Por José Carlos Carvalheiras
Era filho de lavradores da freguesia de Sousela, mas António Gomes Ribeiro achou que tinha outro futuro que não a lavoura. “Foi quando caiu de uma cerejeira que ele disse que aquilo não era vida para ele e que queria estudar”, revelou Maria Goreti Soares, com quem casou. Ele fez-se aluno, especializou-se em serviços de escritório e de gestão de armazéns e de produção, primeiro em Aveiro e depois em Penafiel, até que foi contratado para a grande Fabinter. Foi vereador e presidente da Associação Desportiva de Lousada. Muito mais se esperava dele, mas uma morte súbita e estranha acabou com os seus sonhos.
Quando se lhe pergunta quais as qualidades que mais destacava nele, Maria Goreti responde prontamente que “ele era inteligentíssimo e um trabalhador incansável”, salientando que “quase sempre às seis horas da manhã já ele tinha saído de casa e costumava dizer com uma mistura de brincadeira e de seriedade que os dias da semana deviam ter 48 horas para renderem mais”.
Desde muito novo que as capacidades de organização e de gestão deste Louzadense se fizeram notar. Esses predicados chegaram aos ouvidos do empresário Hans Isler que o contratou para a Fabinter onde se tornou num dos mais brilhantes profissionais do seu ramo. A aquisição de um jovem de 24 anos para as tarefas de grande responsabilidade como eram a gestão e concessão de serviço em outsourcing 6 espantaram muitos. Mas revelou-se uma aposta ganha.
A sua dedicação e perícia depressa fizeram dele o braço direito de Hans Isler, o patrão da Fabinter, que depositava nele uma tal confiança que o nomeou para encabeçar negócios importantes de externalização e exportação. A confiança profissional estendeu-se depressa à amizade pessoal, a ponto de as famílias Isler e Ribeiro conviverem frequentemente não só em Portugal como também no estrangeiro. A esse propósito, Maria Goreti Soares recorda com nostalgia e um radiante brilho nos olhos a comemoração do Natal das duas famílias nas estâncias de neve da Suíça.
“O Isler foi-se muito abaixo após a morte do António e eu estou certa de que isso acelerou a decadência da Fabinter”, confidenciou a viúva deste Louzadense. Também António Soares, primo e antigo colega de trabalho de António Gomes Ribeiro, é dessa opinião. Este empresário aposentado acrescenta que “ele faleceu num acidente estúpido que transtornou todos e ceifou uma vida que iria ser seguramente espetacular a todos os níveis pois ele estava a construir um império com o seu suor e o seu saber”.
António Soares recorda por exemplo “os notáveis negócios de exportação que ele fazia, nomeadamente com Angola, que na altura eram de uma envergadura que não estava ao alcance de qualquer um devido à complexidade das operações porque implicavam a vinda de algodão de Angola, passando pela transformação têxtil no Vale do Ave e culminando na confeção de anoraques na Fabinter”.
Outro exemplo dessa sua sagacidade foi a aquisição da Quinta das Telheiras, em Ermesinde, detentora de um imenso valor histórico e patrimonial. Ali se encontra ainda muito do espólio adquirido por este empresário que era um admirador de antiguidades tradicionais portuguesas, as quais colecionava com especial interesse e dedicação. Tinha por exemplo uma vasta coleção de candeeiros de petróleo.
Não só pela prematuridade do falecimento mas também pela notoriedade do falecido, a morte de António Gomes Ribeiro foi notícia de primeira página no Jornal de Louzada que então era o único órgão de informação do concelho.
“Causou grande consternação em todo o concelho de Louzada e nos meios que frequentava o falecimento ocorrido no passado dia dois, do ainda jovem industrial lousadense António Gomes Ribeiro”, assim principiava a notícia na edição do Jornal de Louzada de 15 de Agosto de 1981. E continuava: “um acidente roubou a vida a este lousadense na flor da idade, quando ainda se esperava das suas qualidades até então amplamente demonstradas em várias vertentes. Foi sobretudo como industrial que se destacou mas também como vereador da Câmara Municipal de Louzada [foi eleito pelo PSD, tendo feito parte de um executivo composto por Amílcar Abílio Pereira Neto (presidente), Prof. Anastácio Gaspar Monteiro Leão, Paulo Afonso da Cunha, Belarmino Fortuna, António Carlos Cunha Pacheco e António «Massas» Fernandes, estes três do Partido Socialista]. De igual modo se notabilizou como dirigente desportivo na presidência da Associação Desportiva de Louzada, em meados da década de setenta”.
O associativismo mereceu muita atenção e apoio deste empresário que nutria especial simpatia pelos Bombeiros Voluntários e pela Associação Musical. Mas nesse aspeto era a Associação Desportiva de Louzada a menina dos seus olhos e não perdia um jogo tanto em casa como em campo adversário, acabando por se tornar num dos mais notáveis presidentes da ADL.
“Aí, ele investiu tanto dinheiro no clube, muito do qual ficou por lá e não voltou”, disse a viúva atestando essas afirmações com os livros de contas que ainda guarda por estimação e como relíquia.
No referido artigo do semanário Jornal de Louzada lê-se que “muito lhe devem a Associação Desportiva de Louzada (ADL) de quem foi presidente da Direção, tendo sido o principal obreiro da ampliação do campo de futebol e construção das bancadas e dos balneários”. No dia 26 de Dezembro de 1983, foi comemorado o 35º aniversário da ADL, ocasião que foi aproveitada para uma homenagem póstuma a António Gomes Ribeiro. O ponto alto das comemorações consistiu num jogo entre o Louzada e o F. C. do Porto, treinado por António Morais. “Foi um dos principais colaboradores da Fabinter e era sócio-gerente de duas firmas ligadas ao sector da exportação. O seu funeral constituiu uma das maiores manifestações de pesar até hoje vistas em Louzada e o seu corpo ficou sepultado no cemitério de Nogueira”, culminava a notícia do Jornal de Louzada.
António Gomes Ribeiro nasceu em 18 de Fevereiro de 1949 e faleceu com apenas 32 anos de idade, por afogamento, no dia 2 de Agosto de 1981. Deixou dois descendentes, Hélder e César Santos Ribeiro.
Por decisão unânime da edilidade local, o nome de António Gomes Ribeiro consta desde 1985 da toponímia local, mais concretamente dando nome à rua que liga a Rua da Bota à Rua do Comércio.












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