No início do Verão de 1979 surgiu, em Nogueira (Lousada), uma banda devidamente estruturada e planificada, com uma organização que ia além dos músicos e incluía staff técnico de apoio. Tal como os contemporâneos Flash, os Delta 7 viveram um contexto que foi propício ao rock nacional. Muitas bandas lusas chegam à ribalta nesta época, fruto de uma valorização generalizada do que era made in Portugal. Dois exemplos disto podem ser aqui citados: a estreia de uma novela portuguesa (Vila Faia), em 1982, depois de dezenas de novelas brasileiras encherem o horário nobre televisivo; e, em 1984, o orgulho nacional atinge os píncaros com a primeira medalha de ouro olímpica: Carlos Lopes ganha a maratona nos Jogos de Los Angeles (EUA).
Foi numa iniciativa liderada por Paulo Jorge Coelho da Costa Moura, com 16 anos de idade, que a banda foi criada. Este tocava guitarra solo e era acompanhado pelo seu irmão mais velho, António Costa Moura (guitarra-ritmo), que é atualmente embaixador de Portugal em Moçambique; os outros elementos eram Artur Ferreira (Teclados), Tozé Quesada (Bateria) e Eduardo Varejão (Baixo), estes dois últimos, de Amarante, em cujo Colégio de S. Gonçalo todos estudavam. Era esta a formação base dos Delta 5, designação inicial da banda.
“Foi um projeto musical rock baseado em temas originais e com influências punk-rock, que na altura eram as mais notadas em Portugal”, indicou o fundador da banda, Paulo Moura, atualmente radicado na Austrália.
No final do Verão de 79, a banda renomeou-se para Delta 7, aquando da entrada de dois elementos, que tomariam conta da organização e angariação de concertos assim como logística. Os novos componentes eram os irmãos João “Trola” e Bento Sequeira Magalhães. Este último recorda que “éramos uma organização muito bem montada, tínhamos quotas para financiar as despesas, que fomos repondo com a realização de receitas dos muitos concerto que a banda fez”.
“Era um rock original e muito ensaiado, liderado pelo Paulo Moura, que era o compositor e organizava os ensaios. A sede da banda e local de ensaios situava-se na casa paroquial de Nogueira, por especial favor do Padre António Correia”, acrescenta Bento Sequeira.
O teclista, Artur Ferreira, explica que “éramos todos bons rapazes, tínhamos frequentado o Seminário Bom Pastor, em Ermesinde e o padre António Agostinho Pinto Correia gostava muito de nós e apoiava-nos no que fosse preciso”.
“A minha razão para a escolha do nome Delta 7, tem que ver com a quarta letra do alfabeto grego, assim como a sua representação gráfica, sendo que o triângulo é a forma geométrica mais forte e segura em engenharia e, para além disso, a palavra Delta está associada à forma ‘triangular’ que alguns grandes rios assumem ao alargarem e desaguarem no oceano e que são geralmente áreas de grande fertilidade e diversidade biológica nos terrenos que ocupam”, explica Paulo Jorge Moura, referindo que “o 7 referia-se ao número de pessoas envolvidas no projeto”.
Embora com uma carreira relativamente curta, este músico destacou-se no rock local e regional, através dos Delta 7 e dos Quasar, pelas suas qualidades de compositor, intérprete vocal e guitarrista.
Os Delta 7 duraram até 1981, “tendo feito vários concertos pelo Norte do país, sempre apresentando temas originais, compostos por mim, com António (Nelo) Moura ou com Artur Luís Ferreira”, conta Paulo Moura.
O último concerto da banda teve lugar no Verão de 1981, no Mercado de Felgueiras, perante quase 3.000 pessoas, evento em que os Delta 7 foram a banda suporte dos UHF, que na altura faziam o país inteiro cantar “Cavalo de Corrida”, um dos seus muitos sucessos que marcaram a música moderna portuguesa.
“Em finais de 1981 fui convidado por Jorge Noronha e Sousa, gerente e teclista dos Quasar para integrar a banda como vocalista e guitarra solo, o que veio a acontecer”, explica Paulo Moura.
Os Quasar eram um projeto musical com sede na Longra (Felgueiras), fundado em 1978 e que durou até 1984. Era uma banda que “seguia muito atentamente o chamado ‘Rock Português’ e continuou a ser, embora, com a adição de temas originais cantados em inglês e algumas composições mais baseadas em Funk, Ska e Punk Rock, a banda tivesse adotado um som mais universal e menos limitativo do que era na altura, aquilo que se ouvia no Rock Português”, acrescenta Paulo Moura.
A estrutura base desta banda tinha: Avelino Pereira, Germano Diniz, Jorge Sousa, Paulo Moura, Ulisses Carvalho. Temporariamente participaram outros músicos e intérpretes: Fernando Ribeiro, Dulce Noronha, Luciano Sampaio, Manuela Abrunhosa, Olga Carneiro Pinto, Óscar Magalhães e Rui Sousa. Fizeram inúmeros concertos pelo Norte e Centro do país e sempre se apresentaram ao público com um reportório de temas originais. Um dos últimos concertos dos Quasar aconteceu em Lousada, como banda suporte dos Trabalhadores do Comércio, em Agosto de 1983, uma banda de renome nacional baseada no Porto e formada a partir dos Arte&Ofício.
Algumas das músicas dos Quasar estão disponíveis na plataforma Soundcloud; o som algo rudimentar é superado pela preciosidade histórica destas peças, “porque todas foram gravadas numa garagem”, ressalva Paulo Moura. Este antigo músico, além de interpretar, foi o compositor dos temas Could you be loved this way, Tired, My heart e Lu foi violada. O seu irmão Nelo Moura (piano wah-wah e vozes), e Rui Noronha (vozes) também colaboraram na gravação de Tired.
O antigo músico dos Boca Mansa e reconhecido crítico musical, Joaquim Barbosa, disso ao Louzarock que chegou a conhecer Paulo Moura “no antigo café Don Pedro, em Lousada, para onde eu levava o meu amplificador e guitarra e tocamos na esplanada. Também toquei com ele e o João Trola, que fazia parte do staff dos Delta 7”. Joaquim Barbosa declara que “o Paulo tocava e cantava muito bem, tinha um bom ouvido e, além de originais, ele tocava músicas dos Doors e Dire Straits, por exemplo, e para mim, comparando com músicos de cá, ele estaria ao nível do Bessa Machado e do Rui Gesso”.
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