descoberta. 

Atualmente com cerca de 27 hectares, a Quinta de Lourosa distingue-se pelo inovador  sistema de condução em Lys, que favorece a captação solar e a gestação de uvas sãs e maduras, culminando num vinho equilibrado, fresco e aromático, na melhor tradição dos  Vinhos Verdes. 

A par de um novo patamar de exigência científica, a Quinta de Lourosa afirma o absoluto primado da proteção ambiental: a plantação de vinhas fez-se no mais estrito respeito pela paisagem e pelo solo, foram recuperados ancestrais processos de rega e desenvolvidas técnicas mais racionais e ecológicas na aplicação de pesticidas. 

Na Quinta de Lourosa, a cultura da vinha é também uma cultura de valores. 

O caráter do solo, a têmpera do clima, o génio da cepa, o zelo do vinhateiro: destes quatro elementos nascem os vinhos da Quinta de Lourosa. Cada garrafa é o testemunho do feliz encontro. Para além dos tradicionais Vinhos Verdes, criados a partir de castas de  excelência, a Quinta de Lourosa produz espumantes tinto, branco e rosé, bem como vinhos regionais. 

Do Verde branco feito com as castas Loureiro, Arinto e Avesso, vinho jovem de aroma  frutado, ao premiado vinho regional Alvarinho, passando pelo espumante tinto – admirável acompanhamento para um cabrito assado –, os vinhos da Quinta de Lourosa são apreciados muito para lá das fronteiras nacionais. 

Vinhos da Quinta de Lourosa

O currículo do Professor Rogério de Castro é muito vasto, além de ser doutorado, Professor Catedrático, coordenador, é também autor e/ou coautor de mais de 200 artigos, científicos e vários livros. Consequentemente, foi homenageado e reconhecido por diversas organizações mundiais. Exemplos de prémios: o livro “Clima, Zonificación y  Tipicidad del Vino en Regiones Vitivinícolas Iberoamericanas” foi distinguido com o  “Prix l’OIV – 2013”, por ocasião do XXXVI Congresso da Vinha e do Vinho; a Associação Portuguesa de Horticultura homenageou-o, como Horticólogo de Honra e Técnico Hortícola de Honra.

Apesar das suas origens derivarem do território do Porto, Rogério reside em Lousada no qual nutre um carinho especial pela conhecida vila das camélias, considerando-se um cidadão lousadense. Curiosamente, o mesmo realiza uma analogia com a linguagem da Viticultura quando interrogado sobre Lousada. “Existem castas “introduzidas e  adaptadas” que vêm de outras paragens, mas que funcionam bem como “autóctones” e  passam a ser parte integrante do encepamento da região. Portanto, eu sou uma casta  introduzida e adaptada”, conclui.  

Ao longo de toda a entrevista, pode constatar-se a força que Rogério possui e transmite, a sua habilidade de decisão, capacidade de trabalho e espontaneidade no trato humano. Sem dúvida, dá uma lição de cultura sobre o mundo da Vitivinicultura em Portugal e no  Mundo.

Rogério de Castro

1 Comment

  1. Antonio de Queiród

    Aqui deixo o meu grande apreço e respeito pela carreira dedta grande personagem ligada ao mundo da agrenomia
    Tive o previlégio de o ter como amigo, companheiro e camarada do percurso militar.
    Os meus parabéns pela sua carreira profissional e de vida pessoal e familiar.
    Para ti Grande amigo prof.Dr. Rogério Castro vai o meu grande abraço do” Queira ” vom que carinhosamente me tratavas.
    Muita saúde e longs vida

    Reply

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