Por José Carlos Silva
Enquadramento e contextualização histórica do concelho de Lousada no séc. XVIII. – Um território em constante mudança.
Em 1706, um concelho não era mais do que um conjunto de várias aldeias e freguesias que juntas se governavam “por humas Justiças, & Acórdãos.”53
O território de Lousada compunha-se de algumas freguesias do “Bispado do Porto na Comarca de Penafiel, & outras do Arcebispado de Braga. Tem Juiz ordinario, que serve dos Órfãos, hum Meirinho, dous Vereadores, & Procurador, Concelho, tudo por pelouro, eleição triennal do povo, a que preside o Ouvidor de Barcellos, aqui entra em correição, dous Almotaceis, & Escrivão da Câmara, Almotaçaria, Distribuidor, Emqueredor, & Contador, & quatro Tabeliaens, que tambem servem nos Órfãos por distribuição, tudo data dos Duques de Bragança. O Escrivão das Sizas vem de Aguiar de Sousa.”54
Eram 12 as freguesias que o constituíam, sendo seis afetas ao Bispado de Braga: S. Salvador de Aveleda, Santa Margarida de Lousada, S. Miguel de Lousada, Santa Maria de Alvarenga, Santiago de Cernadelo e S. Miguel de Silvares; e outras seis pertencentes ao Bispado do Porto: Santo André de Cristelos, S. João Evangelista de Nespereira, Santa Marinha de Lodares, S. Salvador de Novelas, S. Lourenço de Pias e S. Vicente de Boim.55 A freguesia de Novelas pertencia ao concelho de Lousada, mas não na sua totalidade, só uma parte, a que estava para cá da margem direita do rio Sousa, pois a parte que se situava para lá da margem esquerda do mesmo rio era do concelho de Arrifana de Sousa.56 O coeficiente 457 começou a ser utilizado a partir do século XVIII para estudos de demografia. Aplicando-o como conversor de fogos em moradores podemos dizer que em 1706 o concelho de Lousada contava 661 vizinhos ou fogos e 2 644 moradores. Em 1758, segundo a Memória Paroquial de Silvares, o concelho de Lousada continuava a ter as mesmas doze freguesias que em 1706, mas agora com ramos das freguesias circunvizinhas: Casais, Nevogilde, Beire, Bitarães, S. Tiago de Arrifana, Meinedo, Novelas, Nogueira e Macieira, que eram do concelho de Lousada. Existiam, ainda, algumas freguesias que tinham ramos de outros concelhos, como a de Silvares que possuía o ramo de Lagares, e era território de Unhão; e o ramo de Além do Rio, que pertencia ao concelho de Aguiar de Sousa. O que dava ao território de Lousada, nessa época, uma configuração de uma légua58 e meia de comprimento, e de três quartos de légua, de largura.59
Contudo, o abade de Santa Margarida, na Memória Paroquial, informava: – “O concelho comprehende dezoyto freguezias a saber esta de Santa Margarida, São Miguel em parte Cernedello, Macieyra em parte Santa Chrystina em parte Avelleda em parte, Alvarenga na mayor parte, Sylvares toda so duas cazas Chrystellos toda, Novegilde em parte São Payo em parte Beyre em parte Bitarains em parte Monte Roso, Santa Marinha de Lodares toda Nespereyra, São Vicente de Boim, São Lourenço das Pias, Meynedo em parte que todas digo compreende parte dezanove freguesias sobreditas.”60 As partes, os ramos ou fracções61 contaram, portanto, para a contabilidade das freguesias. Existe aqui uma contradição, já que inicia o item a informar que o concelho é formado por dezoito freguesias e termina-o a afirmar que são dezanove.
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53 – COSTA, P. Antonio Carvalho da – o. c. , p. 338.
54 – MOURA, Augusto Soares – o. c., p. 36. Cf. Também Lousada – Terra Prendada, p.132;
História das Freguesias e Concelhos de Portugal. Quidnovi. Edição e Conteúdos, 2004, vol. 9, p. 98.
55 – Nas várias corografias existentes, e que se referem ao assunto, tal como nas poucas monografias conhecidas sobre o concelho de Lousada, sempre se repetem os mesmos dados, e muitas vezes sem qualquer referência às fontes.
56 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 25, fl. 258. Cf. “Faz o Rio Souza o limite do Concelho de Penafiel pela parte do Poente desde o Lugar de Souza até á ponte de Casconha, (…) e abrangendo terreno pertencente a (…), Novellas, (…) na sua margem esquerda, e separando-o dos Concelhos de Louzada, que lhe demorão na margem direita.” D’ ALMEIDA, António – Descripção Histórica e Topografica da Cidade de Penafiel. (Edição fac-similada da separata publicada nas Memórias da Academia Real de Ciências de Lisboa, tomo X, 2ª parte, 1830). Penafiel: Edição da Biblioteca Municipal de Penafiel, 2006, p. 103.
57 – É uma conversão de fogos em habitantes. Cada fogo equivalia a quatro habitantes. MOURA,
Augusto Soares – o. c., p. 362.
58 – Uma légua corresponde a cinco Kms. Logo, légua e meia = 7, 5 Kms. Três quartos de légua = 3, 75 Kms. Ora, efetuando a operação, 7, 5 x 3,75 = 28,125 Km2. A área foi aumentando ou diminuindo dependendo das diferentes reformas administrativas do território. Atualmente tem a área de 96 Km2.
59 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 21, fl. 1313.
60 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 21, fl. 1313.61 – Ramos, partes ou fracções, eram pequenas parcelas de território com um ou dois fogos, mas que não constituíam uma freguesia. I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 21, fl. 1313. MOURA. Cf. Augusto Soares – o. c., p. 364.