Associação Humanitária dos Bombeiros assinala 94º aniversário
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lousada foi fundada a 13 de junho de 1926, tendo completado 94 anos. No passado domingo, foi assinalada a data, com algumas restrições. O tradicional hastear das bandeiras, a romagem aos cemitérios e a missa solene fizeram parte do protocolo.
Antero Correia, de 60 anos, é o presidente dos Bombeiros Voluntários de Lousada, cumprindo o seu segundo mandato à frente da Associação. Considera que foi um aniversário diferente, devido à conjuntura atual e ao perigo eminente da pandemia, mas a festa não podia deixar de se realizar. Com contenção, tiveram lugar os rituais: “Fizemos uma pequena formatura logo de manhã, já habitual, com o hastear das bandeiras, depois fizemos a habitual visita aos cemitérios e tivemos uma cerimónia solene com a presença do presidente da Câmara Municipal (CM) de Lousada, Pedro Machado”, refere.
O dia foi de boas notícias para a corporação, com a atribuição de um seguro de saúde aos bombeiros por parte da autarquia lousadense, “o que muito nos honra e foi um bem precioso e merecido para os bombeiros”, afirma. A cerimónia foi ainda uma oportunidade para apresentar algumas das preocupações dos bombeiros e de ouvir algumas respostas da parte do presidente da CM: “Hoje, mostrou-nos a todos nós uma recetividade para com as nossas preocupações muito maior, mais sensível às nossas preocupações. Tem tido um interesse e um carinho especial para que as situações problemáticas dos bombeiros sejam ultrapassadas e resolvidas”, transmite.
Os efeitos da pandemia fizeram-se sentir de forma dura nos bombeiros, que se viram forçados a adquirir material de proteção individual, como máscaras. O presidente da instituição refere que a CM mostrou preocupação em ajudar: “Sei que fez uma encomenda muito grande de máscaras, mas que, por algum contratempo, ainda não chegaram, mas irão chegar”. Apesar de o apoio não ser o que desejaria, louva o empenho da autarquia.
Comandante foi a escolha certa
Apesar do duro golpe que o país sofreu com a Covid 19, Antero Correia regozija-se de ter “um corpo de bombeiros estabilizado e bem comandado”. Na figura do comandante reside o seu otimismo em relação ao futuro, acreditando que irá levar a instituição a bom porto, pois tem dado provas disso. Apesar de tudo, reconhece que não é fácil: “Há sempre dificuldades que vão sendo ultrapassadas, não tanto pela arrogância, mas sim pela ponderação e compreensão, como deve ser”. Admite que há sempre decisões que causam dissabores a alguns bombeiros, que encara com naturalidade: “Quando estamos numa associação e temos de seguir determinadas normas, determinados princípios, tem de haver regras, que têm de ser impostas, e ele está a fazer isso sem grandes quezílias, tratando toda a gente por igual. Se tiver de repreender repreende, se tiver que louvar, louva, para o bem da associação e do corpo de bombeiros”, diz sobre o comandante. Esta postura começa a “dar frutos” e as evidências estão aí: “Temos o corpo de bombeiros bem organizado, preparado, e estamos a pacificar todos os mal-entendidos que existiam. Ele está a mostrar que é um comandante competente. Eu tenho a certeza de que mais uma vez acertamos na pessoa e que Lousada só tem a ganhar”, acredita. Recorde-se que o comandante em funções, José Carlos Aires, foi bombeiro durante muito tempo. Antero Correia descreve-o como uma pessoa “que gosta de fazer as coisas muito bem feitas” e antecipa já o futuro, esperando que o atual comandante o ajude a preparar um sucessor: “Quando este comandante terminar a sua comissão, gostava de ter alguém para o substituir de Lousada. Seria este o meu anseio de ter um comando constituído por lousadenses”.
Mas as preocupações em relação ao futuro são mais amplas e incluem a aquisição de equipamentos individuais de proteção. Uma reivindicação antiga, importante, com promessas incumpridas como resposta por parte do governo: “Alertei o presidente da Câmara Municipal para esta situação e ele disse que iria indagar sobre essa reivindicação, estando disponível para nos ajudar nesta situação. É fundamental, pois um bombeiro bem protegido é um bombeiro preparado para dar proteção às pessoas”, sustenta.
Remodelação das atuais instalações ou construção de raiz?
Outra das preocupações tem a ver com o problema das instalações. Há muito que os bombeiros anseiam melhorar a sua casa. Da parte da autarquia, Antero Correia vê disponibilidade para ajudar, mas não está ainda claro qual a decisão sobre as instalações. Serão de raiz ou remodeladas as atuais? “Temos de ponderar para que lado havemos de decidir, mas que há disponibilidade de facto por parte da Câmara para nos ajudar a construir as instalações”, diz.
Neste momento, o corpo de bombeiros está dividido em duas secções: a secção de socorro dentro do quartel, e as equipas de EIP (Equipas de Intervenção Permanente) instaladas no Complexo Desportivo, nas instalações cedidas pela CM, para não correrem o risco de contaminar muita gente. O quartel atual não tem condições para fazer o aquartelamento “dentro das medidas exigidas pela DGS. A CM foi compreensiva, disponibilizando as instalações. Ainda vai havendo esta parceria, pois, caso contrário, nós para termos uma equipa protegida, teríamos de ter os bombeiros em casa, o que era muito mau”, explica. Resolver o problema das instalações é, por isso, premente e foi esta uma das preocupações que fez chegar a Pedro Machado. Uma preocupação que o acompanha praticamente desde o início do seu mandato: “Tomei posse há seis anos e, após seis meses, estava na Assembleia a dizer que era preciso resolver o problema das instalações. Nessa altura, alertei que havia uma candidatura para fazer a ampliação do quartel. Se calhar, fui cedo de mais, e acabamos por perder esse apoio, pois as pessoas não acreditaram que era possível”, recorda.
Preocupação com equipamento de proteção
Apesar da premência das instalações, Antero Correia recusa-se a “hipotecar o saldo financeiro da Associação” para tentar construir a todo o custo as instalações, “correndo o risco de amanhã não termos dinheiro para socorrer as populações”, esclarece. E dá o exemplo da pandemia que o obrigou a adquirir muito equipamento de proteção, tendo recursos financeiros para o fazer, ao contrário de outras corporações. “O Estado levou tudo e depois disse ‘desenrascai-vos’. Eu tenho 90 pessoas que merecem a máxima de consideração. Se eu não os proteger, não estou aqui a fazer nada. Não posso hipotecar o bom funcionamento da associação e a segurança dos bombeiros”, refere. Bombeiros bem formados e bem equipados são os dois pilares da sua ação: “Se não tiver equipamento, eles não prestam um bom socorro”, sustenta.
Aos seus bombeiros recomenda, nos tempos que correm, que se cuidem, protejam e sejam contidos, pois a população precisa deles. A pandemia não passou e, por isso, deixa também conselhos aos lousadenses para que mantenham os cuidados.
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