Fundador do PPD em Lousada
Adriano de Sousa Sampaio nasceu em 1936, tendo completado 83 anos no dia 5 de fevereiro. Oriundo de Sernande, Felgueiras, desde muito novo contactou com membros da igreja, chegou a aprender latim e por pouco não seguiu a carreira eclesiástica: “Aprendi latim na casa do padre em Rande e quase ia para padre”, conta, acrescentando que “chegou tarde”. Tinha na altura 9 anos, idade considerada tardia para seguir o caminho religioso. Ficou-lha a “pena”, por não ter prosseguido dos estudos para esse fim, e o conhecimento do latim, que lhe permitia ajudar o padre, com quem esteve 13 anos.
Da infância guarda também algumas memórias duras, como a da perda do pai, aos seis anos, o que o marcou bastante.
Atraído a Lousada pelas Festas Grandes
O gosto por Lousada nasceu associado às festas da Vila: “À noite, gostava da borga”. Foi justamente nas festas que conheceu o amor da sua vida, aos vinte e cinco anos. O namoro não foi imediato, mas, com persistência, conseguiu conquistar a sua “cara metade”, a Maria Amélia. Adriano Sampaio conta-nos como tudo aconteceu: “Um dia, vim à festa e vi o meu primo junto ao lago onde agora está o Bispo, e ele estava lá com uma rapariga. Achei-a encantadora. Ela acabou por não ficar com ele, pois não queria namoros. Eu andei meio ano à procura dela, depois, mais tarde, encontrei-a em S. Miguel e gostei muito dela. Nunca mais a larguei. Tive mais sorte do que ela, se calhar, porque ela é uma pessoa muito calma, fantástica. Agradeço a Deus ter encontrado aquela mulher. Ainda é a minha cara metade”. Casaram em S. Miguel e comemoraram já as bodas de ouro, com direito à presença das estações de televisão!
As festas da altura em honra do Sr. dos Aflitos estão ainda muito vivas no espírito de Adriano Sampaio: “Nas festas, à noite, lembro-me da iluminação em papel, que era cá uma coisa! Era uma aramada de flores, uma coisa extraordinária, tudo em papel, fantástico! É uma imagem das mais bonitas que eu vi na minha vida! Festas de grande beleza, numa terra de “gente muito simples”, como faz questão de realçar.
Admirador das festas, não é por isso de estranhar que, em 1980, tenha organizado as festividades maiores do concelho, no ano em que se assinalaram os 75 anos da sua existência. Defensor da tradição, congratula-se com o regresso às “Festas Grandes”: “Antigamente chamavam-se as Festas Grandes em honra do Senhor dos Aflitos. Alteraram mais recentemente para Grandiosas. Agora parece, e ainda bem, que voltaram a ter o nome de antigamente”.
Num ano em que a chuva não deu tréguas, recorda a presença dos Cavaquinhos de Braga e do Rancho Folclórico de Santa Marta de Portozelo, “que nem atuou, pois choveu”. Memorável foi, na sua opinião, a procissão, que o deixa orgulhoso: “Foi das coisas melhores que houve nesses anos. Fiz a festa com a preocupação da vertente católica”, salienta. “Fui ter com a Miquinhas e fizemos, para mim, a festa mais bonita a nível católico. Foi o primeiro ano que saiu o S. Miguel da igreja. A procissão marcou-me muito. Hoje as festas estão mais viradas para a festas da cerveja. Perdeu-se esta emoção da festa católica”.
O fogo foi também memorável: “Fizemos uma batalha naval, era uma luta entre um avião e um barco a correr nuns arames e atiravam uma bichas uns aos outros”. Não fosse o incidente que levou uma pessoa a ficar cega de um olho e teria sido perfeito.
Profissionalmente, Adriano Sampaio começou por ser sapateiro, profissão que não apreciava. Por isso, já com a carta de condução, decidiu ser motorista. Na altura, mudou-se para S. Miguel, onde viveu alguns anos, antes de se mudar para Nogueira.
Antes passou também pelo serviço militar. Esteve em Santa Margarida, distrito de Santarém, tendo, no entanto, escapado à ida para o Ultramar. À pergunta “Queres ir para Angola?”, a resposta foi “Nem pensar!”. Apesar de lhe terem garantido que o chamariam para rumar à ex-colónia, “um jeito” acabou por o deixar ficar no Porto. Apesar de tudo, a guerra colonial foi um obstáculo no seu caminho, já que impediu a sua integração nas forças policiais: “Concorri para a polícia e para a GNR. Na polícia, fui aprovado, mas surgiu a guerra no ultramar” e na altura os militares eram essenciais para combater nesse conflito.
“Vida de luxo” numa lambreta
Deixemos a vida militar e retomemos as funções de motorista. Neste papel, Adriano Sampaio viveu dias felizes, como nos conta: “Como motorista, fui parar à Federação dos Grémios da Lavoura no Porto. Ia com os camiões recolher leite, aquelas bilhas de leite… O leite antigamente era uma maravilha”, recorda, saudoso. E continua: “Eu dormia num quarto próximo do Bolhão e, como ficava até tarde da noite, muitas vezes acordava tarde e, por isso, chegava aos postos de leite mais tarde”. A “vida de luxo”, como o próprio descreve, começou quando largou as quatro rodas e começou a andar de lambreta: um dia, chamaram-no, para lhe dizer que estavam para chegar umas lambretas da Alemanha, “equipadas com tudo”. A sua função seria ir para Aveiro três a quatro meses em formação e, assim, “ficaria funcionário do estado”, controlando o leite de Felgueiras e Lousada. Aceitou. Tirou carta de mota e começou a exercer as suas funções: “O leite de Lousada era de má qualidade e em Felgueiras pouco melhor era”, recorda.

Adriano Sampaio recorda-se muito bem da lambreta, “que era diferente” e atraía não só os olhares das pessoas, mas também a inveja: “Toda a gente olhava para ela. Até a polícia de viação e trânsito, com motos antigas, tinha ciúmes de nós, até porque ganhavam menos que nós”. Em 1965, as suas funções cessaram, “pois conseguimos pôr tudo bem”, ou seja, “Lousada ficou com leite de primeira”, explica, aludindo ao facto de alguns agricultores, antes, misturarem água com leite.
Do leite passou para a Estofex. Um ramo de atividade diferente, mas onde desempenhou as funções de motorista a que estava já habituado. Aí trabalhou cinco anos.
Já depois do 25 de Abril, pela mão de Pereira Leite, presidente da Câmara Municipal de Paredes, ingressou na Cooperativa Agrícola dos Produtores de Leite de Paços de Ferreira, tendo a seu cargo sete concelhos. Foi o regresso ao leite. Entretanto, surgiu a AGROS e viu nascer o conceito de leite em pacote: “Fui eu que o lancei”, revela. Depois da cooperativa, surgiu o negócio por conta própria: “Montei o supermercado Sampaio”.
Fruto do ímpeto e das ideias que não paravam de fervilhar, gastou bastante dinheiro: “Tive de dar 300 mil escudos para tomar conta daquele espaço”. Mas, para o sucesso do negócio precisava de tempo, que a política lhe roubava, o que o comprometeu o sucesso: “Começavam a aparecer dívidas e, de um dia para o outro, terminei tudo, encerrado para obras”, conta.
Do supermercado passou para os granitos, onde, mais uma vez, exerceu a função de motorista numa empresa de António Moreira de Castro, que encabeçou a lista às eleições autárquicas em 1991.
O início na política
No PSD, tudo começou pela boca de José Dias, que lançou o nome de Adriano Sampaio em conversa com Adérito Guerra. Assim, o seu nome gerou o consenso necessário para, mais tarde, integrar a primeira comissão política lousadense. Adriano Sampaio tem uma explicação para o interesse pela sua pessoa, na altura: “Eu conhecia o concelho de Lousada, toda a lavoura. Imagine o que era antigamente a lavoura! Tinha o concelho todo na mão”, explica.

O primeiro contacto mais formal com o partido deu-se na sede do PPD no Porto, onde esteve com Adérito Guerra. No regresso a Lousada, passaram pela sede do PS local. Entraram e pediram os estatutos. Na ausência destes, trouxe um “livro muito pequenino”, que leu até às três da manhã. Foi aí que tomou a decisão: inscrever-se no PPD. “Fiz questão de conhecer o programa do PS também. Analisei e verifiquei que não me servia, pois na altura o Mário Soares queria coletivizar a igreja”, relembra. Assim, depois de Adérito Guerra, que foi o primeiro a inscrever-se no PPD, foi a vez de Adriano Sampaio, seguindo-se a esposa do primeiro. “Ele estava com pressa, pois queria ir ao primeiro congresso que o Sá Carneiro realizou. Fomos os três ao congresso. A partir daí, fui a todos os congressos”, afirma.
Adérito Guerra foi, assim, o primeiro líder concelhio do PPD. Depois do congresso, abriu a sede do partido em Lousada, por sinal em frente ao supermercado Sampaio: “Foi o primeiro partido a ter sede”.
Os meses politicamente quentes que se seguiram à Revolução dos Cravos estão bem gravados na memória de Adriano Sampaio, que relembra histórias caricatas: “Lembro-me das eleições de 1975, as constituintes, em que houve muita porrada. Nessa altura era difícil. Lembro-me um dia de ir a Amarante com a lista dos cinquenta militantes do partido, e fizeram-me paragem. Era a UDP. Tinham prendido um homem como um porco, amarrado a um camião. Quando vinha um ter comigo, eu antecipei-me: ‘Ó camarada, o que se passa aí?”. Valeu-lhe a pergunta que o conotou com a esquerda política: “E ele perguntou-me se eu tinha alguma coisa no carro que me comprometesse. Tive a sorte, ele deixou-me ir”. Isto acontecia fora de Lousada. “Foram horríveis os primeiros tempos, com o Movimento das Forças Armadas, mas, em Lousada, o PPD cresceu muito e não tínhamos problemas”, refere.
Em 1980, a sede do PSD passou a ocupar um espaço próximo da atual sede do PS: “Fizemos a inauguração com o Francisco Pinto Balsemão, homem do que sou muito amigo”, diz.
Não foi deputado porque não quis
Homem sem grandes ambições, Adriano Sampaio diz que nunca quis ser líder da distrital nem deputado, apesar de muitos o querem ver nessa posição. “Toda a gente se dava bem comigo. Até queriam que eu fosse deputado. Era eu que fazia as listas para o conselho nacional, mas não colocava o meu nome”, afirma.
Adriano Sampaio conta que Brochado Coelho, líder da distrital do Porto, bem insistia para que o seu nome figurasse num lugar elegível nas listas para a Assembleia da República, mas a teimosia do lousadense não lhe permitiu aceitar o 22º lugar na lista. Adriano Pinto, na altura em 25.º lugar na lista, acabou por ser deputado.
Adriano Sampaio recorda o primeiro candidato do PSD à Câmara de Lousada, Amílcar Neto, que começou por ser antes vereador da câmara. Era um homem popular, muito próximo dos lavradores, muito conhecido, ainda por cima comandante dos bombeiros, condições para chegar à vitória. E chegou. Depois de 16 anos à frente da autarquia, saiu em 1991: “Era um homem extraordinário. O povo gostava dele.
Adriano Sampaio nunca quis lugares para si. “Colocava à frente de mim todos os outros. No primeiro mandato, ainda fiquei e chateei-me com o Arnaldo Mesquita numa sessão da assembleia”, revela, acrescentando que “não tinha estofo, mas eles confiavam em mim e davam-me responsabilidades a mim. Eu dava-as aos outros, pois entendiam que eles tinham mais estofo que eu”, explica.
O fim do ciclo de vitórias do PSD Lousada
Com a saída de Amílcar Neto, fechou-se o ciclo de vitórias do PSD. Em 1989, quando tudo parecia encaminhado para Jaime Moura encabeçar a lista social-democrata, tudo mudou. Sobre ele, Adriano Sampaio afirma que “sabia que era um tipo extraordinário” e que Lousada era conhecida por ele, que queria fazer o autódromo em Lustosa”. Mas tudo mudou quando leu no Jornal de Lousada que Jaime Moura já não seria candidato: “Encontrei-o e questionei-o”. A resposta confirmou o que lera no jornal. O líder concelhio confessou-se ressentido por ter sabido desta posição já depois de divulgada na imprensa, mas Jaime Moura disse-lhe apenas “meta o Castro, que era para ir em quarto lugar e não em primeiro”, recorda. Dos nomes apontados para liderar as listas, Agostinho Vieira, Rui Magalhães e o Castro, “ganhou com cinco ou seis votos o Castro”.

Já depois de Brochado Coelho, presidente da distrital ter tomado conhecimento do nome do candidato e de ter sido veiculado na imprensa, Jaime Moura voltou atrás e manifestou vontade em ser candidato. Adriano Sampaio não se mostrou recetivo a uma inversão do rumo, tal como Brochado Coelho e o nome de António Coelho de Castro confirmou-se: “S fosse o Jaime Moura, eu saía, não admitiria a sua candidatura. Eu detestava um tipo que dissesse uma coisa hoje e amanhã voltasse atrás”, justifica. Jaime Moura acabou por ir pelo CDS. “O partido dividiu-se e até houve porrada entre o PSD e o CDS”, lamenta.
Adriano Sampaio relembra uma campanha “má”, em que “António Castro não trabalhou bem” por oposição a Jaime Moura e Jorge Magalhães, que “trabalharam bem”. Jorge Magalhães acabou por ganhar sem maioria, com três vereadores apenas. Os restantes quatro vereadores foram divididos pela direta: 2 para o PSD, dois para o CDS. Iniciou-se assim o ciclo socialista em Lousada.
Como explica Adriano Sampaio, “poderiam ter logo ali deitado abaixo a câmara, mas não o fizeram, deixaram o Jorge governar até ao fim”. Lamenta, por isso, que, no final do mandato, tenham feito comunicados dizendo que Jorge Magalhães “não tinha feito nada”. A resposta de Adriano Sampaio foi clara: “Afinal, andam a brincar. Vocês não tiveram categoria para o tirar de lá, logo a seguir a ele tomar posse. Bastava não aprovar a primeira assembleia! E agora, após estes anos todos, querem deitá-lo fora. Estão enganados”. E estavam, pois o ciclo Jorge Magalhães terminou apenas em 2009!
O apoio a Jorge Magalhães
Em 1993, Adriano Sampaio decidiu apoiar Jorge Magalhães, e teve o apoio daqueles que chama “os históricos do PSD”. Chegaram mesmo a fazer um comunicado, “mas o Jaime Moura era muito trabalhador e limpou-os todos, mas acabou por marcar a diferença nessas eleições”. O PS ganhou as eleições, conseguindo eleger 5 vereadores.
As vivências e a análise mais madura da vida mudaram-lhe a visão que tinha da política, mostrando algum desencanto relativamente aos políticos: “Eu fiz da política o que os cidadãos precisavam. Eu entendia que a política era um serviço para os cidadãos. Hoje não penso assim. Éramos mais humildes, mais educados, apesar de o meu avô ter sido regedor. Eu nunca tive problemas com o antigo regime. Conheci episódios, mas nunca tive problemas nenhuns”.
Apesar das divergências, Adriano Sampaio considera que, se o Jaime Moura fosse eleito presidente, “este concelho superava tudo” e prossegue com uma análise do trabalho dos presidentes: “O Amílcar Neto não pôde fazer muito pois não havia dinheiro, fez, umas estradazitas. O Jorge também não esteve mal, houve muito dinheiro, os fundos comunitários ajudaram imenso o concelho. Hoje há muito dinheiro”.
Sobre o desempenho do PSD nas eleições, é perentório: “O Leonel perdeu porque ele quis, pois ele ganhava! Comigo algum dia se perdia a freguesia de Caíde, por deixar passar uma data?”, questiona, referindo-se ao protesto do voto nulo, de 2013. “Após a saída das sondagens, que davam 5 % a mais para o Leonel, vi, na última semana, os carros deles de um lado para o outro, de manhã à noite. Ninguém sabe quem põe as sondagens, o que sei é que colocou todo o mundo a trabalhar”, diz. E remata com uma frase que sintetiza a política das últimas décadas em Lousada: “As divisões do PSD deram a possibilidade ao PS de ganhar durante estes anos todos”.
PSD continua a ser um dos três amores
Adriano Sampaio alimenta ainda o sonho de ver o PSD ganhar a Câmara de Lousada. “Eu tenho três amores: o FC Porto, do qual sou sócio desde os 16 anos; o segundo grande amor a mulher e os meus filhos; o terceiro o meu PPD/PSD”.
Apesar de se manter fiel aos seus princípios, olhando para o passado, Adriano Sampaio considera que foi modesto em excesso e que poderia ter desempenhado outras funções que lhe permitissem assegurar uma vida melhor à família.
Lousada também está no seu coração, apesar da proximidade com Felgueiras, terra que o viu nascer: “Algo me puxa para esta terra”, remata.
Tive o prazer de conhecer esse grande homem humilde e amigo um grande abraço de um admirador