Nasceu em Sousela, em 1937, mas rápido se tornou do mundo. Acredita ser uma pessoa versátil e nunca ter tendência para criar um mundo fictício e, por isso, desde muito novo que tem cultivado “um homem de um só rosto e de uma só fé”. Frequentou o curso de Pedagogia, Sociologia e Liturgia Pastoral, foi sacerdote, professor e autor de diversos livros.
No lugar de Lourosa, em Sousela, nascia em 1937 António Marques Pacheco, o primeiro de sete irmãos. Ao longo da sua vida que se rege por quatro lemas: “a convergência da divergência, ensinar aprendendo e aprender ensinando, ser contestatário e ser leal”.
“Nasci como um pé de milho. Não coube no berço onde o meu corpo nasceu”, revela. Um ano depois, mudou-se para a freguesia vizinha da Ordem, onde se manteve até aos 13 anos.

“Durante doze anos fui correndo para a escola, para a catequese, para o monte e para o campo, transportando toneladas de redolho. Comi o pão que o diabo amassou”, explana António Pacheco.
Terminado o Ensino Primário, “o destino que ali me plantou depressa me arrancou para não mais mergulhar nas profundas raízes de qualquer espaço territorial. Aos 13 anos ingressei na Escola Claustral do Mosteiro de Singeverga, depois de um rigoroso exame de admissão”, conta.
“O Padre Luís Queirós, que era seminarista, começou a ensinar-me a ajudar nas eucaristias. Por isso ou por qualquer outro motivo fiquei sempre ligado à Igreja.”
“Naquela altura, o Padre Luís Queirós, que era seminarista, começou a ensinar-me a ajudar nas eucaristias. Por isso ou por qualquer outro motivo fiquei sempre ligado à Igreja. Decorridos os estudos preparatórios, ingressei no triénio da Filosofia, seguido do quadriénio de Teologia exigidos para a licenciatura ou Curso Superior dos Seminários Maiores”, expressa.
Assim que terminou, em 1963, frequentou o curso de Pedagogia, Sociologia e Liturgia Pastoral, na Universidade Pontifícia de Salamanca, em Espanha. “Aí aprendi a objetivar, a consubstanciar a vida e a crescer por dentro e por fora”, testemunha Marques Pacheco.
Ser Capelão na Guerra
Embora a entrada no Seminário não tivesse necessariamente o objetivo de seguir o sacerdócio, esse acabou por ser o rumo profissional de António Marques Pacheco. “Ao longo dos anos fui motivado para ser sacerdote, tudo me foi correndo bem, fui bem-sucedido e acabei por ser ordenado”, conta.
“Fui ordenado previamente antes de ir para a Universidade de Salamanca. Foi uma grande festa aqui na Ordem, até fiquei surpreendido. Foi uma festa como eu nunca tinha ido. Como não estava cá há muito tempo, só nas férias, fiquei surpreendido com a festa que me proporcionaram”, recorda.
“Foi uma grande festa aqui na Ordem, até fiquei surpreendido. Foi uma festa como eu nunca tinha ido.”
Em 1967, António frequentou o Curso de Ambientação Militar, na categoria de aspirante, na Academia Militar Gomes Freire, em Lisboa. Foi, mais tarde, promovido a Alferes Miliciano, onde foi integrado no Batalhão de Cavalaria 1928 destinado a partir para Angola, a oito de dezembro de 1968. Em julho de 1969 foi promovido a Tenente em conformidade com as disposições jurídicas do Exército Português.
Assim que começou a Guerra Colonial, foi ordenado Capelão: “fiz o tirocínio em Lisboa, a preparação, fui promovido a Alferes, ingressei no Batalhão 1928 e fui para o Ultramar. A véspera de Natal foi vivida em Cangamba com todas as limitações”, menciona.

“Foi uma experiência dramática, mas ao mesmo tempo considero esse drama positivo. Completou-me e fez-me pensar muito. Realizou-me e aperfeiçoou a minha maneira de ser. Durante estes anos, para além do serviço psicológico, proporcionei a 4.ª classe a alguns soldados”, esclarece.
Mais tarde, foi deslocado para Lobito, onde teve um programa na Rádio Clube Lobito, “Sentinelas da Pátria”, que decorria semanalmente.
Saída do sacerdócio
Já dispensado das suas funções na Guerra, regressou ao Mosteiro de Singeverga, onde decidiu fazer uma digressão pela Europa. A viagem durou cerca de sete meses e permitiu que visitasse 36 Mosteiros Beneditinos espalhados por toda a Europa, nomeadamente Espanha, França, Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Áustria.
Regressado ao Mosteiro, “vem a revolução”, explica António Pacheco, que acrescenta: “numa reunião que tínhamos habitualmente, o abade pediu para falar sobre essa experiência. Respondi que gostei muito de ver, que todos eles colaboram com as populações e fazem o que podem. De todos eles, o nosso é o pior. Começou aí o nosso conflito e quando começou o meu aborrecimento”.
“Tinha de voltar para casa, não me sentia bem.”
“Quando vi que isto não ia resultar, voltei para casa. A minha família não percebeu logo, mas tinha de voltar para casa, não me sentia bem”, explica.

Sobre a atual situação da Igreja, refere ser um contestatário “de uma Igreja morta e doente por culpa da igreja dos homens. A Igreja dos homens está enferma e não é culpa de Cristo, é culpa da hierarquia, é por isso que muitos saem”.
António Marques Pacheco acaba por deixar totalmente o sacerdócio e casar-se em 1977, constituindo família.
Carreira na educação
Em outubro de 1970 começa a sua carreira ligada à educação com o ingresso no corpo docente do Colégio do Mosteiro de Singeverga, acumulando a docência com o apoio ao bibliotecário.
Dois anos mais tarde, foi convidado pela direção para lecionar Filosofia no Colégio Delfim Ferreira, em Riba d’Ave, e de português, no Externato Eça de Queirós, em Lousada.
A sua experiência passou ainda, no mesmo ano, por ser solicitado para fazer parte do júri de exames do 5.º ano, no liceu de Paços de Ferreira. No mesmo estabelecimento foi professor da disciplina de português.
Em 1977, após ter frequentado o primeiro ano da Faculdade de Direito, em Coimbra, rescindiu o contrato com o Ministério da Educação para aceitar o convite do ministro António Barreto para coordenar o ensino na Escola Portuguesa de Pesca.
“Tinha como objetivo a formação dos ‘homens do mar’ e diligenciar junto das entidades locais a possível implementação, ao longo de toda a costa, das atuais escolas do ‘Forpescas’. Então aí tudo mudou. Consolidei a ideia de procurar um caminho onde nem o homem fosse traído nem o artista, que eu não era, fosse negado. Tinha muita ânsia de retratar o meu pulsar sobre o homem, o mundo e a vida”, revela.
Durante 23 anos dedicou-se ao ensino na Escola Portuguesa de Pesca sempre sob o lema “ensinar aprendendo e aprender ensinando”. “Aqui acumulei atividades de representação ou cooperação em visitas à Guiné, Cabo Verde, Espanha e Reino Unido, nas Jornadas Pedagógicas de Lisboa Sevilha, Faial e S. Miguel, no ‘Simpósios, Congressos, Seminários’ e nas Feiras de Casablanca, em Marrocos, e Exponorte, em Matosinhos”, enumera.
No ano letivo 1988/89, depois de uma promoção do chefe de divisão, representou a direção, acompanhado por um grupo de professores, no “Iberion Course of Ficheries”, ministrado em Hall, Inglaterra, no âmbito do enquadramento da União Europeia e da Cooperação Ibero-Inglesa.
“Depois em 1994/95 fui responsável por elaborar dois manuais de português: ‘Nobreza de Expressão’ – nível II e III, para mestres e contramestres da Marinha da Pesca”, explana.
Paixão pela escrita
A sua paixão pela escrita começa depois de se aposentar, em 2004, com a publicação do primeiro livro “Logoterapia con(m) vida”, que teve o apoio da Câmara Municipal de Lousada.
Recentemente, produziu o livro “EUREKA”, que será apresentado brevemente em Lousada. Segundo o autor, “este livro estimula, ilumina e guia o nosso viver. Nele encontrei o emblemático epicentro da vida que sonhava. Um livro que propõe o potencial mais prestigiante e mais fascinante de uma exemplar pedagogia educativa. Um livro para refrescar ideias”.
Ainda em produção estão os livros “Melodias da Educação e da Fé” e “Horizontes de vida em plenitude”. “Não sendo obras extensas, de ação complexa nem eruditas epopeias ou romances, são, contudo, breviários de nobilíssima dignidade humana, escritos com algum engenho e alguma experiência granjeada ao longo de 75 anos de vida, nomeadamente nas visitas aos quatro continentes”, narra.

Para além das várias obras que vai produzindo, é cronista nos jornais “Terras Vale do Sousa – TVS” e “Tribuna Pacense” e apoia as editoras “Saída de Emergência” e “Self”, geridas pelos filhos.
Atualmente, “já com abundantes cabelos brancos, qual cético a pesquisar a verdade daquilo em que desejo acreditar, vou fruindo de alguma liberdade e fazendo aquilo que antes a escassez de tempo não me permitia: dialogar com a natureza, escrever e partilhar os valores que a vida me vem oferecendo”, testemunha.
“Vou fruindo de alguma liberdade e fazendo aquilo que antes a escassez de tempo não me permitia: dialogar com a natureza, escrever e partilhar os valores que a vida me vem oferecendo.”
Com isto, António Marques Pacheco pretende “viver monasticamente no meu cantinho a manejar duas enxadas: a metálica, a cuidar do meu jardim, e a outra no meu escritório, lendo, refletindo e lançando alguns pensamentos, quer na linha da literalidade, quer no âmbito social, quer no domínio da fé, que procuro consubstanciar e partilhar”.
Um abraço do tamanho da sua boa prosa, poética, filosófica, como tão bem o conheci, assim, verdadeiramente erudito, ao ANTÓNI0 MARQUES PACHECO, grande senhor e grande professor, o antigo e frenético, mas sempre sereno, sereníssimo, como os príncipes, PADRE SERAFIM, Beneditino de Singeverga, e o texto, perfeito, está veramente pontuado por ele próprio!… Então para que serve este comentário? Para a minúscula, mas não despicienda, gralha da data do seu nascimento: não é 1937, mas 1947, vá lá são dez aninhos…