A Escola Secundária de Lousada comemorou, no passado dia 29, a revolução de 25 de Abril, com uma exposição de Artes Visuais, da turma 12.º H. Foi ainda realizada uma palestra com o capitão de Abril Vasco Lourenço e o professor universitário António Nunes, organizada com a colaboração da associação Luminare Valle.
Coube ao diretor da Escola dar aos boas-vindas aos convidados, considerando que esta atividade é importante para os alunos: “O 25 de Abril marca a história de Portugal. Esta geração é que faz e poderá fazer mais pela democracia”, considerou.

Moreira da Silva, presidente da Associação Luminare Valle, começou por dizer que ter um capitão de Abril na escola é uma boa oportunidade para que os alunos conheçam melhor o que se passou nos anos 70 e lançou alguns desafios aos presentes, considerando que esta aproximação aos jovens é muito importante: “A ética é hoje um espaço de discussão, um espaço aberto, onde vocês têm de estar presentes! Vocês, para tomarem decisões, precisam de ter reportório e para isso têm de ter conhecimento. É preciso dizer sempre o que querem. Não sou eu ou uma pessoa mais velha que sabe o que vocês querem, são vocês que têm de o dizer. A irreverência serve para colocarem no espaço público as vossas dúvidas e ansiedades!”, frisou o dirigente, concluindo que a associação que representa está sempre “disponível” para qualquer tipo de iniciativa e sempre “pronta a colaborar”.
“O 25 de Abril trouxe a escola para todos e igualdade de oportunidades”, António Augusto

O vereador do município de Lousada António Augusto aproveitou para dedicar as suas palavras à memória: “Esta escola é de 1 de outubro de 1983, tendo sido inaugurada em 1986. Após esta escola, foi inaugurada a de Caíde de Rei, a de Lustosa e depois a de Nevogilde. Em vinte anos, foi necessário construir um conjunto de edifícios escolares significativos e o 25 de Abril também foi isso, foi a democratização do ensino. A maior parte dos jovens que acabavam o ensino primário iam trabalhar aos 10, 11 anos. O 25 de Abril trouxe a escola para todos e igualdade de oportunidades”, concluiu.
Com a moderação do professor José Diogo Fernandes, foi lançado o mote para as duas intervenções: a educação. “A escola no Estado Novo” foi apresentada pelo Professor António Nunes, que falou, entre outros temas, das diretrizes de então e sua relação com o que temos agora, dos manuais escolares obrigatórios e da posição da mulher no ensino: “Uma professora para poder casar tinha de pedir ao Estado. Vejam que violência o Estado não permitir que elas pudessem casar. As mulheres, na própria sociedade do Estado Novo, eram verdadeiras fadas do lar, eram a salvaguarda da harmonia social, chegavam a ter artigos nas revistas da Mocidade Feminina, e lá diziam ter de ser boas esposas, mães e fadas do lar, e ensinavam a fazer tudo”, conta.
Outro problema apresentado pelo professor foi a ruralidade do país no tempo da ditadura: “O Estado Novo preferia que não se apreendesse a ler, para as pessoas ficarem a vida toda a trabalhar no campo, dizendo que era um serviço muito nobre. E não era nada nobre. Só faziam isso para que os camponeses não viessem para as cidades, pois as revoluções só aconteciam lá”, explica.
O orador não podia passar ao lado da liberdade de expressão, que existia apenas para aqueles que diziam o que as figuras do regime queriam ouvir: “A liberdade de expressão é dar a possibilidade ao outro de dizer aquilo que nós não gostamos de ouvir. Os ditadores e fascistas deram sempre liberdade de expressão àqueles que dizem o que eles querem ouvir”, afirmou. E, dirigindo-se aos jovens, incitou-os a olharem para a liberdade do ensino em Portugal: “A escola do Estado Novo nunca deu às mulheres, aos rurais, aos professores a liberdade de dizer o que pensavam e o que achavam”, frisou.
“Regressei decidido a não voltar à guerra, nem que tivesse de desertar”, Vasco Lourenço, capitão de Abril

Vasco Lourenço, capitão de Abril, mostrou aos jovens como foi a “revolução por dentro”, recorrendo à sua experiência enquanto estudante e militar, numa altura em que o “liceu só havia nas capitais de distrito. O meu liceu era misto, mas as raparigas eram muito menos. No intervalo, eram rapazes para um lado e raparigas para o outro. Isto mostra como vivia a sociedade e também justifica o que aconteceu. Mas é a Guerra Colonial que em grande medida vem ser o detonador final para que a rotura violenta se desse. Abriu-nos os olhos e deu-nos experiência para fazer a revolução”, esclareceu.
O capitão esteve no Ultramar, na Guiné, e esse período contribuiu decisivamente para o seu posicionamento face ao regime: “Quando eu vim do Ultramar, vim desiludido, pois percebi que estava a ser usado como instrumento para fazer uma guerra sem sentido, sem razão de ser. Quem estava do lado certo era o PAIGC, que combatia pela liberdade dos guineenses. Regressei decidido a não voltar à guerra, nem que tivesse de desertar e decidido a tentar ajudar a que corrêssemos com os fascistas. Tive a sorte de poder colaborar nisso”, referiu.
Reconhecendo que hoje Portugal é um país muito diferente, pela conquista da liberdade e da democracia, mostra-se, no entanto, “um pouco desiludido” com a justiça social, “um dos campos em que Portugal tem de melhorar bastante”, afirmou.
O capitão apelou ainda à irreverência da juventude: “A minha esperança é que vocês sejam irreverentes, sigam o nosso exemplo e lutem pelos vossos direitos, lutem pelos vossos interesses, pelo que acreditam. Tenham ação cívica, têm de tirar as castanhas da figueira se as querem comer! Lutem porque é a garantia de que Portugal continuará a ser um país livre e a garantia de que Portugal irá ter liberdade e democracia. Lanço-vos um pedido, façam a vocês próprios esta pergunta: Será que eu consigo viver sem liberdade?”, lançou o repto.
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