Para o estudo tipológico das casas nobres lousadenses, ponderamos a «análise, descrição e classificação»2 das fachadas na sua perspetiva de composição arquitetónica.
A definição das tipologias foi estruturada a partir do estudo objetivo dos conjuntos edificados (acarretando diversos reconhecimentos ao local onde estão levantadas).
Em primeiro lugar consideramos os elementos estruturais, aqueles que estruturam a fachada, permitindo-lhe a dimensão real: vãos de portas, janelas, postigos, frestas, óculos, e respetivos emolduramentos, etc.

Foram também considerados os elementos identificativos e decorativos, [estes são elementares], que por si só permitem mais do que uma tipologia. Cada um destes elementos pode ser concomitantemente estrutural, decorativo e identificativo. Estrutural, dado que faz parte integrante da densidade edificante da casa; decorativo, porque concorre para o imbricamento do conjunto; e identificativo, já que permite identificar um determinado estatuto social e cultural, irradiam formas de pensar e de ser. Como recorda Natália Fauvrelle: «Os elementos que decoram os edifícios de uma quinta, além do seu conteúdo estético, refletem de forma inequívoca um gosto pessoal e os valores culturais, espirituais e psicológicos da sociedade em que se inserem.»3



Arquivo particular de José Carlos Silva
Um elemento ainda pode ser, conjuntamente, identificativo e decorativo. Daí que esta arrumação é simplesmente funcional; analisa os elementos constituintes das fachadas de maneira objetiva procurando sistematizar as virtualidades de cada um deles, e presta-se particularmente para chamar a atenção do facto de «nenhuma abordagem do objeto plástico poder ser feita (desde que se procure ultrapassar a simples identificação estilística e integração serial), se não houver a preocupação de compreender «por dentro» e de forma tão radical quanto possível.»4


As casas nobres setecentistas do concelho de Lousada, exibem duas tendências distintas: umas mais simples, seguem um padrão «maneirista,»5 como acontece com as Casas de Argonça e do Cam; e outras, de desenho mais elaborado, mostram maior diversidade, empenhando-se particularmente na profusão decorativa. Disto sendo exemplo as Casas da Bouça, Porto, Rio de Moinhos e Ronfe, Tapada e Vila Verde. Para Nelson Correia Borges os aspetos ornamentais sobrepõem-se à originalidade das plantas: «o aspecto de maior interesse reside sempre na decoração,»6 Mas tal profusão não é consequência apenas da acumulação de ornatos, mas nomeadamente de um certo número de fatores: os elementos edificantes tornaram-se mais dinâmicos (as pilastras separam os panos das fachadas em várias secções, assinalando ritmos, as cornijas ondulam-se, evidencia-se o movimento ascensional dos frontões; e as silharias cinzeladas e as almofadas dos vãos e dos cunhais enobrecem o conjunto), assim como a plasticidade dos ornatos da pedra de armas. Tudo isto confere à fachada uma identidade muito própria. Consequentemente, as fachadas são não raras vezes o que de mais admirável apresentam, concentrando-se aí todo o esforço arquitetónico e decorativo do conjunto edificado.

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1 – “Designação usada em arquitetura que relaciona a forma do edifício com a sua função.” SILVA, Jorge Henrique Pais; CALADO, Margarida – Dicionário de Termos de Arte e Arquitectura. Lisboa: Editorial Presença, 2005, p. 137. Cf. TEIXEIRA, Luís Manuel – o. c. p. 217; Dicionário Enciclopédico Koogan – o. c., p. 861; “Es un fundamento epistemológico que parte de la consuderació de la arquitectura como ciência, basándose em soluciones preexistentes, codificadas que, supuestamente, se aplicarian mecânica y directamente para solucionar problemas funcionales.” http://www.todoarquitectura.com
2 – RODRIGUES, Maria João Madeira; SOUSA, Pedro Fialho de; Horácio Manuel Pereira -Vocabulário Técnico e Critico de Arquitectura. 3ª Edição. Lisboa: Quimera Editores, 2002, p. 259.
3 – FRAUVELLE, Natália – o. c., p. 59.
4 – ALCOFORADO, Diogo – A Igreja dos Terceiros do Carmo: Contribuição para uma leitura da sua fachada. Separata da Revista de História. Porto: Edição do Centro de História da Universidade do Porto. vol. III. 1979, p. 5.
5- AZEVEDO, Carlos – o. c., p. 82.
6- BORGES, Nelson Correia – Do Rococó ao Barroco. História da Arte em Portugal. 2ª ed. Lisboa: Publicações Alfa. vol. 9,1993, p. 39.
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