por | 15 Abr, 2020 | Opinião, Saber(or) Saudável

Coronavirus da economia

Desde o início do confinamento que se percebeu que o impacto do Covid 19 sobre a economia e portanto sobre as nossas vidas iria ultrapassar em muito o efeito sobre a saúde.

A preocupação primeira dos governos concentrou-se em garantir a perceção da manutenção de rendimento de forma a evitar agitação social, sobretudo daquelas corridas iniciais aos bens de primeira necessidade, anedoticamente caracterizadas pelo aquisição desproporcionada de papel higiénico.

Depois com o prolongar do confinamento, os governos percebem que as medidas para recuperar a economia terão que ser bem mais robustas e incorporar todos os atores intervenientes na economia.

Aos primeiros estudos efetuados, inclusive por entidades de grande prestígio, que apontavam para um afundamento durante o tempo de confinamento seguido de uma rápida recuperação, começa de algum modo a adensar-se uma sensação de algum pânico ao perceber-se, que na realidade, os recursos necessários, com o prolongar do confinamento, podem assumir dimensões incomportáveis, se não existir solidariedade, sobretudo no que diz respeito à comunidade europeia.

É verdade que ainda estávamos a sair de uma crise muito profunda, a começar até a ter excedente orçamental, no entanto esta crise é uma crise completamente diversa. Começa logo por não ser admissível, por muito que alguém já tenha tentado, como foi o exemplo do ministro holandês, existir a sensação de que somos culpados. Anteriormente o sentimento de culpa foi inculcado em todos e pago pelos mesmos de sempre, direcionou à austeridade, deprimiu e fez com que a economia levasse bastante tempo até se gerar confiança e por consequência iniciar a sua recuperação.
Desta vez, é minha convicção, de que apesar das enormes dificuldades que já começam a sentir-se, a perceção que vai ser gerada nas pessoas será diferente. Naturalmente continuará a haver muito egoísmo, muita “chico-espertice”, mas o ambiente de solidariedade e de que todos temos que colaborar, porque o vírus não poupa quem quer que seja, irá prevalecer.
Este espírito, que, dirão alguns, é de otimismo extremo, é na minha opinião, o que deverá ser colocado em prática porque a economia funciona muito mais por perceção do que por rendimento real.

O que é necessário para que isto aconteça?
Desde logo, no caso de Portugal, que a comunidade europeia perceba que desta vez tem de agir em bloco e não a partir de outros critérios que não sejam o da solidariedade.

Depois o Estado deve criar condições para garantir um conforto mínimo a todas as pessoas sem exceção, não se pode deixar levar por estereótipos do tipo de que todos os patrões são bandidos, de que este ou aquele substrato da sociedade já vive à custa do erário público, etc. Como condições mínimas, refiro-me não só à questão do rendimento, mas também a evitar situações como as que se viveram em que muitas famílias se viram despojadas do seu lar, para verem depois esse seu lar vendido ao desbarato, como ainda se vê hoje em dia, em pacotes de dívida transacionada a 30% do seu valor às hienas a quem chamam de donos disto tudo. Isso desta vez, não podemos deixar que aconteça!

Depois, nós todos, em conjunção com todas as entidades, temos que entrar num clima de superação, que obrigatoriamente terá de ser em conjunto, de forma a eliminar burocracias, que ainda que advenham da legislação, encontram naqueles que a implementam, um catalisador desse tipo de barreiras, constituindo por isso a primeira camada de corrupção, que destrói o ânimo de qualquer um. Mas não só, também reconfigurar vidas, empresas, formas de trabalhar que possibilitem uma retoma tão forte quanto possível.

De notar, que apesar de tudo, haverá uma camada substancial da sociedade que não perderá rendimento, pelo contrário, o que com certeza será aproveitado pelas empresas com maior estrutura, que já estarão a trabalhar nos seus planos de negócio para o pós Covid, para campanhas de apelo ao hedonismo, do tipo “contingências podem acontecer de um momento para o outro, o melhor é aproveitar a vida“! Este sentir, que contraria um pouco o que se vai revelando agora com as pessoas eivadas pelo epicurismo, que na sua essência nada tem que ver com hedonismo, de que é possível viver apenas com o essencial, sabendo-se como são os humanos, será o que vai prevalecer apesar das dificuldades.

No sector da construção, que é o meu sector profissional, nos últimos anos, esta tem-se desenvolvido para franjas da população que tendencialmente coincidirão com aquelas que afirmei que não perderão grande rendimento, pelo que passado o susto, retomará sensivelmente a mesma dinâmica, o que para a retoma da economia é essencial, já que este sector é um motor que faz mover quase todos os outros sectores.

Por fim uma palavra sobre os mais velhos (talvez venha a escrever um artigo apenas sobre isto). Ao contrário do que muitos afirmam, os mais velhos não são um custo à economia, tão pouco não são membros ativos da economia, eles são essenciais ao equilíbrio de qualquer sociedade capitalista, como é a nossa, porque há que dar a perspetiva às pessoas de um fim de vida digno, este fim vida digno à custa de pensões que servem uma estabilidade que serviu para acolher os filhos e netos em tempos difíceis como os que aconteceram há bem pouco tempo, para proporcionar aos familiares bens e condições de vida, possibilitarem a existência de vários negócios que não existiriam se não existissem velhos, como é o exemplo dos lares, residências sénior e saúde (as suas enfermidades alavancam negócios de saúde que de outra forma não existiriam).
Portanto as palavras são solidariedade e vontade de superação nestes momentos que são difíceis, mas com certeza de desafio que a humanidade saberá ultrapassar.

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