“O teatro é o lugar onde quero estar, independentemente de ser na rua ou numa grande sala de espetáculos”
Patrícia Queirós, de 39 anos, nasceu e cresceu na fronteira entre Caíde de Rei e Meinedo. Desde pequena, sonhava viver numa aldeia onde as pessoas se encontrassem para cantar, tocar viola e ler umas para as outras. Porém, esta utopia, longínqua na época, continua a ser um dos sonhos desta artista de mão cheia. Foi estudar teatro para a ESMAE e, desde então, jamais parou de trabalhar profissional e voluntariamente na área. Saiba mais da história por detrás desta mulher que respira arte.
“Sou natural de Meinedo, freguesia do pai José Queirós e da avó paterna D. Esperancinha, mas criada mais por Caíde de Rei, freguesia da mãe Irene Carvalho e neta da D. Aninhas Maranteira (avó materna)”, principia. As escolas mais perto da sua residência situavam- se em Caíde de Rei e, desta forma, frequentou o ensino primário e básico nas mesmas. O secundário fê-lo na vila, como a própria refere, que passou a conhecer melhor a partir dessa fase.
Ao longo de todo o seu percurso escolar não desfrutou de atividades extracurriculares artísticas, na medida em que não existiam. Contudo, a sua mãe sempre teve a vontade de estimulá-la para a música. “Entre os 6 e os 9 anos aprendi cavaquinho e piano, mas acabei por não continuar, por indisponibilidades”, afirma.
Esta lacuna fez com que passasse todo o ensino escolar sedenta de formas de expressão, especialmente artísticas. Todavia, aproveitava as atividades culturais e recreativas, em que a mãe e a avó materna participavam na freguesia de Caíde.
Mas, o que aos 18 anos parecia ser uma vida destinada ao Direito, acabou por revelar uma porta para a mais inesperada forma de vida – o Teatro. Tudo pela mão e amizade de uma professora que conheceu nesse ano, e que lhe reconheceu o talento, tendo-lhe dado a conhecer o teatro como uma possibilidade de profissão: Profª. Capitolina.
Capitolina Oliveira é professora de economia, na Escola Secundária de Lousada, fundadora do Grupo Nova Oficina de Teatro e Coral de Lousada, criado há cerca de 30 anos, por onde já passaram centenas de jovens e adultos e que dirige até hoje.
Patrícia integrou o grupo há mais de 20 anos, após ter assistido a um espetáculo de Natal que este grupo apresentou junto à Igreja do Sr. dos Aflitos. “Fiquei completamente encantada com o espetáculo. Senti uma vontade imensa de fazer aquilo”, salienta.
A primeira representação neste grupo, de que a lousadense participou foi num espetáculo dedicado à Revolução do 25 de Abril. Curiosamente este ano, em que comemora 20 anos de carreira, dá-se a feliz coincidência de a Nova Oficina lembrar Abril no dia 24, no Auditório Municipal de Lousada, e da Patrícia ter preparada a comemoração de Abril com os Cavaquinhos de Caíde e o Clube de Leitura em Voz Alta, no dia 25, no Cais Cultural de Caíde, onde será homenageada com a atribuição do seu nome à sala de espetáculos do Cais, que a partir desse dia passará a designar-se Auditório Patrícia Queirós.
Ainda sobre o dia em que descobriu a sua verdadeira vocação, recorda as palavras da Profª. Capitolina: “Um dia, perguntou-me se eu não pensava na possibilidade de seguir uma carreira no teatro. Confesso que a minha reação foi de espanto pois não sabia que me era acessível estudar teatro”, conta. De imediato, percebeu que era este o caminho que queria seguir, tal foi a alegria que sentiu. A sua família apoiou-a e a mãe disse algo que jamais esquecerá: “farás o que for a tua vontade, porque eu queria ter sido cantora e não pude, por isso conta com o meu apoio”.

Lidou com a estranheza da maioria das pessoas da comunidade, de alguns familiares e amigos, sempre que dizia que ia estudar teatro, mas respondeu sempre com alegria pela genuína convicção de estar a abrir horizontes a si mesma e de ter muito caminho pela frente para cumprir o sonho de contribuir para a cultura e lazer da comunidade, que sentia ser a mais bela forma de conexão humana, pela arte.
Começou então por ingressar na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo), no Porto, onde tem feito um percurso regula, essencialmente no teatro, assim como na televisão e cinema.
Entre os projetos em que a lousadense participou e participa, ao longo destes anos, destacam-se aulas a crianças, jovens e adultos; formações em empresas; animações em eventos; cinema; televisão, mas acima de tudo teatro: a Companhia de Teatro Pé de Vento, onde viu teatro pela primeira vez, aos 12 anos, numa atividade da escola, e onde começou a trabalhar 20 anos depois, para o público infanto-juvenil; o Teatro da Rainha; Mau Artista; Palmilha Dentada; Coro de Atores; Teatro do Frio (pesquisa e investigação teatral); Radar 360º (artes de rua) Astro Fingido, sediada em Paredes; Cursos de Verão da Jangada Teatro de Lousada, Contilheiras, entre outros.

Atualmente, integra o elenco residente do Teatro Nacional São João, onde está já em digressão pela Europa com um espetáculo que esgotou sessões durante 3 semanas no Porto. Está atualmente em fase de ensaios de uma nova peça, com texto original de Pedro Mexia, a estrear em Junho.
A propósito de todas estas experiências tão diferentes e enriquecedoras, relembra algo que disse no início à Profª Capitolina: “O teatro é o lugar onde quero estar, independentemente de ser na rua ou numa grande sala de espetáculos”.

Paralelamente à profissão contribui com trabalho artístico em associações. “Sinto que tenho a minha profissão mas uma missão também. Na profissão colho e na missão semeio”, refere. Precisamente por isso, ao longo dos anos, participou voluntariamente em diversos projetos como no Cais Cultural de Caíde de Rei que viu nascer pelas mãos do ex-presidente, António Meireles, que, há 14 anos, a convidou para criar um grupo de teatro amador – Grupo de Teatro da Linha 5 e a coordenação do Clube de Leitura em Voz Alta, que se reúne regularmente para a partilha de breves leituras. Em Meinedo, foi uma das fundadoras da Associação A Grande Janela que surgiu para dar espaço a novas formas de coesão social, pela cultura, com a criação de um Grupo de Cantares, Centro de Convívio e Clube de Clube de Leitura, entre outras atividades.
Foi reconhecida em 2013, pela Junta de Freguesia de Caíde de Rei, com Mérito Cultural e em 2014, com a Medalha de Prata, pela Câmara Municipal de Lousada. Estas distinções, foram acolhidas por si, acima de tudo, como um incentivo, ao aplaudirem a abertura de horizontes no panorama profissional e artístico da região, sendo a primeira lousadense a seguir esta profissão, com a particularidade de ser mulher. “É uma alegria termos já muitas e muitos outros a fazer do teatro a sua forma de expressão e profissão”, declara com orgulho e emoção.

Quando questionada sobre qual o sonho que falta cumprir, de imediato, referiu: “a necessidade de partilhar com a comunidade tudo aquilo que o teatro me transmite, como forma de expressão e desenvolvimento. Continuar a contribuir para a expansão de consciências, a promover a alegria do encontro que as artes proporcionam, a criar atividades que permitam reforçar a conexão humana. Ver o Auditório do Cais Cultural cheio, ou o Sótão das Artes preenchido é das minhas maiores alegrias e incentivos”.
“Lousada continua a ser para mim, uma espécie de ‘jardim’ onde eu gostava de ter condições para semear ainda mais, aumentando a colheita de uma Cultura que comprovadamente melhora os resultados na educação, coesão social, saúde e acima de tudo, da conexão humana, que garante a plena vida em comunidade.”, finaliza Patrícia Queirós.

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