Opinião de Pedro Araújo
A três anos do seu cinquentenário, comemorar hoje o “25 de abril” deve ser sobretudo um exercício de memória, na tentativa de fazer um balanço entre aquilo que já se conseguiu e aquilo que falta cumprir.
Suponho que, apesar de existirem na sociedade portuguesa opiniões muito distintas sobre o maior ou menor grau de consecução das ´promessas de abril´ em áreas como a liberdade, a democracia, a educação ou a saúde, ninguém poderá negar que se fizeram progressos notáveis em todas essas áreas nas últimas quatro décadas. Vamos deixar a questão da liberdade para o final e avançar já para algumas considerações sobre a nossa democracia.
No que concerne à democracia, somos um país com alguma maturidade democrática, em que a generalidade das instituições que garantem o exercício dos diferentes poderes e aquelas que as supervisionam apresentam já alguma robustez. Há, como está a acontecer em muitas democracias europeias, alguns epifenómenos no nosso país, sobretudo relacionados com extremismos e com a corrupção, que nos obrigam a concluir que há ainda um longo caminho de fortalecimento e de aperfeiçoamento da nossa democracia. É do conhecimento geral que as democracias mais robustas e mais desenvolvidas são aquelas em que os extremismos e a corrupção têm mais dificuldade em alastrar. Ou dito ao contrário, os episódios de extremismo, político e social, e de corrupção são sintomas de uma democracia que ainda não se desenvolveu convenientemente. Vejam-se, a este propósito, os níveis de tolerância política e social dos países nórdicos, bem como a intolerância dos mesmos em relação à corrupção. A corrupção é, aliás, uma das principais causas do nosso atraso em termos de desenvolvimento económico e social. Neste particular, como demonstrei no artigo anterior, estamos a afastar-nos da média europeia, o que significa que há democracias a desenvolverem-se melhor/mais depressa do que a nossa.
A Educação é uma das áreas em que a diferença entre o antes e o pós “25 de abril é abismal. Portugal, tal como demonstram os últimos estudos internacionais, ao contrário do que acontece em termos económicos, está a galgar lugares nos rankings e a chegar-se ao pelotão da frente, no qual se inserem, sem surpresa, alguns países nórdicos e da europa de leste. Claro que ainda há muito para fazer. Ainda é preciso ensinar muito mais e muito melhor e formar com graus académicos intermédios e superiores muita gente, no sentido de atingirmos níveis de educação e de formação de excelência, como convém a um país verdadeiramente desenvolvido. Estamos, portanto, no bom caminho, apesar das figuras inócuas que vão passando pelo Ministério da Educação. O mérito deste percurso de sucesso na Educação em Portugal é sobretudo ao trabalho sério e dedicado dos docentes e não-docentes que têm feito o quotidiano das nossas escolas nas últimas décadas, ao qual se deve acrescentar o contributo decisivo da esmagadora maioria das famílias portuguesas que tem vindo a valorizar cada vez mais a educação dos seus filhos.
Merece também uma nota muito especial a área da Saúde, tão mediática e tão decisiva nos últimos tempos. Também nesta vertente se deve obrigatoriamente concluir que se fez um progresso extraordinário. O nosso sistema nacional de saúde, onde se inclui o SNS (Serviço Nacional de Saúde – o serviço público de saúde), tem dados provas, nas últimas décadas e de forma muito particular no último ano, de grande resiliência de capacidade de inovação, ao nível do que há de melhor no mundo, em algumas especialidades, o que nesta área é de vital importância. Há ainda problemas que carecem de mais atenção e de mais investimento, mas o balanço geral das últimas décadas tem de ser sempre muito positivo.
Um último apontamento para tecer alguns comentários sobre a liberdade, o valor mais elevado de todos os ´valores de abril´. Ninguém pode negar que em Portugal a liberdade é hoje um valor completamente consolidado, nomeadamente no que diz respeito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, à liberdade política, em relação às quais as diferenças para o tempo da ditadura são absolutamente evidentes e incontestáveis. Quis concluir o meu artigo de opinião com estas referências para criar contexto os devidos parabéns a este jornal («O Louzadense»), pelo seu aniversário, já que é uma publicação que faz jus à liberdade em geral, à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa e à liberdade política.
O meu caso pessoal é exemplo disso: nunca os responsáveis pelo jornal me perguntaram o meu posicionamento político, embora possa assumir que me situo numa determinada esquerda, como já perceberam os que têm a maçada de ler com alguma atenção os meus artigos; nunca me “sugeriram” temas que “tivesse” de abordar; nunca censuraram os meus textos, publicando-os na íntegra e tal e qual como os envio para a redação; e nunca sofri qualquer tipo de pressão para eu sentisse como limitadora da minha liberdade como pessoa ou cidadão. Renovo os meus parabéns ao jornal “O Louzadense”, endereçando-os aos responsáveis e a todos os colaboradores, sobretudo pela tolerância e pelo enriquecimento do serviço jornalístico e noticioso que este periódico representou e continua a representar para Lousada.