Na primeira década deste século, Lousada orgulhava-se de ser “o concelho mais jovem de Portugal”. O slogan foi perdendo força. Após os Censos de 2011, o concelho passou a ser referido de forma genérica como “um dos concelhos mais jovens”. O enfraquecimento dos números de nascimentos e o aumento da saída de jovens, que partem em grande número daqui para outras localidades, regiões e países, são indicadores que contribuem para o envelhecimento da população. Ainda assim, Lousada é o concelho que perde menos pessoas numa região onde o êxodo populacional é forte.
O Tâmega e Sousa (que inclui Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Penafiel e Resende) perdeu 23.990 habitantes entre 2011 e 2021. Nenhum destes concelhos ganhou população nos últimos dez anos, nem mesmo Lousada, que é o concelho com menor perda (14 pessoas), o que poderá significar uma maior capacidade de fixação dos seus residentes e atração de novos habitantes, e não tanto pela natalidade, que foi a mais baixa face aos concelhos vizinhos.
O PIOR SALÁRIO MÉDIO
Os salários baixos podem contribuir para esses dados. Nas estatísticas da PORDATA (Base de Dados de Portugal Contemporâneo, da Fundação Francisco Manuel dos Santos) observamos um indicador importante sobre a realidade económica local: o “ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem”. Os habitantes de Lousada, em 2019, recebiam em média um salário de 860,60 euros, muito abaixo da média nacional (1.209 euros). É um dos piores da sub-região do Tâmega e Sousa e se nos circunscrevemos aos concelhos vizinhos, Lousada tem o pior salário médio, atrás de Paredes (919,40€), Penafiel (975,20€), Felgueiras (892,80€) e Paços de Ferreira (886,70€).
ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO
Analisando os últimos dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) percebe-se que Lousada já não tem mais jovens que idosos.
Em 2011 os jovens com menos de 15 anos eram 18,4% do total da população do concelho. Ou seja, Lousada tinha 8.736 jovens com menos de 15 anos. Mas em 2021 houve um decréscimo acentuado para 6.581. O índice de envelhecimento é ainda mais claro em relação à perda de juventude: em 2011, para cada 100 jovens havia 56 idosos (pessoas com mais de 65 anos) e em 2021 o índice passou a ser de 112 idosos para 100 jovens. É uma cadência que parece inflexível, pois é essa a tendência europeia.
A população com idade ativa (que segundo o INE vai dos 15 aos 65 anos), continua a ser o grupo etário predominante, com 70% dos indivíduos registados. Mas a nível nacional esse indicador baixou 3 pontos percentuais (de 66 para 63%) de 2011 para 2021, por causa do envelhecimento populacional.
MAIS MORTOS E MENOS NASCIMENTOS
Outra observação igualmente expressiva nos dados disponibilizados pelo INE é a diminuição do tamanho das famílias. Os núcleos familiares com 3 ou mais pessoas continuam a predominar, mas a tendência é para o aumento dos agregados com duas ou uma pessoa apenas. A propósito disto, note-se que Lousada ainda não está perante uma forte procura de habitações de dimensão T0 ou T1, mas aqueles indicadores que denunciam um aumento do individualismo e da família residual fazem crer que essa procura aumentará em breve.
A baixa da natalidade, além de se refletir no envelhecimento da população, é também causa e consequência da diminuição do tamanho das famílias. Por causa da pandemia da COVID-19, que retraiu a natalidade e potenciou os falecimentos, pela primeira vez neste século, em 2020, o número de nascimentos (370) foi inferior ao exponencial número de óbitos (450). Mas os nascimentos em Lousada já estavam em queda em 2019, portanto no ano pré-pandemia. Em 2021, ainda com o espectro da pandemia em pano de fundo na vida quotidiana, os falecimentos baixaram substancialmente, passando a ser inferiores aos nascimentos, mas estes continuaram a tendência descendente, com 354 bebés. Dois fatores contribuem de forma direta para estes dados: a emigração de jovens e adultos ativos e o envelhecimento da população residente.

BRASILEIROS PREDOMINAM
Outro facto cada vez mais notório: está a acontecer um aumento significativo de estrangeiros em Lousada e os números oficiais não traduzem uma realidade em constante mudança. Em 2011, o concelho tinha cerca de 190 residentes de outras nacionalidades e em 2021 já eram 513, a maioria das quais são do Brasil (235), seguindo-se, entre os mais representados, S. Tomé e Príncipe com 97, Uzbequistão com 32, Angola com 25, China com 20 e Ucrânia com 14.
NÚMEROS ENGANADORES
No que diz respeito a casamentos e divórcios, o primeiro ano da pandemia fez baixar os números, mas estes estão a voltar à tendência de subida que se vinha verificando sobretudo nos divórcios. Embora distante do recorde deste século, que aconteceu em 2011, com 120 divórcios, a tendência continua em alta no concelho onde, em 2021, houve 95 dissoluções de casamentos, que ainda assim não superaram os 100 casos de 2019.
No respeitante aos casamentos, o aumento foi exponencial, com 197 matrimónios, chegando muito perto do recorde de 200 registos, em 2009. Mas esses números são enganadores pois o aumento deveu-se à acumulação de casamentos adiados pela pandemia e, ainda assim, dividindo 197 por dois anos (2021 e 2022) não se atingem os números de 2019, o que denota decréscimo de casamentos.

ANABELA PEIXOTO (ASSISTENTE SOCIAL):
“A emigração da população mais jovem e qualificada é preocupante”
Para dar a sua opinião numa breve entrevista sobre algumas questões demográficas e suas implicações sociais convidamos Anabela Peixoto, uma experiente assistente social com conhecimento da realidade lousadense.
O Louzadense – Que vantagens destaca na vinda de emigrantes?
Anabela Peixoto – Numa Europa a envelhecer de forma abrupta a emigração é uma dádiva. Portugal não é exceção e a sua população tem vindo a envelhecer significativamente, consequência das baixas taxas de natalidade. Resulta daí a diminuição da população ativa e consequente redução das contribuições para a segurança social, colocando em causa o que consideramos como garantido: a proteção social em situações de vulnerabilidade, nomeadamente doença e desemprego e ainda no pagamento das pensões de velhice e invalidez. Os imigrantes têm vindo a ser uma boa ajuda para resolver esse problema. Mas as vantagens da emigração não são meramente económicas. As sociedades tornam-se mais dinâmicas e modernas quando confrontadas com outras vivências e culturas. Só podemos aprender com o que desconhecemos, embora não seja fácil lidar com o “estranho”, com o que não dominamos. Sair do nosso conforto é um desafio, mas o desenvolvimento acontece porque há contextos desafiantes.
Estes receios são explorados e estimulados por motivações menos éticas, criando-se falsas narrativas, que alimentam ainda mais o natural medo do desconhecido. Os métodos de divulgação e consolidação destas “verdades” têm sido eficazes, criando algum mau estar social entre partes da sociedade e a comunidade imigrante.
Por outro lado, é fundamental garantir uma boa integração social, cultural e económica das populações migrantes. Não é fácil uma comunidade que não domina o modo de funcionamento do país que o recebe, que não domina a língua, integrar-se naturalmente. Se, por algum motivo persistir alguma crise, serão os primeiros a ressentir-se da mesma e a entrar em processos de exclusão, seja no domínio económico, habitacional e social.
Por outro lado, urge também combater os preconceitos e os estereótipos associados às várias comunidades imigrantes. Todos temos um papel importante neste domínio e devemos unir sinergias para o fazer: o estado central e local; os órgãos de comunicação social e a sociedade civil.
PREOCUPANTE EMIGRAÇÃO DE JOVENS
O Louzadense – O que lhe parece o fenómeno da emigração de Lousada para o estrangeiro?
Anabela Peixoto – A minha perceção é que, no concelho de Lousada, não tem existido um aumento exponencial da emigração nos últimos anos. Parece-me existir uma situação muito particular no que toca ao sector da construção civil, mantendo-se a saída de trabalhadores para o exterior. Muitos destes trabalhadores, provavelmente, não são considerados emigrantes, já que trabalham para empresas portuguesas que laboram noutros países, fazem as suas contribuições em Portugal e mantêm aqui a sua residência fiscal. No entanto, devemos estar atentos às consequências familiares e sociais que daqui advém, já que se verifica uma desagregação familiar com a ausência sobretudo do adulto masculino, nos casos em que se aplica.
No que respeita à emigração da população mais jovem e qualificada, em Lousada, não deve ser diferente do que vai acontecendo no país. Esta situação é preocupante, já que o desenvolvimento de Portugal deverá assentar na economia do conhecimento, da tecnologia e não na indústria que emprega mão de obra barata, pouco qualificada que pouco contribui para a melhoria das condições de vida das populações.
BAIXA NATALIDADE É UM PROBLEMA GRAVE
O Louzadense – Que implicações tem em termos sociais o envelhecimento da população?
Anabela Peixoto – O envelhecimento da população decorre, sobretudo, de dois fenómenos: o aumento da longevidade e a baixa da taxa da natalidade. Se o primeiro é sobretudo uma vantagem, o segundo é um problema de dimensões preocupantes.
O aumento da longevidade, sendo uma oferta dos tempos modernos muito desejada por cada indivíduo e pela sociedade em geral. Para ser de facto uma vantagem, implica um novo paradigma que não se pode iniciar apenas na fase que consideramos a idade da velhice (em Portugal, por volta dos 66 anos, coincidente com a idade da reforma). Para podermos viver um envelhecimento ativo e saudável, temos que muito mais precocemente cuidarmos da nossa saúde e bem-estar, quer através de uma alimentação adequada, como de uma boa atividade física e intelectual. Assim, podemos prolongar a nossa autonomia e bem-estar por grande parte do que é considerado o nosso período de velhice. Desta forma, continuaremos a ser membros ativos da nossa comunidade a vários níveis, ao mesmo tempo que teremos uma maior disponibilidade para sermos mais felizes.
No entanto, o prolongamento da vida terá sempre como consequência, uma fase da vida que implica a necessidade de cuidados. Habitualmente, quando pensamos em longevidade é esta preocupação que emerge, focando-se nos custos financeiros que estas respostas possam trazer. Num país de baixos salários e consequentemente baixas reformas, não conseguindo a família ou o próprio assegurar a prestação de cuidados aos seus mais velhos, é responsabilidade do estado garantir a devida proteção a esta população. No entanto, estas respostas não têm necessariamente que se esgotar em estruturas residenciais que tendem a uniformizar os cuidados, quando somos tão diversos. Devemos ter respostas diversificadas e de qualidade excecional, privilegiando as que garantem os cuidados no domicílio.
Pensando ainda do ponto de vista económico, Portugal pode aumentar exponencialmente o turismo sénior, já que reúne condições naturais para acolher os mais velhos europeus.
Falemos agora da baixa taxa de natalidade que assola Portugal e a Europa. Este sim, é um problema estruturalmente grave que merece uma profunda reflexão da antiga Europa, ela própria envelhecida. Mas se existem políticas de difícil implementação, há já soluções que se antecipam naturalmente: o bom acolhimento dos imigrantes que batem à nossa porta. Se assim os fizermos serão eles parte da solução para garantir o rejuvenescimento europeu e do nosso país.

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