por | 25 Fev, 2021 | Grandes Louzadenses, Sociedade

Os perigos do cyberbullying com o regresso do ensino online

Com o regresso do ensino online, a Polícia de Segurança Pública (PSP) alertou para o possível aumento do cyberbullying e para a necessidade de se manter uma sinalização e intervenção preventiva.

Segundo a PSP, a mudança da modalidade de ensino pode potenciar o aumento de casos de cyberbullying que, através das tecnologias de informação, como as redes sociais, as plataformas de mensagens, os jogos ou as mensagens de texto, constituem crimes de agressão, ameaça, injúria, difamação, perseguição ou devassa da vida privada. 

Carolina Carvalheiras, psicóloga, afeta ao Agrupamento de Escolas de Lousada, acredita que o cyberbullying “sempre foi uma problemática”. “Atualmente, a situação está mais evidente com a pandemia e, portanto, todo este isolamento social que nos obriga a ficar em casa, aumentou o acesso à internet”, afirma. 

Com o regresso do ensino à distância, “os alunos tiveram de utilizar um dispositivo tecnológico e, inevitavelmente, estamos mais expostos às tecnologias. Se este risco já existia antes, atualmente, aumenta exponencialmente. Percebemos que as crianças, principalmente as mais novas, que estão a descobrir todo este mundo tecnológico, podem andar a navegar desprotegidos se a supervisão por parte de um adulto não acontecer”, alerta. 

Carolina Carvalheiras

Cyberbullying corresponde às práticas de agressão moral contra uma determinada pessoa e alimentadas via internet, ou seja, é um assédio moral que corresponde à manifestação de práticas hostis. Esse bullying virtual tem o intuito de ridicularizar, assediar e/ou perseguir alguém de forma exacerbada. Com o aumento do uso de redes sociais, esse tipo de prática discriminatória tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, sobretudo, entre os jovens.

“Se estão em casa, não têm a noção de que estão expostos e perante uma situação de potencial risco. Daí ser extremamente importante que os pais façam a chamada supervisão parental.” 

Principalmente as crianças mais novas, e as que têm o primeiro contacto com a tecnologia agora, podem ser, facilmente, vítimas. “Se estão em casa, ou na casa dos avós, eles não têm a noção de que estão expostos e perante uma situação de potencial risco. Daí ser extremamente importante que os pais, os cuidadores, os educadores, façam uma consciencialização para o uso das ferramentas, façam a chamada supervisão parental. E há já alguns mecanismos que limitam e bloqueiam o acesso a determinadas atividades”, esclarece. 

“Apesar de estar, aparentemente, protegido, por estar atrás de um ecrã, na minha zona de conforto, na minha casa, sabemos que isso não é verdade. Estes comportamentos de cyberbullying acontecem com muita frequência e com danos bastantes sérios para estas vítimas”, refere. 

As práticas mais comuns são “as mensagens cruéis, a publicação em que se insulta alguém, nos adolescentes a criação de páginas falsas e o lançamento de boatos, a publicação de imagens ou vídeos privados. Numa relação amorosa, e infelizmente encontramos muito isto, é pedido uma prova de amor e a prova é mandar uma fotografia, as chamadas “nudes”, ou seminu, a mostrar alguma parte do corpo, mas, a partir do momento em que estamos no mundo digital, essa intimidade não existe. O que hoje parece muito seguro, amanhã isso pode não acontecer”, manifesta. 

“Um dos grandes impactos do cyberbullying passa pela desinibição online, porque há esta falsa sensação de que estamos protegidos. Não só na partilha de imagens mais íntimas, como nas ameaças, na criação de identidades falsas. Como ficamos atrás de um ecrã, dá-nos a falsa ideia de que estamos ocultos. E o anonimato é uma das características do cyberbullying, que ajuda a reforçar estes comportamentos”, depõe. 

Bullying e cyberbullying: as semelhanças

Uma das grandes diferenças entre o bullying e o cyberbullying é o facto de o agressor não estar exposto, tal como explica Carolina Carvalheiras: “quando falamos em situações de bullying o agressor está exposto e identificado, as testemunhas estão presentes e conseguem identificá-lo. Quando falamos do cyberbullying há este anonimato por parte do agressor e a desinibição online associada à falsa proteção”. 

Porque são os agressores no cyberbullying mais hostis? Segundo a psicóloga, “porque não presenciam a resposta, ao impacto que esse comportamento tem na vítima. Enquanto que presencialmente eu vejo a vítima a reagir e pode criar-se uma empatia e percebe-se a dor do outro, no cyberbullying isso não acontece, porque não sei qual é a resposta que a vítima está a ter, não estou a visualizar aquilo que está a sentir”. 

Assim, o agressor pode sentir-se “menos culpado”, porque não assiste à resposta por parte da vítima. Mas o objetivo é o mesmo: “de uma forma intencional, deliberada e sistematizada é provocar, assediar, ameaçar, humilhar e embaraçar alguém. Há indivíduos que têm uma maior predisposição para ser vítimas ou agressores. Mas qualquer um de nós pode ser uma vítima, ou, eventualmente, um agressor”, pronúncia. 

A longo prazo, estas práticas podem afetar a saúde mental das vítimas. “Todas estas situações de críticas, com maior ou menor intensidade, fazem parte do nosso crescimento, todos nós nos confrontamos com estas situações. Muitas vezes, estes comportamentos não são intencionais, acontecem apenas naquele momento. Mas situações de bullying são prenotadas no tempo, manifestam-se durante um período. E isto vai ter um impacto significativo a nível emocional. Começa por insegurança, baixa autoestima, baixo autoconceito que pode desenvolver quadros de ansiedade, depressão e, em casos mais extremos, ao suicídio”, alerta. 

“As vítimas não pedem ajuda e por isso é que este ciclo acaba por se manter e o impacto emocional acaba por ser dramático.”

“Por norma, as vítimas não pedem ajuda e por isso é que este ciclo acaba por se manter e o impacto emocional acaba por ser dramático”, lamenta. “Todo o agressor precisa de público, e, portanto, quanto mais visualizações tiverem, mais partilhas, é uma recompensa, é o troféu. Isto vai dar poder ao agressor, estamos a estimular o agressor para o ato. Temos o público que assiste, não intervém e fica calado. E podemos ter também as testemunhas que têm uma participação cívica e ativa de quebrar esse ciclo e chamar ou comunicar a um adulto para interromper o ciclo”, explica. 

Os sinais de alerta podem ser “óbvios e muito simples, temos é de estar atentos”, e “passa pelo afastamento social, por uma maior introversão, por apresentar alguma sintomatologia psicossomática, ou seja, crianças ou jovens que estão mais distraídos, mais agitados, com mais dores de cabeça, com perturbações no sono ou alimentares, que se afastam da família, do convívio”. O fundamental é “promover um diálogo aberto, transmitir que, nós pais, somos figuras importantes de apoio e proteção e que poderemos, de facto, ajudá-los a lidar com a situação”, alude. 

No entanto, acrescenta ainda “não nos podemos esquecer que os nossos filhos, sobrinhos, primos, alunos, podem ser os agressores. Eu posso ter dentro de casa, não uma vítima, mas um agressor. E também compete aos pais, aos cuidadores, estarem alerta a estes comportamentos. Tenho de perceber e fazer a supervisão do uso das tecnologias e das redes sociais para perceber se o meu filho poderá estar a ser um agressor. E, desta forma, impor limites no uso das tecnologias para que seja mais consciente e saudável”. A psicóloga alerta, ainda, que é importante perceber o que está a estimular o agressor a desenvolver estes comportamentos. 

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