A PROCISSÃO DE VELAS É UM SINAL DOS TEMPOS
Em maio realizam-se as procissões de velas. Os católicos vão em romaria de vela na mão, rezando e entoando cânticos religiosos, pelas ruas, muitas delas decoradas com tapetes de flores. Vão por devoção a Nossa Senhora de Fátima, por promessas e por preces. “A saúde e a paz têm sido temas centrais que movem a fé das pessoas nas procissões, sobretudo se considerarmos que estamos num contexto onde a humanidade ainda sente os efeitos de uma pandemia global e enfrenta inúmeras crises sociais e políticas”, afirma o Vigário da Vara de Lousada, padre André Soares.
Este clérigo recorda que “a busca pela saúde é um dos pilares mais antigos e universais da fé”. Por isso, nas procissões “as orações e súplicas por saúde refletem um desejo profundo de cura e proteção. A pandemia de COVID-19 destacou a fragilidade da vida humana e a importância de um sistema de saúde robusto”. As procissões “tornam-se momentos em que os fiéis se unem numa prece coletiva pela saúde de todos”.
Além disso, “a saúde mental também tem ganho espaço nas preocupações espirituais das pessoas. O isolamento social e a incerteza económica impactaram significativamente a saúde mental global”, refere aquele pároco.
A paz é outro tema central que ressoa de forma nítida nas procissões e André Soares considera que “num mundo marcado por conflitos armados, violência urbana e divisões políticas, a paz é um anseio coletivo. As procissões oferecem um espaço de esperança e solidariedade, onde as pessoas podem expressar os seus desejos por um mundo mais pacífico”.
Mas não se trata apenas de um apelo à paz entre as nações (Rússia e Ucrânia, Israel e Palestina, por exemplo). “A prece por paz nas procissões deste ano também pode ser vista como um reflexo do desejo de harmonia interior. A paz espiritual é fundamental na nossa tradição religiosa, e as procissões servem como momentos de reflexão e meditação sobre como cada indivíduo pode contribuir para um mundo mais pacífico”, acrescenta.
Em suma, “a busca pela saúde e pela paz, através da fé, continua a ser um farol de esperança para a Humanidade”, conclui André Soares.
Também o padre Filipe Martins Vales, de S. Fins do Torno, entende que a conjuntura mundial e o contexto pós-pandemia, com as suas sequelas a vários níveis, funcionam como motivações para as peregrinações e caminhadas em procissão. Ainda assim, o reverendo aparecidense defende que, acima de tudo, está a devoção a nossa senhora e o cumprimento de promessas.
Na vila da Senhora Aparecida, a procissão de velas realiza-se no próximo sábado, às 21 horas.
Noutro ponto do concelho, em Lustosa, o padre António Teixeira vê as procissões “como sempre foram, ou seja, é uma forma de catarse, de purgação, como de resto são quase todas as formas do caminhar”.
Concordando com os aspetos referidos pelos seus congéneres de Caíde e do Torno, o pároco lustosense acrescenta que “há um tipo de caminhantes que participa nas procissões que é importante e que muitas vezes passam despercebidos, que são aquelas pessoas que vão a acompanhar, ou seja, não vão propriamente por si próprias mas por alguém, para ajudar na caminhada ou para se associarem a essa pessoa por solidariedade na causa que move essa pessoa”. De facto, além dos idosos ou pessoas com dificuldade no andar, também as pessoas emocionalmente frágeis necessitam de apoio e companhia.
Em Lustosa, a procissão acontece no último dia de maio. “Era assim que tradicionalmente se fazia”, recorda o padre Teixeira, “mas a existência de padres com várias paróquias e a vontade das pessoas em participar em mais que uma procissão, levou à distribuição do evento durante o mês de maio”. Em tempos foi aquele o caso da Vila de Lousada, mas neste ano a procissão já aconteceu, no passado fim de semana. Segue-se Cristelos, no próximo sábado, às 21 horas.




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