Nos últimos dias assistimos a mais um acto terrorista no Ocidente, por isso, daqueles que contam, mais concretamente em Londres. Os meios de comunicação social, entraram numa linha editorial que já não amplia até à exaustão os efeitos deste tipo de atentados. Falta saber se corresponde a uma estratégia de psicologia inversa, para retirar visibilidade a eventos deste tipo, por forma a esvaziar o acto em si e desmotivar quem neles pensa como meio de expressão de um qualquer interesse ou então ao reconhecimento de uma banalidade do mal, que já não impressiona o consumidor da informação.
E porque estou a meter Deus aqui ?
Bem, não pensem que este artigo se trata de alguma manifestação de interesse do autor e muito menos a tentativa de mais uma discussão absolutamente estéril sobre a existência de Deus.
Não, antes este acontecimento transporta-me a uma reflexão, que se tornará num dos ensaios em que ando a trabalhar , para eventual publicação, de que deixo aqui uma pequeníssima amostra.
Slavoj Zizek, uma espécie de superstar da filosofia dos nossos dias, fazendo jus da sua fama de falta de rigor na sua argumentação, refere amiúde nas preleções, que Dostoievski estava errado quando afirmou : Se Deus morreu, então tudo é permitido”. Convicção que ele afirma a partir da citação de autor americano, que perante o 11 de Setembro terá dito : “ Se Deus não morreu, então tudo é permitido”. Isto, porque o atentado, na opinião dele, foi a expressão de que se pode matar em nome de Deus, isto é, um massacre legitimado em nome de Deus.
A falta de rigor, vem desde logo, pela busca de parangonas que aumentam os decibéis, que se distancia da honestidade da análise profunda de duas coisas que parecem semelhantes mas que não são.
Na narrativa oficial da filosofia ( também existe para a filosofia) , é Nietzsche que fica com os louros de anunciar que Deus está morto, mas antes dele já Jean Meslier ( sacerdote católico) , Stirner e o próprio Dostoiévski o tinham feito. No entanto este anúncio relaciona-se com a evidência do desmoronamento do edifício moral cristão ( ou se preferirem judaico-cristão). O que Dostoievski pretendeu com a frase que vai repetindo na obra Irmãos Karamazov, pretende dar a entender que a partir de que Deus morreu, então não há barreiras morais, tudo é permitido e isso é absolutamente brutal, porque então o vida deixa de ter valor, a ideia de que não vale a pena viver porque deixa de haver horizonte. É de facto perturbador !
Então onde fica a questão de que se mata em nome de Deus ?
À primeira vista , pareceria que isto também se enquadra nos princípios morais mencionados acima, mas não. O princípio ou ,se pretenderem, o mandamento não matarás sempre teve e tem exceções em todas as religiões e em particular nas três que professam o mesmo Deus.Exceções superiormente defendida, na maior parte das vezes, por filósofos do sistema, elevados , não raramente à categoria de santos. Estas exceções serviram e servem para alimentar o poder espiritual ao serviço do poder temporal,isto é, a legitimação religiosa das opções políticas.
É aqui que entra o terrorismo utilizado por cristãos, judeus e muçulmanos, para continuarmos nas 3 religiões com o mesmo Deus, terrorismo dito religioso,mas que no fim mais não são do que legitimação de violência pela religião.
Agora estarão alguns a dizer : mas então o terror da revolução francesa, dos anarquistas, bolcheviques, comunistas, fascistas, nazis , etç ?
Tudo ideologias que visaram a transmutação do cristianismo de acordo com os seus ideais de dominação. Exemplo disso tal como a ideia de Jesus torna possível o judaico-cristianismo em todo o planeta , a ideia do proletário gera o marxismo-leninismo em todo o globo.
Aqui retornamos à questão dos valores. De facto também aqui há uma transmutação ideológica , como é o tão propalado humanismo, que mais não é que uma reciclagem dos valores cristãos.
Na realidade desde tempos ancestrais, a preocupação com os valores e a melhor forma de relacionamento entre humanos na sua vivência conjunta, é uma evidência , constatada por exemplo no código de Hamurabi (cerca de 1772 a.c.), pelo que eventualmente todos os que determinaram a morte de Deus , tenham sido um pouco pessimistas.
O ser humano percebe que para viver com o outro, deve encontrar os meios que podemos chamar de ética , que permita de alguma forma limitar os instintos naturais.
Sobretudo precisa de um mundo paralelo ao natural, o das ideias, que não é propriamente o da verdade, precisamente porque a ideia de algo não é esse algo, onde o divino e sagrado cabem. Chamem-lhe Deus ou que entenderem, mas o espírito precisa de alimento.
Aqui o espaço é muito reduzido, mas ficou a ideia e sobretudo a questão , de que tendo servido Deus para tudo ou para nada , se Deus alguma vez morreu, quando é que Deus esteve vivo ?
A resposta deixo ao íntimo de cada um com a promessa de que em breve terei mais material para ajuda à reflexão.
Entretanto será bom que a bem da humanidade e da integração plena que se pretende , que deixemos de lado a religião como motivo para qualquer acto de manifestação política e que nos concentremos na ideia de que sem renegar o meio em que nos desenvolvemos, o divino e o sagrado é aquilo que nos alimenta o espírito, que nunca será substituído por qualquer tipo de ciência.
Comentários