Opinião de Pedro Amaral
Portugal prepara-se para iniciar um novo ciclo político cuja construção começou na passada noite eleitoral.
Devo dizer caro leitor que os resultados das últimas eleições legislativas não me surpreenderam. Nem à direita, nem à esquerda, e muito menos na maioria absoluta alcançada pelo Partido Socialista.
À esquerda Bloco e PCP perceberam da pior forma que a maçã que aceitaram em 2015 e que continuaram a saborear em 2019, não passou de uma maçã envenenada que, engenhosamente, António Costa lhes ofereceu.
Mérito lhe seja feito, o PS conseguiu fazer à esquerda enquanto “aliada”, aquilo que a direita nunca conseguiu fazer como opositora. Designadamente, demonstrar que o pico da superioridade moral, do qual essa esquerda tanto gosta de se fazer senhora, não é, nada mais, nada menos, do que um pequeno montinho de areia que facilmente se desmorona.
Quanto a mim, sempre considerei que a esquerda radical se iria arrepender de juntar as suas impressões digitais às do PS na governação. Se não numa crise interna como a que sucedeu, pelo menos na inevitável crise a que nos levaria a governação socialista.
E, nessa medida, torna-se claro que o eleitorado da esquerda flutuaria tendencialmente para o voto útil no PS, tornando-lhes mais fácil uma maioria, como de resto sucedeu. Pelo que, António Costa não o podia ter engendrado melhor.
E preparemo-nos caro leitor, porque teremos socialismo “absolutista” no poder pelo menos até 2026. Já nos vão chegando notícias de superministérios, do governo mais pequeno de sempre concentrado no núcleo duro do PS. O assalto ao castelo está montado e a última vez que estivemos nesta situação toda a gente se lembra (ou pelo menos devia lembrar) como acabou.
No entanto, sob a visão que tenho do mundo, admira-me bastante menos a mudança política que agora acontece à esquerda do que a que vem sucedendo à direita.
PSD cresce ligeiramente em número de votos, mas, face ao exponencial voto útil no PS, volta a ficar aquém do esperado em número de Deputados. O partido beneficia sobretudo de uma máquina organizada e bem sedimentada pelo país que lhe permite, mesmo na derrota, a estabilidade eleitoral que tem mantido.
Claro está que se o PSD se mantém estável, o crescimento dos Liberais e dos radicais do Chega teria que ter consequências em algum lado. O grande derrotado da noite, e digo-o sem rodeios, foi o CDS-PP ao qual pertenço.
47 anos de história democrática reduzem-se, por estes dias, ao desaparecimento do partido do quadro parlamentar. E esquecendo a injustiça eleitoral de 86.000 votos que não se converteram num único Deputado, esta é uma lição sobre a qual o partido deverá reflectir para futuro e uma grande perda para a política nacional nos próximos quatro anos.
Perdem os 86.000 eleitores que não vão ter quem represente os seus ideais na Assembleia da República, perde internamente a direita que deixa de contar com a voz da democracia-cristã no seu círculo político, perde o parlamento que deixa de contar com quadros de excelência que sempre a elevaram, perde a democracia porque o sistema canibalizou um partido com grande bagagem política, perde o país numa legislatura onde se discutirão, entre outras, uma possível revisão constitucional.
Se já ninguém se entende com o Chega num potencial candidato a vice-presidente parlamentar, haverá entendimento possível em matérias tão importantes como seja a constituição? Não creio.
Sou do CDS desde muito jovem e, por isso, sempre fui “apelidado”, em salutares picardias políticas, de reaccionário e de liberalista selvagem na economia. Nunca me incomodaram os epítetos porque sempre soube aquilo que era: conservador e defensor da democracia-cristã e do centro de direita.
Hoje, provavelmente, aqueles que se exasperavam com o meu conservadorismo, prefeririam “sentar-se à mesa” com o CDS para discutir o superior interesse nacional.
De facto o CDS está cá desde 1974…. Será que os Liberais e o Chega estarão cá daqui a 47 anos? Veremos…
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