Auditório Municipal reabre com lotações esgotadas e agenda superlotada
Os auditórios municipais são um tema em destaque na região. O de Lousada é um dos mais antigos e foi recentemente reabilitado, dispondo agora de uma capacidade de 289 lugares. Entretanto, os espaços idênticos de Penafiel e Paredes, com 400 e 500 lugares respetivamente, estão agora a ser construídos e perspetivam-se com mais espaço e mais valências que o auditório lousadense. Este foi inaugurado em 1998 e estava necessitado de reabilitação a vários níveis, desde a cobertura aos equipamentos mecânicos do palco e bastidores. Também era premente dotar o edifício de eficiência energética. Há quem questione se Lousada precisa de uma “casa da cultura” maior. As opiniões dividem-se.
O processo de requalificação foi iniciado em 2018 e a data de conclusão foi apontada para final de 2020. A obra veio a ser adjudicada em 2019, com prazo de execução de 300 dias, o que não aconteceu. A 16 de Março de 2020 os trabalhos foram suspensos por causa da pandemia da Covid-19 e foram reatados no início de Novembro desse ano. Além disso, a falta de materiais no mercado e outros empecilhos surgidos ao longo do processo de reconversão do edifício obrigaram a pelo menos três prorrogações do prazo final dos trabalhos, que ficaram oficialmente concluídos em meados de 2022, com um custo de 708.289,24 euros, dos quais 602.045,85 euros foram da União Europeia, enquanto a Câmara Municipal entrou com 106.243,39 euros.
Em entrevista ao O Louzadense, o vereador da cultura, Manuel Nunes, referiu que “o Auditório é um equipamento já com 25 anos, por sua vez suportado num projeto muito antigo. Apresentava já uma deterioração bastante acentuada em vários aspetos, apesar de muitos deles não serem facilmente detetáveis pelo público. Necessitava de uma intervenção urgente, que foi aproveitada para o aumento da lotação, constituindo o acréscimo possível perante as condições disponíveis. Simultaneamente, melhoramos, de forma significativa, as soluções técnicas, tratando-se, por isso, de uma intervenção global muito importante, correspondendo às necessidades prioritárias”.
A abertura oficial ao público aconteceu recentemente e as lotações dos eventos têm esgotado sucessivamente. Há quem diga que o espaço continua a ser pouco. Não é essa a opinião do representante municipal da cultura, o qual justifica que “o Auditório tem sido suficiente, à exceção de situações muito específicas, que poderão ser resolvidas com o desdobramento de espetáculos, tal como tem acontecido. Portanto, por ora, é com estas soluções que iremos prosseguir”.
A atividade está retomada, num ritmo frenético, com agenda já esgotada para todo o ano. “Pretendemos retomar a dinâmica que sempre nos caracterizou” e “desde logo, era prioritário o regresso da Jangada teatro, com um número alargado de produções, como sempre de elevada qualidade, que ainda não haviam sido aqui apresentadas”, destacou o autarca, que sublinhou também as Noites Acústicas, “cujo cartaz, muito apelativo, rapidamente obteve grande aceitação”.
A programação inclui “outras propostas a nível do teatro e da música, bem como os concertos do Conservatório Vale do Sousa, que, igualmente, muito necessitava de regressar a uma casa que também é sua”.
Sobre o que ainda não foi anunciado, Manuel Nunes revelou-nos que “para o segundo semestre, teremos as Comédias d’Outono, novamente com um programa muito atrativo, para além de mais concertos e teatro, incluindo a presença do grande Ruy de Carvalho, sem esquecer mais ofertas culturais de elevado interesse que, a seu tempo serão tornadas públicas”.

INQUÉRITO
Lousada precisa de um novo auditório?
Fizemos um inquérito a algumas dezenas de pessoas a quem colocamos três questões: 1 – O que destaca na remodelação do Auditório? 2 – Tem alguma sugestão de alteração que pudesse ter sido feita? 3 – A cultura de Lousada já precisa de uma “casa” maior? Selecionamos cinco respostas que são representativas da auscultação realizada. Uma das conclusões aponta para a falta de consenso sobre a necessidade de um novo auditório.
Beatriz Leite, jornalista, 24 anos
1 – O interior está mais bonito, renovado, iluminado e a acústica parece-me melhor. O aumento de lugares no plano superior de frente para o palco é bastante positivo.
2 – Há uma clara falha nas laterais, pois nos camarotes não há visibilidade.
3 – Não creio que haja ainda uma procura tão significativa para justificar um novo espaço. É uma opinião baseada na minha perceção, mas era importante estudar essa questão com rigor e aí, sim, avaliar a viabilidade de um novo projeto.

Regina Sampaio, advogada, 49 anos
1- Ao que verifiquei, a remodelação foi mais relevante no sentido de se otimizar alguns aspetos.
2 – Nada tenho a destacar de negativo, porque a minha opinião sobre a remodelação não poderá ser outra senão de carácter estético.
3- Antes de uma casa nova para a cultura, e estando evidente que muito tem evoluído nesse sentido, tendo vindo a Lousada uma panóplia de artistas e espetáculos de qualidade e caráter eclético, apresento uma sugestão: que os espetáculos sejam múltiplos para cada artista , de forma a dar a possibilidade de os mesmos chegarem a mais pessoas.

Guilherme Novais, organizador de eventos, 24 anos
1 – A mais óbvia alteração foi o acréscimo de lugares sentados nos camarotes e a criação de um balcão na retaguarda superior da plateia. O que mais me agradou foi a maior sensação de conforto para o visitante e menor ruído visual, permitindo a meu ver um maior foco no espetáculo.
2- Quero acreditar que foi a decisão mais sensata face à premissa: falta de espaço envolvente ao edifício, para um aumento mais significativo.
3 – O problema não é a falta de espaço ou a falta de criação de uma casa de espetáculos maior, mas sim a ausência do hábito da ida periódica ao teatro, a um concerto ou a uma galeria de arte.

Carlos Richter, musicólogo, 55 anos
1 – As coisas, como as pessoas, envelhecem e requerem intervenções. Percebe-se que houve uma melhoria da acústica e do conforto em geral. Consegui apurar que houve modernização tecnológica que não são visíveis ao grande público.
2 – Não percebo porque não arquearam a plateia, tornando-a oval. Ganhava-se espaço e melhor ângulo de visão nos camarotes, que continuam a não ser convidativos.
3 – Do que conheço da cultura e da dinâmica demográfica de Lousada acredito que a curto prazo esse Auditório vai ser insuficiente em espaço e funcionalidades. Não é como o estádio das Antas que deu para rebaixar e ganhar muitos lugares…

Luís Cunha, biólogo, 28 anos
1 – Considero que, dos vários upgrades que o auditório recebeu, o mais positivo é sem dúvida a melhoria na acústica do espaço. O ponto menos positivo é mesmo o número de lugares sentados que não aumentou significativamente.
2 – Em boa verdade, penso que as obras efetuadas foram bem adequadas ao local e estrutura existentes. No entanto, talvez as laterais superiores pudessem ter sido mais aproveitadas com mais lugares sentados.
3 – A cultura, tal como muitas outras áreas da nossa sociedade precisa sempre de mais. Apesar disso, e dada a atividade cultural em Lousada, tenho a perceção de que a oferta de espaços culturais, não só o auditório, mas também os diferentes espaços culturais em todo o concelho, e a procura pelos mesmos se vão equilibrando.

Um quarto de século
O Auditório Municipal, localizado em terrenos da antiga Quinta das Pocinhas, abriu oficialmente ao público no dia 15 de Julho de 1998 e portanto faz 25 anos em 2023. A abertura oficial de que dá conta a fotografia em anexo, contou com a presença de António Queirós, representante do Governo Civil do Porto e do ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho
A obra rondou os 350 mil contos, a que se juntaram mais 65 mil contos para equipamentos, nomeadamente cadeiras, sistema de projeção de vídeo e de cinema, de televisão por cabo e parabólica, sistema de tradução simultânea e todo o apetrechamento de palco.
O empreendimento foi inicialmente composto por dois blocos, sendo um deles da Academia de Música da sede da Associação de Cultura Musical de Lousada. Este bloco é formado por cinco pisos com várias salas de ensaios e de aprendizagem, áreas destinadas aos professores, museu de pautas, de instrumentos, espaços convívio, biblioteca, camaratas e quartos individuais.
O auditório foi construído para ter capacidade para 200 lugares, camarotes, gabinete de tradução simultânea, sala de projeção, sala de rebobinagem, gabinete de bombeiros e bar.
Na inauguração, o presidente da Câmara Municipal, Jorge Magalhães, lembrou “Paulo Cunha, Presidente da Associação de Cultura Musical, o arquiteto Furtado Mendonça, autor do projeto, e o saudoso Gonçalves Solha, para além do papel do empreiteiro e dos técnicos da edilidade”, que mantiveram uma relação estreita com este empreendimento.
Ficou preenchida uma lacuna já que, finalmente, a Vila de Lousada passou a ter um espaço apropriado para o debate de ideias, em colóquios e congressos, para as artes cénicas e musicais, e demais realizações e atividades culturais.

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