Nos últimos três meses, assistimos ao habitual frenesim da apresentação de candidaturas às Câmaras e Assembleias Municipais, bem como às Juntas de Freguesia. Cada partido ou formação política apresentou os seus melhores candidatos para dirigir os destinos das respetivas autarquias. À primeira vista, poder-se-ia dizer que a democracia funcionou e que o povo decidiu em conformidade com as regras democráticas previstas na Constituição da República Portuguesa.
Mas não é bem assim. Mais uma vez, a democracia sofreu duros golpes vindos de quem detém o poder. Aqueles que estão confortavelmente instalados nos cargos que ocupam usam e abusam dos meios ao seu dispor, colocando-os ao serviço das candidaturas partidárias que controlam o município.
Entretanto, a oposição – eleita nas anteriores eleições para os diversos órgãos autárquicos – volta a apresentar-se aos cidadãos com aparente dinamismo, novas ideias e promessas de renovação. Contudo, muitos cidadãos menos atentos podem ser levados a acreditar que esta oposição, também ela instalada e acomodada, nada tem a ver com o passado e que, no futuro, tudo será diferente.
A verdade é que tanto o poder instituído como a oposição recorrem aos mesmos métodos de influência e manipulação dos eleitores – muitos deles fragilizados, com dificuldades económicas e dependentes daqueles que decidem sobre os destinos das suas vidas.
As eleições autárquicas são, ou deveriam ser, um verdadeiro teste à democracia e à vontade do povo em decidir livremente o seu futuro.
Integrei conscientemente a candidatura da CDU-Coligação Democrática Unitária às eleições autárquicas no Concelho de Lousada. Apresentámos aos cidadãos um programa com ideias claras para melhorar a governação da Câmara Municipal e as condições de vida dos Lousadenses. Os indicadores referentes aos resultados anteriores não deixavam grandes expectativas de vitória ou de eleitos da CDU ao órgãos do poder autárquico. Ainda assim, decidimos participar no debate político como forma de esclarecer os cidadãos e contribuir para o reforço da democracia no nosso Concelho. Tal como dizia Álvaro Cunhal, “As vitórias não nos deslumbram nem as derrotas nos desanimam”. Só participando na luta podemos mudar a sociedade.
Durante a campanha eleitoral, foi evidente que os partidos da governação local – o Partido Socialista (PS) e a coligação liderada pelo Partido Social Democrata (PSD) – pouco ou nada contribuíram para o debate político e para o esclarecimento dos cidadãos de Lousada.
Pelo contrário, dedicaram-se a manipular os eleitores com promessas que, ao longo dos anos, foram incapazes de cumprir. Iniciaram obras à pressa – apenas para cumprir calendário – muitas das quais inacabadas ou abandonadas, prejudicando os cidadãos. Promoveram comícios, freguesia a freguesia, com comes e bebes gratuitos, tentando conquistar votos através de gestos populistas que revelam total desrespeito pelos valores da democracia e pela dignidade dos próprios cidadãos do Concelho.
Quem visitou Lousada nos últimos dias de campanha dificilmente ficou indiferente ao ruído excessivo das caravanas partidárias, dos partidos do poder, símbolo de uma política que privilegia o espetáculo em detrimento do diálogo e da reflexão.
Os partidos políticos têm o dever de esclarecer os cidadãos sobre os seus programas e propostas. Mais do que isso, têm a obrigação de respeitar as regras da democracia – sem empobrecer o debate público, sem afastar os cidadãos da participação cívica e sem transformar a política num mero exercício de manipulação e poder.
Lousada merece muito mais. A verdadeira força do poder autárquico democrático reside na capacidade de todos os intervenientes no debate político colocarem o interesse comum acima de qualquer ambição pessoal. Só assim poderemos construir um concelho, com projetos e causas, que correspondam verdadeiramente aos anseios das populações de Lousada.
Alberto Ribeiro Torres
Ex-candidato da CDU à Câmara Municipal de Lousada
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