Não pude estar no lançamento de «Maria Sabichona visita a biblioteca.» Um livro muito bem escrito e ilustrado. Um livro para todas as crianças: estranha mania que os ditos adultos têm de destinar as coisas.
Não. Não é um livro só para crianças. É, podem crer, para todos: pequeninos, pequenos, jovens, adolescentes, grandes – da segunda e terceira idade ou mesmo para os mais velhinhos que gostam de contar histórias aos netos e bisnetos, caso os possuam. Ler é uma obrigação que não conhece idade.
Portanto, a atratividade de gostar de escutar ou ler histórias remete-nos para o estádio mais primitivo da gestação. O despertar para a leitura tem início ainda não ousamos enfrentar a luz da selva. Depois é o hábito de contar história, o saber oral dos mais velhos. Depois a rotina de todos os dias, antes de adormecer, os pais lerem um bocadinho de um livro infantil. A estranheza à chegada da creche, mas também a apreensão diária das cantilenas e histórias. De seguida, o infantário, a pré-primária, a história do para iniciar a concentração, diminuta, obviamente, para iniciar o trabalho. A musicalidade e dramatização de histórias, de pequeninos teatrinhos que levam as pequeninas crianças a adquirir e afeiçoar o gosto pelos livros, o pedido diário, como uma obrigatoriedade, aos pais para lerem a história preferida, trazida da biblioteca da escola, antes de dormir. E depois a entrada na escola, a aprendizagem das letras, sílabas e palavras, a ordenação destas últimas e o aparecimento de frases que compõem pequenos textos, histórias. Sucede-se o segundo, o terceiro e, finalmente, o quarto ano. Ao fim deste ciclo houve, sem dúvida nenhuma, a aquisição das ferramentas essenciais para ler, escrever, mas acima de tudo, todas as semanas, ir à biblioteca buscar o livro preferido que contém as histórias prediletas.
O trabalho de base está feito: alicerce primacial para a continuidade do gosto de ler livros, histórias mais rebuscadas e complexas, complexidade que o leitor procura e, talvez, exige. Ler passa a ser encarada como descoberta, deleite e necessidade diária.
Maria Sabichona visita a biblioteca é tudo o que foi supracitado: o passaporte para ler a vida, sonhar e viajar pelo mundo através das palavras que o livro faz de nós sonhadores. É isso, quem não sonha não vive. Portanto, vamos sonhar, ler a Maria Sabichona e viver.
Uma derradeira nota: parabéns Rute Cunha por nos conduzir ao sonho, à vida.

José Carlos Silva
Professor e historiador
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