António Cunha: o homem que nasceu para ser empresário
Natural de Caíde de Rei, nasceu empresário e cedo percebeu que queria alargar fronteiras. Define-se como um homem simples e honesto, que nasceu na aldeia, onde deixou as suas marcas no associativismo e política, mas que procurou o desenvolvimento. António José Soares Coelho da Cunha reside em Angola há mais de 30 anos, onde estão sediados muitos dos seus negócios, juntamente com Portugal e Moçambique.  

António Cunha nasceu em 1957, em Caíde de Rei, onde cresceu, com uma infância “normal”, com o sonho de criar os seus próprios negócios. “Com 14 anos fui para o Porto e aí comecei a trabalhar e estudar à noite”, onde concluiu o atual 12ºano, na Escola Industrial do Infante D. Henrique. Mais tarde, frequentou o Instituto Industrial do Porto, até ao 2º ano, que lhe serviu de base para o sucesso alcançado na atividade empresarial, mas que não terminou, por “força e necessidade de trabalhar” e, por isso, considera que tem o “curso da vida”. 

A decisão de sair de Caíde sempre esteve muito presente na sua vida. “Fui crescendo e sempre tive a ideia de que gostaria de sair da terra”, refere, explicando que “na terra não temos as mesmas possibilidades, saindo temos hipóteses muito maiores de crescer e temos visões muito mais alargadas”. 

Por isso, aos 14 anos, já sabia que não queria trabalhar por conta de outrem, mas ter o seu próprio negócio. Foi então que começou o percurso profissional, que se viria a transformar numa rede de várias empresas. Aos 18 anos, foi sócio e fundador de uma Fábrica de Tintas, em Viseu. A experiência adquirida levou-o a investir numa Fábrica de Tintas, que denominou de “Tintas Europa”, no distrito de Vila Real. Para além destas, fundou, desenvolveu e mantém a atividade de muitas outras empresas. 

“Nem todas as pessoas nascem com essa virtude de poderem ser empresários, nem toda a gente pode ser trabalhadora, mas eu acho que quando nascemos, já nascemos com génese de liderança ou não.” 

“Não sabia se era ou não empreendedor, o que eu achava é que se tínhamos capacidade de trabalhar por nós próprios e dar emprego aos outros, é muito melhor. Naturalmente que nem todas as pessoas nascem com essa virtude de poderem ser empresários, nem toda a gente pode ser trabalhadora, mas eu acho que quando nascemos, já nascemos com génese de liderança ou não. Sou homem que sempre teve a ideia de trabalhar sozinho, criar os meus negócios, ser empreendedor e é assim que tenho feito ao longo dos anos”, exprime. 

António Cunha a visitar algumas obras em execução pela empresa 7 Cunhas/Angola

Embora hoje já não saiba se “é bom ser empresário ou se é bom ser empregado, nomeadamente ser empregado do estado”, não trocaria isso “pelo facto de ser independente, de não prestar contas a ninguém e, por isso, não estou, de forma nenhuma, desiludido com a minha opção de vida, mas nem todos nós nascemos para ser líderes”, acrescenta. 

Começou com o negócio na área da construção civil, mas “rapidamente espalhei-me para fora do país tentando exportar os meus produtos. Gostei sempre de investir em Portugal, mas gostei mais de procurar novos mundos e tentar expandir os meus negócios”, conta o empresário. 

“Iniciei-me a exportar para Angola, há cerca de 30 anos, e fui desenvolvendo lá. Hoje tenho 90% dos negócios em Angola”, revela, mencionando que, antes de iniciar os seus negócios, tentou vários países. 

“Comecei pelos Estados Unidos. Primeiro fui ver, não fui trabalhar, e era um país que estava em grande crescimento, muita emigração para lá, mas não sabia inglês. Depois África do Sul também era bom, mas havia o Apartheid, regime de segregação racial, e também não sabia inglês. Depois fui para o Brasil, achei muito interessante, era muito bom para passar férias, mas não achei que fosse um bom país para poder investir. Fui a Moçambique e também não gostei. Então, por último fui a Angola, que gostei e tem uma vantagem: estamos a 7 horas de Portugal e o avião é direto. Para Moçambique, onde tenho também negócios, eram mais 4 horas, então optei por Angola e em 1980 fiz os primeiros investimentos. Em 1986 já criei negócios próprios em Angola”, confirma. 

“Não há nenhum negócio bom, não há nenhum país bom, porque há ideia de que chegamos a um país e abana-se a árvore e começa a cair dinheiro, mas não. É preciso primeiro sonhar, é preciso tratar bem essa árvore é preciso deixá-la crescer, tratá-la e depois vamos tentando começar a ter frutos.”

E por Angola ficou até ao momento. “Tem sido um país de sucesso, com altos e baixos, com dificuldades. Não há nenhum negócio bom, não há nenhum país bom, porque há ideia de que chegamos a um país e abana-se a árvore e começa a cair dinheiro, mas não. É preciso primeiro sonhar, é preciso tratar bem essa árvore é preciso deixá-la crescer, tratá-la e depois vamos tentando começar a ter frutos. Depois um bocadinho desse fruto e desse rendimento vamos guardando e vamos reinvestindo”, alerta. 

António Cunha cumprimentando o Presidente da República de Angola, João Lourenço

Em Lousada, ainda mantém um negócio de construção civil, “onde constrói para venda, mas empresas muito pequenas. Tenho outra no Marco de Canaveses, na parte agrícola, outra em Vila Nova de Gaia, de investimento turístico e alojamento local e outros negócios, nomeadamente as Tintas Europa, que é a empresa mãe, que sempre foi a empresa que deu o protagonismo, a força e o crescimento para poder lançar-me para o mundo”. 

Embora a empresa seja liderada por António Cunha, “somos sete irmãos, oito sobrinhos e seis cunhados, portanto aquilo que temos de fazer é investir e puxar a família a trabalhar connosco. Há muita gente que diz que é impossível trabalhar com a família, mas eu acho que é mais fácil, é com a família que convivemos, é a família que temos mais por perto. Tenho muitas pessoas a trabalhar comigo da família e tenho muito mais de fora, naturalmente, mas depois temos de encontrar a pessoa certa na hora certa e temos de confiar nas pessoas e, essencialmente, de as valorizar e pagar-lhes, porque às vezes há pessoas que gostam de ter as pessoas todas, mas não gostam de lhes pagar, não gostam de lhes dar o verdadeiro valor”, refere. 

Sobre a continuidade do negócio, o empresário aponta a próxima geração. “Tenho dois filhos e são, naturalmente, esses os continuadores e tem sido essa sempre a minha visão de que os meus filhos são os meus continuadores e os meus familiares. Eu penso no sentido de ter sempre os meus negócios organizados, ter as minhas empresas organizadas, de forma a terem futuro. Quanto ao futuro, a Deus pertence, mas os negócios têm de funcionar por eles próprios e não tem que quando o timoneiro se reformar ou morrer os negócios parem. Não acho que nenhum dos meus negócios vá parar quando um dia me reformar”, confessa. 

A forte ligação ao associativismo 

O gosto pelo associativismo e, nomeadamente, o desporto, sempre estiveram presentes na vida do empresário. “Sempre gostei de apoiar as coletividades e, nomeadamente, em Caíde, terra que me viu nascer. Estive em várias situações e Caíde tem meia dúzia de coletividades que tiveram mais ou menos o meu dedo. O mais relevante é a Associação dos Voluntários de Caíde, que funcionam muito bem na parte de apoio à saúde”, confirma. 

Para além dessas, fundou o Grupo de Jovens de Caíde, em 1974, e foi Presidente da Direção da Casa do Povo entre 1989 e 2008. Em 1990, fundou o Infantário e a Associação dos Voluntários de Caíde, onde, atualmente, é Presidente da Assembleia Geral. 

Bênção de uma viatura da Associação dos Voluntários de Caíde

Em 1986, foi fundador da Rádio Voz Caídense, da Rádio Jovem do Freixo e do Caíde de Rei Sport Clube, onde manteve funções de diretor até 1990. Seguiu-se no cargo de Vice-presidente da Direção da Associação Desportiva de Lousada, entre 1990 e 1992, e Vice-presidente do Grupo Desportivo de Chaves, entre 1992 e 1993. 

No ano de 2002, foi condecorado pelo Governo da República Portuguesa com a medalha de “Honra ao Mérito Desportivo” pelos serviços prestados à nação, que foi publicado em Diário da República e entregue pelo Secretário de Estado da Juventude e Desporto, à época, Hermínio Loureiro. Também o seu trabalho na área social foi condecorado pela Liga dos bombeiros Portugueses com a “Medalha de Ouro de Mérito”. 

“Estive na criação do futebol e, nas associações que não criei, apoio através das minhas empresas financeiramente. É claro que noutros tempos as situações económicas eram mais agradáveis, mais fáceis e possivelmente apoiei mais, mas hoje continuo a apoiar dentro das contingências. Normalmente, quando tinha os meus tempos mais livres, dedicava-me ao apoio dessas associações e fiz aquilo que achava que devia fazer e estou consciente que fiz o melhor possível”, orgulha-se. 

Em Vila Real, realizou um sonho que durava há 75 anos: a construção da nova sede da Associação de Futebol de Vila Real. 

A passagem pela política 

Apesar do desejo de sair, António Cunha sempre quis deixar marcas na terra que o viu nascer. Por isso, candidatou-se a Presidente de Junta de Freguesia, cargo que ocupou durante um mandato, entre 1989 e 1993. “Eu sempre disse que gostaria de fazer o máximo que pudesse em Caíde e, para isso, teria de ser Presidente da Junta”, observa. 

“Fui candidato, ganhei e tentei revolucionar a Junta de Freguesia, fazer algumas obras que não tinham feito”, explica, referindo que não teve dificuldades dada a experiência que já carregava por ser empresário: “já era gestor e, por isso, gerir a Junta de Freguesia era só perder algum tempo, porque as pessoas gostam de ter atenção, gostam que a lâmpada que fundiu à porta seja reposta, nós só somos interlocutores entre a vontade do eleitor e a nossa possibilidade como presidente de junta”. 

“Não tinha muito tempo para estar todos os dias em Caíde, mas tinha uma equipa que me assessorava muito bem, que funcionava e que resolvia os problemas do povo conforme na gíria se diz.” 

À experiência de vida, juntou uma “boa equipa”, comenta. “Tinha um bom secretário, tinha um bom tesoureiro, tanto que a seguir foram eles os Presidente de Junta durante mais 10 ou 12 anos. Não tinha muito tempo para estar todos os dias em Caíde, mas tinha uma equipa que me assessorava muito bem, que funcionava e que resolvia os problemas do povo conforme na gíria se diz”, defende. 

Aquando da sua entrada no cargo, “a freguesia tinha obras interessantes”, manifesta, referindo aquelas que mais o marcaram: “terminei o edifício da Junta de Freguesia, criei o infantário, fiz o quartel dos bombeiros e recuperei o largo da estação”. 

“Um presidente de junta não pode fazer muita coisa. O presidente de junta é um elo, se estiver a funcionar muito bem com a câmara municipal e se for da cor política da câmara municipal, possivelmente, tem muito mais vantagens. Na altura fui independente pelo Partido Socialista (PS) e o Dr. Jorge Magalhães (ex-presidente da Câmara Municipal de Lousada) deu-me todo o apoio dentro da naturalidade das coisas”, testemunha. 

Questionado sobre as marcas importantes que deixou na freguesia, afirma que não deve ser o próprio a dizê-lo. Porém, acredita ter feito o que estava ao seu alcance. “Acho que fiz o que pude. Nunca usei um tostão da Junta, nem para viagens, nem para comer, sempre paguei eu. No lugar que estava tinha acesso a algumas situações, mas tudo aquilo que foi feito, os bombeiros, o infantário, comprar as viaturas, foi sempre com dinheiro meu, porque a Junta tinha muito pouco dinheiro para poder fazer obras. Até o próprio valor que temos direito a receber como presidente de junta, dava-o ao infantário, aos bombeiros, nunca quis dinheiro relativamente a esse assunto”, confessa. 

Na bagagem política carrega, ainda, a liderança do processo de geminação do concelho de Alijó, Vila Real, com a cidade de Saurimo, capital da Província de Luanda Sul, em Angola. 

Embora não tenha investimentos em Lousada, mantém o gosto e o respeito pelo concelho. “É o concelho a que eu pertenço, respeito muito e sempre respeitei todas as pessoas de Lousada e também os políticos, já falei no Dr. Jorge Magalhães, que fez o corte entre o passado e o futuro e com o desenvolvimento. Lousada cresceu muito. Às vezes os políticos não deixam ou não têm visão para crescer, mas a parte industrial e comercial empurram para o desenvolvimento e Lousada cresceu de qualquer maneira, tinha de crescer, estava encaixada entre Paços de ferreira, Felgueiras e Penafiel, e Lousada era o concelho mais atrasado. Hoje já se equiparam muito bem e com todas as infraestruturas, cresceu tarde, mas cresceu bem”, afirma. 

“Dá-me muito gozo os negócios, dá-me muito gozo criar empregos e dá-me muito gozo criar situações positivas, por isso, para mim todos os dias é mais um dia.” 

Na perspetiva do empresário, falta fazer sempre alguma coisa todos os dias. “Dá-me muito gozo os negócios, dá-me muito gozo criar empregos e dá-me muito gozo criar situações positivas, por isso, para mim todos os dias é mais um dia. Quando acordo, e normalmente sempre bem-disposto, a seguir aparece-me sempre um negócio que vamos concretizar”, termina. 

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