Por José Carlos Carvalheiras
Nos primeiros anos da década de 1970 já se faziam sentir alguns ventos de mudança políticos e sociais em Portugal. A música era um veículo fortíssimo dessa mudança, transportando ideais e desejos de modernidade e de transição para a democracia. Os jovens com conhecimentos de música ou, em último caso, com vontade de aprender, juntavam-se para dar asas à imaginação e à criatividade. Em Lousada a música moderna da época surgia através dos Kriptons.
Esta banda era formada por Paulo Natalino Barros (baixo e voz), Alfredo Campos Alves (guitarra ritmo), Augusto Freire (guitarra solo), Rui Magalhães (bateria) e Francisco Fernandes (saxofone). O primeiro nome escolhido foi Ritmo 4, mas depressa mudaram para Kriptons, designação retirada dos livros de banda desenhada sobre o Super-homem.
Paulo Natalino Barros, um dos impulsionadores do grupo, lembra que “a banda foi formada com grande sentido de companheirismo e cumplicidade e esforço na compra de todo o instrumental das famosíssimas casas “Só Música” e “Castanheira”, na rua do Almada, no Porto”.
“Tocávamos em bailes, sobretudo na Assembleia Louzadense, e em festas particulares de familiares e amigos”, acrescenta aquele artista lousadense.
Além dos referidos componentes da banda, havia outros que por vezes se juntavam aos Kriptons. “Era o caso do Fernando Campos, que por vezes aparecia em convívios e alguns ensaios, para dar uns acordes e tinha muito jeito. Quem era fabuloso na guitarra e em qualquer instrumento de cordas era o também saudoso Augusto Freire. Fui muito ligado a ele, para além da banda. Já não sei em que ano, mas participamos num projeto da Câmara Municipal de Lousada… Fomos os dois convidados para dar aulas de iniciação à viola a crianças e jovens em várias freguesias do concelho. As aulas eram dadas nos centros paroquiais ou na sede da Junta de Freguesia”, refere Paulo Barros.
Rui Magalhães, que tocava bateria neste grupo, recorda que “a nossa primeira atuação aconteceu em Boim, na Casa da Fonte, que foi do digníssimo bispo do Porto”. Este antigo relojoeiro e ourives explica que “quando o conjunto estava a atingir alguma maturidade musical os seus membros foram para a tropa e para a guerra do Ultramar e nunca mais nos voltamos a juntar”.
Augusto Freire era um guitarrista apaixonado pela música e levou essa paixão para a tropa, tendo fundado o grupo dos Blusões Negros.
Os Kriptons duraram dois anos e deixaram memórias na adolescência e juventude lousadense de 1970 a 1972, tocando temas célebres da época.
“Também tínhamos alguns originais, mas o nosso forte eram certos temas consagrados de música internacional… Lembro-me bem que a primeira canção que nós tocamos foi “Monia”, de Peter Holm”, afirma Paulo Barros.
Também tocavam versões de “A whiter shade of pale”, dos Procol Harum, “Samba pa ti” e “Black magic woman”, de Carlos Santana, entre outros.
A semente musical estava a germinar e em finais da década de 1970 e início da década de 1980 o rock lousadense ganhou um forte impulso. Na próxima publicação far-se-á referência a três bandas dessa época: Baco, Flash e Delta 4.