Joaquina de Sousa Monteiro pode não ser um nome familiar de alguns lousadenses, mas, certamente, a acarinhada alcunha “Quininha” já é reconhecida. Nasceu e cresceu em Sousela, onde ainda habita com a sua irmã Margarida. De costureira foi auxiliar de ação educativa e esta última função, respetivamente, preencheu-lhe a vida. Saiba mais sobre a cidadã que cuida dos outros como ninguém.
Quininha nasceu a 9 de outubro de 1945 em Sousela, numa antiga casa situada junto à Igreja. “Éramos 6 irmãos, nomeadamente, 4 raparigas e 2 rapazes”, principia. A mãe era de Sousela e o pai de Lustosa, porém, casaram e foram ser caseiros de uma quinta em Santo Tirso. Desta forma, metade das crias nasceram nesta terra.
Destes, o último, nasceu em Agosto e em Novembro a família mudou-se para Sousela pois era a época que os lavradores mudavam-se. Os progenitores vieram para desempenhar o cargo de caseiro numa quinta junto à Igreja Matriz de Sousela, na qual já eram os avós da lousadense que tomavam conta.
A mais nova de 6 irmãos, Quininha, nasceu nesta casa. “A minha mãe morreu e eu tinha 6 anos”, conta. Após este infeliz incidente, a sua irmã mais velha (Maria) assumiu as funções de chefe de casa, pois o pai confiava bastante nesta. O cuidado e proteção para com a lousadense surgiram desta sua irmã que, por coincidência, era também sua madrinha de batismo.
Segundo a própria, a sua infância foi normal. O seu “primeiro emprego”, assim como o dos irmãos, foi guardar ovelhas. Aos 7 anos entrou na escola primária em Sousela e nos tempos livres ia para um monte perto de casa e brincava com duas senhoras de idade que também levavam as suas ovelhas, tendo aprendido bastante com as mesmas. Por vezes, apareciam os netos e ao invés de trabalhar, brincava.
Aos 11 anos saiu da escola, precisamente, no 4º ano de escolaridade onde foi fazer o exame de 3º ano à Ordem e o de 4º ano à vila. Depois de terminar os seus estudos, a sua irmã mais velha colocou-a a aprender costura com uma senhora, porém, nas horas vagas continuava a trabalhar no campo. Após terminar os ensinamentos, deixou de vez o campo e ficou em casa a fazer roupa para os seus irmãos e pai.
“Gostava bastante da costura, mas naquele tempo a miséria era tanta que não dava para sobreviver com tal atividade”, declara. Todavia, até arranjar um trabalho certo, focou-se na mesma e pediu ao progenitor uma máquina melhor que custava 2 contos. Apesar da inicial indecisão, acabou por dá-la.
Entretanto, a sua irmã mais velha conversou com umas professoras pois soube que precisavam de uma pessoa para trabalhar na escola. “Ela sugeriu que eu fosse e elas disseram que iam ver”, salienta. Além do mais, o seu irmão pároco conhecia uns senhores que arranjaram trabalho para uma família. Após alguns esforços, meteu o requerimento e foi nomeada.
A costura foi colocada de lado, aliás, só fazia nas horas livres. Quininha foi auxiliar de ação educativa durante 38 anos e 10 meses na escola junto à atual Junta de Freguesia de Sousela. “Foi a minha vida mais bonita”, confessa emocionada. Apesar de estar sozinha no cargo, jamais se sentiu só pois estava constantemente rodeada de crianças e de professores.
A sua paixão era brincar com as crianças, desde da roda ao teatro, entretinha-se a si e a estas. Conforme a própria, criou relações fortes com toda a comunidade educativa e, ainda hoje, todos cumprimentam-na e falam consigo. Além do mais, confessa que nunca teve problemas com os progenitores que sempre reconheceram o seu trabalho.
Antes das 8h da manhã já se encontrava a trabalhar pois ia mais cedo para aquecer as salas e não tinha hora sair. Para mais, os pais deixavam consigo os filhos mais cedo que o próprio horário da escola.
Entretanto, saiu da escola e ficou reformada porque já tinha o tempo de serviço necessário. No entanto, não deixou de trabalhar e continuou a ajudar a sua família. “Eu trabalhava no campo de uma irmã minha, sobretudo, a podar”, conta. No seguimento, denota a excelente ligação e união que nutriu com todos os irmãos.
Existem 2 casas que pertencem aos 4 irmãos solteiros (incluindo a lousadense). Nos dias de hoje, está apenas a lousadense e a sua irmã Margarida. Todavia, há 1 ano atrás estava também o seu irmão que seguiu o caminho da fé mas morreu no ano transato. “Passávamos muito tempo juntos e nunca nos largamos”, sublinha.
A vida de Quininha foi e é, ainda nos dias de hoje, na base do cuidado. Cuidou dos irmãos que já faleceram e, para mais, de duas senhoras que não eram família. Contudo, apesar de cuidar dos outros, refere que nunca se esqueceu de si. “Não me arrependo de nada”, sublinha.
Atualmente, trata do campo e aufere de vários animais: coelhos, galinhas, cabras e cabrito. A lousadense preza a sinceridade, lealdade e autenticidade nas pessoas. Em jeito de finalização, fala sobre Lousada: “não há lugar mais bonito que a nossa vila e a nossa freguesia”.
O que será necessário para atribuir a esta SENHORA um registo de gratidão pelo que fez…e pelo que faz?
Espera-se que parta para eternidade, para depois o fazer a título póstumo?