Juliana Correia Costa, de 37 anos, nasceu com um problema de nanismo. Ao longo da entrevista aborda a sua história de vida cheia de desafios que, graças à sua força, foram ultrapassados com bastante sucesso. Acredita que devia haver uma intervenção a nível profissional por parte do Município de Lousada para pessoas com a sua condição e, ainda, associações para que a sociedade compreenda e desmistifique preconceitos.
Juliana, residente em Lustosa, foi diagnosticada com nanismo no dia em que veio ao mundo. “A maioria dos casos derivam de diagnósticos iguais na família, porém, os meus irmãos e pais não sofrem o mesmo”, principia. Após o parecer correu vários hospitais para averiguar se tinha outro género de problemas, mas apenas sofria de nanismo.

Os seus tempos de escola foram pacíficos. Segundo a própria, os seus colegas foram sempre compreensíveis e nunca sofreu bullying. Todavia, ao contrário do que acontecia em ambiente académico, padeceu de olhares e comentários na rua. Estes deixavam-na desconfortável, mas aprendeu a lidar com as situações.
Até então não havia diferenciação, contudo aquando da mudança de escola ficou receosa. “Entrei no 3º ciclo e era um mundo completamente novo”, afirma. A realidade era outra, com pessoas mais velhas, e surgiram alguns comentários. No entanto, a lousadense continuou o seu caminho.
No seu 8º ano, com 15 anos de idade, aconteceu um imprevisto bom. “Disseram-me que tinha a possibilidade de realizar uma operação ao crescimento”, realça. Tratou-se de um tratamento avançado que solicitava bastante apoio derivado à falta de mobilidade, estando dividido em duas fases com períodos de tempo distintos.

Primeiramente, sofreu uma intervenção nas coxas e andou com aparelhos nas pernas, necessitando de cuidados redobrados. Na época, acabou por reprovar de ano e iniciou numa turma nova. “Estava receosa, mais uma vez, mas tudo correu muito bem”, sublinha acerca da empatia e tolerância dos seus recentes colegas.
Concluiu o 9º ano e, passado um tempo, acabou a 1º fase do tratamento. Entretanto, ingressou num curso de Técnica de Marketing que oferecia equivalência ao 12º ano. Mais uma nova etapa, recheada de desafios, mas superada na integridade.
No seu último ano voltou a ser chamada para realizar a 2º fase da operação nas tíbias. Juliana já estava ambientada, contudo precisou novamente de ajuda e recorda a “cadeirinha” que os amigos faziam para que conseguisse subir as escadas.
Acabou o seu tratamento e decidiu começar a arranjar trabalho, pois ficar em casa não era uma opção. Até esta ocasião, não havia sofrido de discriminação, mas a procura por uma área fez com que sofresse alguma.
Começou a cuidar de idosos a particular e superou todas as suas expectativas, uma vez que se trata de uma profissão difícil. Atualmente, desempenha funções na mesma área porque é o que verdadeiramente a satisfaz. No entanto, pelo meio vivenciou alguns episódios menos bons.
“Na altura, o idoso que cuidava acabou por falecer e decidi começar a procurar um novo emprego. Fiz várias experiências, inclusive em confeções, e acabavam por não me empregar devido à minha condição”, conta. Ouviu várias desculpas inadequadas que, consequentemente, a deixavam desconfortável.
Quando questionada sobre a maior dificuldade que encontrou a nível profissional, de imediato, refere o facto de os proprietários optarem por pessoas normais ao invés de alguém com problemas. “Não há oportunidades”, reforça.
Nesta sequência, acredita que o Município de Lousada deveria ter algum tipo de intervenção ou apoio a nível profissional para pessoas com nanismo. “Há imensas ajudas para gente normal e nós não somos diferentes”, salienta. O facto de não haver preocupação das entidades competentes leva a que Juliana aborde o assunto.
Para mais, considera essencial haver uma associação direcionada ao nanismo para que haja uma maior compreensão e se desmitifique preconceitos enraizados na sociedade. Aliás, a mesma iria servir de apoio às pessoas mais novas com esta condição, de forma a conseguirem lidar com as diferentes situações do dia-a-dia.
“É preciso que haja noção que existem várias pessoas com nanismo”, revela. Juliana acredita que existem várias pessoas no concelho de Lousada com a mesma condição, porém, muitas acabam por ter embaraços ao sair à rua.
Atualmente, a lousadense namora com uma pessoa com nanismo e a única coisa que deseja é ser feliz. Contudo, antes deste relacionamento, esteve com outras pessoas e conta que quando saíam à rua eram alvos de murmurinhos.

“Todos os dias tento mostrar a verdadeira obra de arte que sou”, afirma. De acordo com a própria, consegue conquistar tudo a que se propõe como, por exemplo, a carta de condução em que não necessitou que o carro fosse adaptado.
Em jeito de finalização, Juliana Costa acredita que o 1º passo para uma maior inclusão deve começar na educação dada em casa para que as crianças não cheguem à rua e teçam comentários maldosos. “Não é o tamanho que faz a pessoa, mas o carácter”, conclui.
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