Conforme noticiamos na nossa rede social Facebook, na passada sexta-feira, a empresa de Boim SIOUX Portugal estava na altura em risco de fechar. Abordamos algumas trabalhadoras que não acreditavam nesse cenário, abstendo-se de comentar a situação, referindo apenas que “estava tudo direito” e que estavam de férias. Apesar destas afirmações, alguns trabalhadores mantiveram-se à porta da empresa, que já não tinha o símbolo da marca nas paredes, sinal de que algo não estava bem.
Foi na terça-feira que o pior cenário se confirmou: a empresa portuguesa Sioux Portugal, uma filial da empresa alemã, tinha avançado com o processo de insolvência.

Ao contrário do que acontecera na sexta-feira, os funcionários, já conhecedores da realidade, apresentaram-nos uma declaração da empresa, onde consta que a entidade salvaguardará até ordens contrárias os seus postos de trabalho, o que garante a retribuição aos trabalhadores, estando estes em casa. Os trabalhadores mostram, no entanto, muitas reservas em relação a todo o processo e mantêm-se em vigília, com receio de, para além de perderem os seus postos de trabalho, não verem os seus direitos acautelados. Assim, têm-se revezado, dia e noite, para garantir que tudo segue o curso normal.

Segundo os funcionários, esta empresa, que está em Lousada há mais de trinta anos, já empregou perto de quatrocentos trabalhadores, mas a redução de trabalho implicou várias restruturações ao longo dos anos, tendo atualmente cerca de 150 empregados. Em todas as restruturações anteriores, a empresa chegou a acordo com os trabalhadores, pagando-lhes os direitos e as indeminizações acordadas. O encerramento definitivo leva a suspeitas de que os direitos podem não ser assegurados e, por essa razão, os trabalhadores fazem finca-pé em frente à empresa.

Para Liliana Ribeiro, de 38 anos, o processo conduzido pela empresa é humilhante: “Enquanto somos funcionários, somos tratados como tal porque precisam de nós. No momento em que somos descartados, somos postos na rua como se fôssemos cães. Se eles preservam tanto o nome, tinham feito como fizeram os outros grupos: punham tudo direitinho e tinham uma conversa connosco”, afirma. Liliana esclarece que a empresa será deslocalizava por razões que se prendem com os custos de produção, e compreende a situação, mas não concorda com o tratamento de que têm sido alvo. “Ao longo de 10 anos temos vindo a diminuir: hoje vão 60, amanhã vão 30… Eles chegavam a acordo. Agora, mandam-nos para casa 15 dias, sem nada sabermos. Eu não vou quinze dias para casa, prefiro dormir aqui”, garante esta funcionária, mãe de duas filhas, uma delas a frequentar a faculdade. Liliana receia não poder continuar a pagar-lhe os estudos, dado que só conta com o seu ordenado no agregado familiar.

Luís Fernandes, um dos funcionários mais novos, com 7 anos ao serviço da empresa, considerara estranho na passada sexta-feira terem retirado o símbolo da marca SIOUX: “Nós temos a ideia de que só nos pagaram tudo depois de tirarem o símbolo”. Este funcionário desempenhava as funções de técnico de acabamentos e refere que já se notava que havia dificuldades: “A empresa tem vindo a cair, não em qualidade, mas sim no número de encomendas”. Sobre o processo de encerramento, diz que “nunca nos foi dada nenhuma informação, não temos nenhum papel com garantias de que isto vai entrar em insolvência”.

São muitas as pessoas com mais de vinte anos de casa, entre elas Maria do Céu, Viúva, de 53 anos. Com uma depressão e três filhas, uma menor, depende apenas do seu ordenado, dado que ainda não recebe pensão: “Não tenho apoio sequer para a minha filha menor. Com a minha idade quem é que me quer?”, lamenta.
A vereadora da Ação Social, Cristina Moreira, esteve ontem no local e garante que foi disponibilizado todo o apoio aos funcionários, nomeadamente no que toca ao acionar de todos os mecanismos legais exigidos nestas circunstâncias. “Eles acionaram”, garante, acrescentando que foi disponibilizado também apoio social e psicológico, “pois nós sabemos que há situações que precisarão de intervenção”. A manutenção dos postos de trabalho ainda é uma esperança: “Vamos fazer tudo o que é possível para salvar a empresa deles. Se isso não for possível, teremos aqui o nosso gabinete de inserção profissional para encaminhar aqueles quadros para outras empresas. Nós sabemos que poderá não ser fácil para alguns funcionários recomeçar de novo noutra empresa. Temos pena e estamos a fazer tudo junto da empresa e dos funcionários para resolver este assunto”, garante.