“As três coisas que mais gosto no mundo são o filho, a mulher e a música.”
Luís ou Jinja? Ambas as designações são apropriadas para o lousadense de gema desta edição. De rádio em punho, perdeu os pudores e apaixonou-se pela música. Com muita vontade, integrou algumas bandas e mostrou ao vivo e a cores o seu talento peculiar. Com 59 anos de idade, são vários os projetos em que se envolveu e outros que continuam nos horizontes. Falámos com ele para explorar e perceber a sua história de vida, entre a música e a optometria.
O lousadense desta edição é natural de Silvares e, neste momento, habita em Cristelos. “Foi uma infância feliz”, introduz Luís aquando da pergunta sobre os seus primeiros tempos de vida. Com 59 anos, considera que nunca lhe faltou nada e que sempre lhe foi dada toda a independência que queria. No entanto, apresenta-se sempre consciente que a altura era outra. Seja para o bem ou para o mal, por exemplo, afirma que a única falta de liberdade que sentiu derivou do facto de querer ir ao cinema e necessitar de se deslocar à cidade do Porto através de autocarros que demoravam três horas. Naturalmente, os meios e condições de outrora mudaram bastante.
No início da entrevista, marcada pela sua peculiaridade e forma de ser leviana, declarou que era mais conhecido por “Jinja” do que propriamente pelo seu nome de nascimento. Porém, ambas as designações são congruentes. Sempre frequentou o centro e, desse jeito, andou na escola situada junto aos Bombeiros Voluntários de Lousada. Na mesma, concluiu o primeiro ciclo.
Após terminada essa fase, ingressou no segundo ciclo onde é atualmente a Câmara Municipal de Lousada. No município não havia mais entidades para dar continuidade à sua escolaridade e, portanto, mudou-se para Paredes para realizar o terceiro ciclo. Concluído este, transitou para a Escola Secundária de Penafiel para terminar os seus estudos.
Luís reconhece a sua personalidade rebelde e malandra nos tempos académicos, ao mesmo tempo, também reconhece que não prosseguiu além nestes pois nunca trabalhou para tal. A clareza e sinceridade marcam o jovem e, hoje, o homem que é. Contudo, umas das razões era esta e a outra? Eis a questão que encaminha a uma história onde a música é a personagem principal.
Falar do “Jinja” e não mencionar a sua paixão era irremissível. Desde que se lembra, a música faz parte da sua vida de uma maneira muito especial e única. São vários os episódios engraçados à conta deste seu gosto. Inicialmente, ainda muito pequeno, o seu pai comprou um rádio em madeira com pilhas e Luís decidiu “apanhá-lo” e, desde então, nunca mais o largou. A brincadeira do seu progenitor tornou-se, anos mais tarde, algo sério. “Não era a minha mãe que me adormecia, mas o rádio a tocar música”, refere.
Os tempos foram passando… e aos 14 anos conheceu em Lousada o seu segundo pai, Manuel Almeida. Esta designação demonstra o carinho e respeito que nutre por este senhor que revela uma idade bastante superior à de Luís. Na época, Manuel foi o fundador da banda: Baco. Posto isto, “Jinja” começou a tocar nessa banda lousadense na flor da adolescência. “O Baco, na época, foi uma referência a nível de música em Lousada”, sublinha.
Com somente 15 anos de idade, Luís juntamente com a banda percorriam festas, arraiais, bailes, entre tantas outras romarias tradicionais. A presença da mesma fez-se em todo o concelho de Lousada, mas essencialmente na cidade do Porto. De viola às costas explorou várias terras, fins de semana atrás de fins de semana, denotando o sucesso do Baco. “Na altura, não havia bandas como há hoje em dia, logo, foi tudo uma novidade”, afirma, evidenciando o percurso bonito que realizou na mesma.
Em 1985 termina a sua viagem nesta banda e, mais tarde, em 1987 forma em conjunto com outros músicos, a banda “Alcatrão”. Naquele período, havia a necessidade de arranjar uma banda para o projeto do baile de final de ano. A escolha estava difícil e, assim sendo, juntou-se dois elementos da banda Baco e dois elementos da banda Flash para atuarem naquele dia. Contudo, a vida dá voltas. A banda Flash fundada por Rui Mário Silva era a dita rival da Baco, ambas lousadenses. “A iniciativa foi a base para o surgimento da Alcatrão que, entretanto, se deu seguimento”, sustenta Luís.
Esta banda deriva da junção de elementos das duas bandas rivais do concelho de Lousada e, ainda nos dias de hoje, existe. Com mais de trinta anos de histórias, são vários os momentos na competência desta. Aliás, Luís considera que a maior parte das pessoas conhecem-no como músico devido ao seu envolvimento na banda Alcatrão.
“Ainda sou músico”, evidencia Luís não projetando abandonar este lado da sua vida. Apelida a música como a sua paixão, o seu escape nas horas boas e menos boas, a sua terapia, etc. Exemplo de tal, é o estúdio que alberga em casa com uma área de quase 80m2. Contém vários instrumentos, desde 16 violas a baterias, e é também neste espaço que faz o barulho que bem entender. “É o meu santuário”, sustenta.
É neste local que a banda Alcatrão se reúne todas as quintas-feiras, salvo exceções, para tocar ou apenas conversar. No fundo, são uma banda de amigos que toca. Luís é um apreciador de música, conhece-as de um jeito peculiar, gosta da qualidade e do bem feito. Desta forma, a exigência nesta área manifesta-se.
Neste seguimento, o lousadense participou na fundação da Rádio de Paços de Ferreira e, a partir desta, fundou juntamente com Fernando Nicolau a primeira Rádio de Lousada, na altura do surgimento e auge das rádios piratas. Realizou a primeira emissão sozinho, sem qualquer tipo de meios, mas apelida a experiência como engraçada e enriquecedora.
Luís em conjunto com o amigo alugou um apartamento no centro da vila e produziram bastantes emissões neste. Todavia, o período na rádio foi passageiro.
Interpelado sobre a importância da música na sua vida, de imediato, declara: “as três coisas que mais gosto no mundo são o filho, a mulher e a música”. A partir desta resposta, mais nada se pode acrescentar acerca do valor desta na sua vida. Como referido o lousadense é bastante exigente em termos de som e, ao contrário da maioria dos indivíduos, ao ouvir as músicas decora o que cada elemento faz, passo a passo, ao invés da própria letra da canção.
Além desta paixão, a vida profissional de Luís envolve-se nas várias óticas que é detentor. No entanto, até chegar a esse patamar a vida deu voltas. Quando decidiu deixar de estudar foi trabalhar para uma fábrica de calçado em Lousada. Apesar de considerar a experiência bastante boa onde ganhou várias responsabilidades, abandonou esta ao final de 1 ano. Na época, existia uma ótica no Porto que ensinava às pessoas os primeiros passos no mundo da optometria e decidiu frequentá-la. “Dirigia-me todos os dias para esse trabalho”, conta.
No final, decidiu restabelecer-se por conta própria e instituiu a sua primeira ótica em Paços de Ferreira, com 18 anos de idade. “Devo ter sido o ótico mais novo do país”, afirma devido à precocidade da abertura. Após abrir esta, frequentou vários cursos dentro da área. Anos mais tarde, inaugurou a Casa dos Óculos em Lousada.
Porém, o empresário não se ficou por Portugal e rumou até à África Oriental. Na companhia de um amigo, fundou três óticas em Moçambique. De certa forma, o seu caminho aufere de parecenças ao do seu pai. Contudo, apesar de ser mais fácil se juntar a este, Luís preferiu seguir outro rumo e optar pela independência a todos os níveis.
“Jinja” reconhece que a sua vida teve alguma influência dos seus pais, pois estes deram-lhe sempre todo o amor possível. Ademais, utiliza uma comparação ao falar dos mesmos: o conceito de hipopótamo. Este animal mantém-se debaixo de água e apenas mostra os olhos, isto é, somente observa as suas crias. No fundo, os pais do lousadense foram assim para o mesmo e, por conseguinte, este é de igual forma para o seu filho. “Sou atento, mas não intervenho muito”, afirma.
O lousadense é casado com a mulher da sua vida. Quando aborda a sua esposa denota características de garra e entrega. Fruto deste matrimónio resultou um filho biológico, porém Luís considera ter mais dois filhos adotivos. Desde os 4 anos de idade que criou os seus dois sobrinhos até aos 18 anos e, afirma que são igualmente seus filhos.
No final da entrevista, aborda a sua terra, afirmando que é nesta que estão as suas crenças e educação social. “Sou um lousadense aguerrido”, conclui Luís Dâmaso.
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