por | 17 Abr, 2020 | Grandes Louzadenses, Sociedade

Instituições de solidariedade em alerta constante

Idosos são os mais vulneráveis

O momento de pandemia, que se vive em Portugal e no mundo tem fustigado de forma mais intensa as instituições de solidariedade, que albergam idosos ou pessoas mais debilitadas. A situação requer toda a atenção de quem dirige estas instituições e dos profissionais que lá trabalham.

O provedor Bessa Machado tem estado em alerta constante, visto que a Santa Casa da Misericórdia de Lousada possui vários idosos nas Estruturas Residenciais Para Pessoas Idosas (ERPIs). Apesar de considerar que há situações difíceis de prever, o Provedor pensa, que o facto de a pandemia ter chegado mais tarde a Portugal deu algum tempo para que se percebesse que era “um verdadeiro incêndio”, no entanto, considera que esse tempo não foi totalmente aproveitado, pois: “Acho que, antecipadamente, as pessoas deveriam estar preparadas em termos de equipamentos de prevenção e em termos de instruções. Agora, o que se está a dar é em catadupa, sem a calma e a tranquilidade, que o assunto exigia, pois houve tempo para se ter isto bem mais equipado e preparado”, diz.

Recorde-se, que o primeiro infetado que se conhece em Portugal passou pelo Hospital da Santa Casa da Misericórdia, “numa fase inicial, em que não havia em Portugal nenhuma orientação em sentido algum”, explica. O adensar da situação levou ao encerramento da maior parte dos serviços do Hospital: “Em primeiro lugar, os médicos começaram a ter dificuldade em ligar para a linha da Saúde 24 e não estavam preparados para lidar com a situação, sobretudo no serviço de atendimento permanente, sabendo-se que havia aqui um foco”, conta.

Lar da Santa Casa sem infetados

Relativamente às ERPIs (vulgarmente conhecidas por lares), Bessa Machado recorda, que mesmo antes de o Governo decretar o cancelamento das visitas, a Santa Casa implementou essa medida, o que permitiu manter os idosos afastados de possíveis contágios. “Não quer dizer que não possa haver aqui pontes, pois há trabalhadores que lidam com eles todos os dias, e isso ninguém domina”, alerta.
Apesar do ambiente muito tranquilo que se vive na instituição e de ser notória a união, confessa que há sempre algum receio: “As pessoas unem-se muito mais no sofrimento do que na alegria. Ainda há bocado me mandaram uma fotografia a dar apoio”, conta.

Apesar de reconhecer, que localmente “temos uma rede de apoio bastante boa, em que estão envolvidas várias instituições”. Diz também, que a Santa Casa tem prestado apoio aos cuidadores informais, sobretudo apoio psicológico, uma vez que o bombardear de informação na comunicação social faz com que se sintam perdidos. “A contabilidade dos doentes, dos infetados, dos mortos… Para uma pessoa de idade mais fragilizada é o fim do mundo. Tem de haver um acompanhamento para desmitificar um bocadinho as notícias”, refere.

A Santa Casa está preparada para servir outros utentes e já disponibilizou camas ao Ministério da Saúde: “A DGS está a admitir, que alguns doentes poderão recuperar em instalações deste género. Temos um piso na ampliação do hospital e estamos a terminar um outro, com cerca de trinta camas”.

Genericamente considera, que a resposta portuguesa ao Covid-19 tem sido positiva, mas reconhece que, em termos de comportamento, estamos longe dos orientais. “A mentalidade oriental é diferente. Na quarentena, toda a gente fica em casa. Aqui diz-se quarentena e toda a gente vai para a rua. Na China é possível fechar uma cidade com milhões de habitantes, aqui não é tão fácil. Para fechar Ovar foi o que foi. Só mesmo em situação de tragédia é que arrepiamos caminho”, comenta.

Ainda cético quanto à dimensão que a tragédia pode ter em Portugal, o Provedor diz que vai depender muito dos 20% de infetados, cuja recuperação é mais difícil, sendo aí que reside o problema. “Tudo depende como e quando chegam aos cuidados intensivos”, afirma.

Mais preocupado neste momento com a saúde pública e particularmente com os utentes, não esquece também a economia e admite não saber qual é pior para o futuro, “pois a vertente económica vai-nos trazer consequências graves. A perspetiva é que pode ser até pior que a crise de 2008”, teme. Neste âmbito, considera que o Estado terá um papel crucial na ajuda aos mais desfavorecidos, para minimizar as consequências da crise. “A economia europeia vai sentir-se de forma gravosa, e nós temos uma economia mais débil que as outras economias. A própria Itália já fala de uma recessão grave. Imaginem nós com uma economia tão débil”, alerta.
Bessa Machado deixa, no entanto, aos Lousadenses uma mensagem de tranquilidade e esperança, lembrando que na vida há altos e baixos, alegrias e tristezas. “Não vamos morrer todos, cerca de 90% dos doentes não vão morrer certamente. Temos de encarar isto como uma gripe mais complicada. Ainda no ano passado morreram mais de três mil pessoas e isso não foi notícia”, refere. O importante, explica, é seguir à risca a prevenção, para conter a velocidade da infeção. “Se cada um achar que o seu contributo não é necessário vamos pelo caminho errado. Isto depende muito de nós, temos de ser muito disciplinados”, avisa.

Associação de Solidariedade Social de Nespereira com segunda e terceira linhas de intervenção

O Louzadense esteve também à conversa com Pedro Magalhães, presidente da Associação de Solidariedade Social de Nespereira, que oferecia, até à chegada da pandemia, a valência de centro de dia sénior. Neste momento, a instituição acompanha os idosos que estão nas suas residências.

▲Pedro Magalhães, presidente da ASS Nespereira, apresentando o novo projeto para a associação

O problema obrigou-o a tomar medidas “da noite para o dia”. Tanto a creche como o centro dia fecharam portas no dia 9 de março, tendo em conta o público destas duas valências, 35 crianças e 18 idosos, embora o encerramento do centro de dia tenha sido iniciativa da direção da instituição: “Os idosos são da faixa etária de maior risco e, se um idoso ficasse contaminado e transmitisse a doença aos outros, estaríamos perante uma situação mais trágica e mais lamentável”, justifica.

Pedro Magalhães tem consciência de que o problema veio para ficar durante algum tempo e isso é assustador. “Não é fácil ter um plano de contingência para uma entidade como a nossa”, reconhece. Apesar disso, o plano desta Associação inclui espaço de isolamento na instituição. Por outro lado, o encerramento da creche deixou pessoal disponível para prestar apoio domiciliário. “Nós temos pessoal de retaguarda, segundas e terceiras linhas de intervenção e estamos a fazer apoio domiciliário e a fornecer algumas refeições”, conta. Se houver um contágio ou uma suspeita, que impossibilite a equipa de serviço atuar, existem equipas de segunda e terceira linhas para entrarem em funções. “Nós tivemos uma suspeita com um idoso e logo a assumimos que os funcionários fossem para casa, pois não podemos correr riscos. Por acaso, não se confirmou, pois despistamos essa situação, mas entrou logo uma segunda linha”, explica.

Relativamente aos equipamentos de proteção, que considera-os muito importantes e assume que foi uma preocupação desde o início. “Para já, temos os equipamentos garantidos e estamos salvaguardados nessa questão a nível de proteção pessoal”, garante.

Pedro Magalhães releva que Lousada está a combater a pandemia de forma eficaz: “Nós, como IPSS fomos ouvidos. A Câmara Municipal esteve bem, criando em todo o concelho pontos de apoio geográficos. Para Nespereira e para as outras freguesias vizinhas, fomos criando serviços básicos, de alimentação, compras, o que for necessário… Estamos aqui prontos para todas essas necessidades”, refere.

Aos lousadenses apela à prevenção e ao cumprimento das regras de higienização e distanciamento, para conter a doença.

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