Preso pelo desespero, nadei contra a corrente para escapar da enorme e intimidante embarcação que me perseguia no meio do oceano com os seus escandalosos tripulantes, gritando palavras impercetíveis na minha direção.
A água gelada afastava-me cada vez mais da costa e o pânico tornava-se o meu guia, pois não encontrava uma possível fuga do navio que, teimosamente, continuava a seguir-me sem intenções de parar.
No início, pensei que simplesmente passaria por mim sem me aperceber da minha existência. No entanto, descobri estar enganado quando as sirenes soavam repetitivamente e a velocidade do navio me acompanhou. Não tão rápido, não tão lento, apenas o ritmo certo para não se desviar do meu lado.
Suportar o frio do mar tornava-se uma das minhas maiores torturas, para além do arrefecimento da minha anatomia, sentia-a arder; e as poucas energias que restavam dentro de mim, pareciam sair sem nenhuma intenção de recuperação.
O sabor salgado infiltrou-se na minha boca, secando os meus lábios. Tentar lambê-los foi uma tarefa tortuosa que criou pequenos cortes na minha língua.Os constantes espirros dificultavam a minha respiração, o meu nariz era um escravo da irritação que parecia sugar ainda mais água do que os meus pulmões. Estas sensações fizeram-me pontapear na água, abanava com fúria os pés, que me mantinham a flutuar e com as minhas mãos empurrava com mais força as ondas.
Rezei para que, de repente, o mar desaparecesse ou que a maré me levasse para uma ilha, mas os meus desejos não eram mais que os pedidos de um homem medroso e os homens medrosos não são ouvidos.
Mantive os meus olhos meio fechados, o sal fez das suas e sentia-se como ter pedras incrustadas neles. Tentei abri-los para procurar, através do amplo caminho azul, mas o seu fim parecia inexistente, não importava para onde eu olhasse.
As ideias destrutivas começaram a contaminar a minha cabeça e as lágrimas desconsoladas escorriam pela minha face. Estas imagens geraram uma raiva no meu interior, mas em vez de jogar a meu favor, drenou as minhas últimas forças e, por mais que me esforçasse, o meu corpo afundou-se nas profundezas do mar.
O barco parou ao meu lado, quando submergi. Os meus olhos abertos visualizaram algumas criaturas transfiguradas a descer dele. Inesperadamente, deixei sair uma amarga gargalhada, fazendo-me engolir ainda mais água.
Afinal soube a verdade; a morte não era um saco de ossos, nem trazia consigo uma foice. Na realidade, era um barco inteiro, encarregado de roubar estas almas infelizes. Entre aquelas águas frias, a morte abriu o inferno. Um lugar reservado para os desesperados, para os desafortunados, que ela, transformada num navio, esperava pacientemente.
Agora, eu me despeço de vós, e dou as boas-vindas ao meu fim.
Agora, aqui, estamos todos condenados e sem qualquer hipótese de sermos absolvidos pelos nossos pecados… porque o ser humano, inexplicavelmente, deseja ser despojado da sua humanidade.
Marggie Yulieth Estupinan Ararat
Ano/Turma: 11. ° ano – Escola Secundária Lousada

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