por | 17 Abr, 2020 | Grandes Louzadenses, Sociedade

Igreja deixa mensagem de esperança nesta Páscoa

Num momento usualmente festivo para os cristãos, estes sofrem as consequências da pandemia que os obriga ao isolamento social e vêm-se impedidos de realizar as celebrações habituais da Páscoa.

Também eles tristes por não poderem estar junto dos seus paroquianos, os párocos tentam através das redes sociais, transmitir a mensagem do tempo pascal e chegar mais perto das pessoas.

O padre José Augusto, pároco do Torno, admite as dificuldades em entender estes momentos e procura nas palavras bíblicas o seu significado. “Entra no teu quarto, fecha a tua porta e reza ao Pai em segredo e Ele, que te vê, te dará a recompensa”, cita. A Quaresma foi, de facto, passada dentro de casa, em isolamento social, o que é para o Padre, motivo de tristeza, ainda mais pelas portas da igreja se manterem fechadas. Apesar de tudo, olha para o futuro com esperança, sendo essa a mensagem que transmitirá aos seus paroquianos. “As pessoas estão a viver isto de uma forma séria. Vamos agora viver a Páscoa com alegria, com esperança, fechados em casa, mas com o coração aberto para o mundo. Não estamos sozinhos. Acho que esta é a novidade da manhã de Páscoa, da ressurreição e da vida. Somos todos chamados a uma vida nova, diferente”, sublinha.

Apesar da impossibilidade de juntar fisicamente os paroquianos nas celebrações, alguns dos rituais pascais irão realizar-se. Na sexta-feira passada, dia da via-sacra, a cruz não passou em todas as estações, mas o pároco deteve-se numa estação, onde parou para refletir: “Nessa reflexão, eu dizia-lhes que estava chegando o tempo em que juntávamos duas mil pessoas no pavilhão. Este momento é novo e diferente. De facto não estamos todos juntos no mesmo espaço, mas estamos todos juntos de uma outra forma”.

Pelo correio, o padre José Augusto fez chegar às pessoas uma oração evocativa da Última Ceia para que “possam, antes da sua ceia, agradecer a Deus com o mesmo pão que têm na mesa. É o mesmo pão que nos alimenta espiritualmente”, diz.

Nem durante a guerra as igrejas estavam fechadas

Aproveitando as potencialidades do digital e das redes sociais, o pároco sente-se mais perto das pessoas. Admite que nunca se tinha imaginado a usá-las para este fim, mas reconhece-lhes vantagens.

A promessa de não cortar a barba, enquanto não puder celebrar missa na igreja, mantém-se. Abrir as portas da igreja é um desejo que espera vir a concretizar o mais cedo possível: “Alguém me disse há dias que passou pela guerra e nunca viu a igreja fechada e, de facto, isso é triste, mas percebemos hoje que a nossa casa também é a casa de Deus”, diz.

Romaria Senhora Aparecida candidata às “7 Maravilhas da Cultura Popular”

Apesar dos momentos difíceis, os Aparecidenses têm um motivo para se alegrarem. A candidatura da Romaria Senhora Aparecida às “7 Maravilhas da Cultura Popular” foi aceite. “É de facto uma boa notícia, que nos agrada e que nos enche de esperança e de alegria”, refere.

Pe José Augusto

É uma nomeação justa que orgulha os Aparecidenses. “É o reconhecimento do trabalho dos quase duzentos anos de história à volta da Nossa Senhora Aparecida. Independentemente do que possa acontecer no futuro, para nós será sempre a primeira das maravilhas”, sustenta.

Em relação à edição deste ano da Romaria, não está cancelada e vai mesmo acontecer no dia 14 de agosto. “Não sei se acontecerá da mesma forma, com a pompa e circunstância do costume, mas o dia manter-se-á. Espero que aconteça o melhor e que se viva a festa na rua”, diz.

“Abre a janela da tua casa, deixa entrar o sol da Páscoa”, padre José Augusto

“Abre a janela da tua casa, deixa entrar o sol da Páscoa, a alegria de Cristo ressuscitado e vive com alegria este tempo, porque a tristeza é o primeiro sinal da falta de esperança”. É esta a mensagem que deixa a todos aqueles que estão sozinhos, como ele. Por fim dirige uma palavra especial: “Não tenhais medo, eu estou convosco e estou até ao fim”.

Para o padre Paulo Godinho, pároco das freguesias de Boim, Cristelos, Pias e Silvares, o atual momento de isolamento foi uma drástica mudança na sua vida. Descrevendo-se como “alguém que gosta muito de fazer da vida um constante encontro com os outros”, sente-se naturalmente triste pela ausência desses momentos de partilha.

Quando tomou conhecimento do encerramento das escolas no concelho, Paulo Godinho confessa que ficou assustado. Reconhece, que o importante é preservar a vida, por muito que custe o isolamento e a contenção.

Pe Paulo Godinho

Natural de Ovar, concelho que vive uma situação de cerco sanitário, devido à proliferação do Covid-19, segue com apreensão a situação. É lá que tem as suas raízes e a família. “Estando a 80 quilómetros daquela terra não deixo de me unir ao sentimento que trespassa o coração de toda aquela gente, sobretudo da minha família. Sinto tristeza de me ver privado do encontro físico com os meus”, diz. Desde 16 de março que não regressa a terras de Ovar, cumprindo as diretrizes que da autarquia e da DGS. “Mas está-me a custar e muito! Nunca é de mais um filho sentir o aconchego do pai e da mãe, sentir o aconchego da avó e do resto da família”, confessa, explicando que tem uma ligação muito forte com a família.

Internet ajuda a manter proximidade

Para o Padre Paulo Godinho, a marca principal da Igreja está na sua proximidade com as pessoas, sem a qual perde a sua identidade. “Uma igreja que não seja próxima não é de Jesus”, explica. Por isso, com as portas da igreja fechadas, o sacerdote procura adaptar-se às circunstâncias, usando a Internet para comunicar com os paroquianos, através da música e da oração. “Ainda bem que, na circunstância que estamos a viver, temos a oportunidade de utilizar todos estes instrumentos que temos ao nosso alcance e fazer uso deles. São também para nós instrumentos de evangelização ao longo destes dias”, conta.

A resposta das pessoas tem excedido as suas expectativas: “As pessoas também têm demonstrado uma generosidade e uma compaixão para comigo que me tem sensibilizado muito”. Assim, através da interação digital, sente-se próximo das pessoas: “Elas podem ouvir-me e eu, no coração, estarei a ouvir a voz de cada uma delas, em cada um os seus comentários, nas suas reações”, diz.

A música tem para si um lugar extremamente importante, “pois é a forma mais bela que eu encontro para evangelizar e dar a conhecer a Boa Nova deste Deus, que não é um Deus que se afasta, mas que se aproxima ainda mais nestes momentos mais difíceis”.

Impedidas as celebrações habituais nesta Páscoa, o Padre Paulo Godinho é da opinião que cada um deve procurar preparar-se para receber Jesus, “neste momento especial dedicado à família”. “O que nos é pedido é que façamos o que está ao nosso alcance”, refere.

Lousadenses convidados a tocar o sino da Páscoa

Para ajudar os crentes a viver a fé nesta quadra festiva, o Padre vai lançando alguns desafios, um dos quais revelou aO Louzadense: “No dia de Páscoa, no final da Eucaristia que vou fazer, tomando todas as precauções, todos os sinos das igrejas irão repicar ao mesmo tempo. Casa um, em sua casa, pode tocar um sino ou uma sineta. É um sinal simples, mas que nos recorda este tempo pascal”. Ao longo da tarde de domingo, os sinos irão também tocar e haverá um sinal sonoro, “de hora a hora, para que as famílias, ao escutarem-no nas suas casas, nesse preciso momento, se possam dedicar um bocadinho à oração em família”. Esse será o grande desafio ao longo do domingo de Páscoa. Mas os paroquianos podem ainda contar com o dinamismo durante a tarde na página das paróquias, onde poderão ler mensagens e sentir, assim, que ao longo daquele dia o seu pároco está com elas.

Paróquias Solidárias Covid-19

Neste momento, o país e particularmente as unidades de saúde confrontam-se com o problema da escassez de meios para combater o Covid-19. Por essa razão, as paróquias do padre Godinho estão unidas na recolha de fundos para aquisição de monitores de sinais vitais e bombas perfusoras para doar ao Hospital Padre Américo. “A solidariedade é uma das formas mais belas de exercermos a caridade no mundo. Podemos não conhecer os nomes nem os rostos dos outros, mas sabemos que existem e que podem estar a passar por momentos de maior dificuldade. A nossa solidariedade não se pode circunscrever apenas àqueles que temos à nossa volta. Temos que nos abrir à universalidade. Somos responsáveis uns pelos outros estejamos nós onde estivermos”, sustenta.

O padre Paulo Godinho deixa a todos uma mensagem de esperança e de vida: “É a esperança que nos alimenta, que nos fortalece, que nos guia, para não sentirmos nunca a vontade nem o desejo de deitarmos a nossa vida por terra. Viver a Páscoa é viver na certeza de que juntos somos mais fortes. Conto com todos e quero deixar a certeza de que todos podem contar comigo. Mesmo à distância, estamos sempre unidos no coração e na vida”.
André Soares, vigário e pároco de Sousela e Meinedo, também considera que os tempos que vivemos implicam uma grande capacidade de nos reajustarmos. A situação que vivemos é inédita na história da Igreja que conhecemos e os sacerdotes têm de ser criativos para continuarem a manter o elo com os paroquianos. “As pessoas vêm muito menos, mas têm essa necessidade. Sinto que as pessoas, como estão confinadas em casa têm necessidade de sair”, refere.

Para este sacerdote, têm sido duras as últimas semanas, particularmente na Quaresma, que exige a proximidade com os fiéis: “Nós vivemos sozinhos, a nossa família é a comunidade paroquial, e estamos a passar por alguma tristeza por não podermos estar com quem gostamos”, lamenta.

Dado que o atendimento físico é escasso e apenas para satisfazer necessidades básicas, o Padre André Soares vê com bons olhos o uso das redes sociais que estão a ser usadas por muitos párocos para se aproximarem dos paroquianos, quer seja através da oração, da música ou da celebração da Eucaristia. “Os meus colegas têm, sem dúvida, procurado ser bastante criativos”, diz.

Mas nada substitui aquele abraço que tanto gostaria de dar. “Mas nós sacerdotes temos de ser também agentes de saúde pública”, realça. Sobre este aspeto, considera que os lousadenses levaram a sério a prioridade com a saúde pública, talvez por Lousada ter sido dos primeiros concelhos a registar casos de Covid-19.” A forma como temos lidado com a situação tem sido um exemplo para o país”, sustenta.

Solidariedade é surpreendente

O Padre André Soares enaltece ainda o trabalho daqueles que não param e que prestam ajuda aos mais desfavorecidos. Enquanto presidente do centro social, sente esse dever de apoiar as pessoas, tratando de questões tão básicas como tratar do lixo, levar as refeições e fazer a higiene. “Por aquilo que eu tenho assistido, nós temos sido pioneiros e temos manifestado este carinho, este acompanhamento: vejo farmácia a entregar medicamentos ao domicílio, vizinhos a ajudar funcionários das instituições, a darem aquilo que podem e o que não podem”, diz.

Pe André Soares

“Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe”. Este é o ditado popular que este pároco cita, para falar da fé que caracteriza os cristãos e que exige partilha, entrega e fraternidade, para contrariar o egoísmo, que por vezes também se revela nestes momentos.

Nestes tempos difíceis, que são também, na opinião do pároco, uma prova à nossa fé, temos de nos fazer presentes de forma mais criativa, enviando uma mensagem ou uma fotografia, e tornar as nossas casas igrejas domésticas: “O Pai pode chegar numa leitura da Bíblia ou no assistir a uma missa em família em sua casa”, sugere.

“Fique em casa. A quem não pode, pois o país não pode parar, agradecemos-lhes. Melhores tempos virão”. É este o conselho, o agradecimento e a palavra de esperança do Padre André Soares.

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