O Eurocircuito da Costilha acolherá a única Super Especial do Rally de Portugal no dia 31 de maio, sexta-feira, o que faz prever uma tarde de animação se o tempo ajudar.
Estivemos à conversa com Jorge Simão, presidente do CAL – Clube Automóvel de Lousada, que nos fez uma antevisão da passagem desta importante prova pelo concelho de Lousada.
O que significa para o CAL esta prova?
Primeiro de tudo, significa muito trabalho, muita responsabilidade, mas, no fim do dia da prova, também significa o sentido do dever cumprido. Penso que vai tudo correr bem.
Ano após ano, o CAL tem sido elogiado pela boa organização desta Super Especial. A que se deve este resultado positivo?
Numa prova como esta, quem se dedica a 100% só pode ter um resultado positivo. Os pilotos são acarinhados, e devem ser, mas isso só não chega, se não se reunirem as condições, tanto em pista como para o público. É importante reunir condições para que o dia seja de alegria e de conforto, para que seja um dia bem passado. Tanto a Câmara como o ACP sabem com o que podem contar. Nunca tivemos qualquer problema. É porque as pessoas sentem que a responsabilidade do clube é grande. O ACP não tem a mínima preocupação, nem liga, porque sabe como funcionamos, sabe com quem está a lidar, conhece o nosso trabalho, e isso para nós é mais que bom.
Há diferenças entre a primeira Super Especial neste seu mandato e esta edição?
O patamar está mais alto. Todos os anos eles vão exigindo mais. Agora, neste ano, um projeto em relação ao ambiente, que o ACP impôs através da FIA, implica mais pessoas a trabalhar e mais pontos de acesso a reciclagem, uma série de coisas em relação às máquinas, aos automóveis, que são mais evoluídos. Outras exigências nos são feitas. Vamos imaginar que, em certo sítio, a pista é mais apertada e temos de a alargar… São coisas que se vão construindo e vamos chegando lá. A dificuldade, mesmo, foi no primeiro ano, em que foi um pouco às cegas: tínhamos um caderno de encargos, era tudo novo, diferente e aí foi difícil. Depois desse ano, é como se tudo estivesse em piloto automático.
Quais são as singularidades desta pista?
A pista em si é mítica. Passaram aqui grandes pilotos, muitos campeões mundiais, e tudo isso cria um clima, uma envolvência… Vejo isso nas provas do Nacional, em que aparece um piloto ou outro novo e que nos dizem ‘posso não fazer mais nenhuma, mas esta quero fazer, a de Lousada’. Em termos de pista, é diferente de qualquer outra, pelo desnível que ela tem e pelos pontos de travagem. É exigente, bastante técnica, é talvez uma das pistas mais técnicas que temos no país, porque andar em plano é totalmente diferente de subir. Também em relação aos pontos de travagem é diferente travar em alcatrão ou em terra. Correr em Lousada é sempre correr em Lousada, com uma bancada natural, onde é possível acompanhar as provas de uma forma espetacular.
Lembra-se de alguma peripécia em especial?
Peripécias há muitas, mas prefiro destacar a união enquanto direção. Acontecem aqui coisas que ninguém vê bastante engraçadas, desde corridas de motas e de kartings só com pessoal da direção, pela noite dentro, quando não está ninguém. Em termos de corrida, há algumas que nem queremos recordar pela negativa, como mostrarem que querem agredir os membros da direção. Se as coisas correrem mal, a responsabilidade é toda da direção: se chove a culpa é da direção, se tem muito pó também é…
Uma das peripécias aconteceu há pouco tempo: a torre caiu abaixo. Um camião era alto e acertou na torre, veio tudo cá para baixo. Foi durante uns treinos. Tivemos de colocar de novo a torre e a estrutura está agora mais alta.
O que sente num dia de prova?
Sinto uma alegria interior muito forte, por saber que o meu trabalho e de toda a direção está a ser recompensado, não só em termos financeiros, mas também do ponto de vista da diversão do público. Ver as bancadas cheias dá-me uma alegria enorme. Os próprios pilotos sentem-se desanimados se não tiverem público. Mas a parte financeira é muito importante, pois organizar uma prova como esta custa muito dinheiro.
Uma prova como esta só é possível com o apoio do município?
Ao longo do ano, qualquer associação de desportos motorizados só funciona se tiver o apoio dos municípios. Isto envolve toda uma logística que custa muito dinheiro, e pelo menos sabemos que, se as coisas correrem menos bem, a autarquia está cá para fazer os acertos que entendemos que devem ser feitos. E isso dá-nos até mais ânimo. Estarmos aqui a trabalhar, a dar o nosso tempo, com dores de cabeça e, no fim, correr o risco de ter de pôr do nosso dinheiro é impensável. Só com o apoio mesmo de uma autarquia. Felizmente, a nossa autarquia está aqui para nos ajudar, sempre nos deu o apoio, sempre esteve connosco. Estou satisfeito com esta colaboração.
Nas provas nacionais temos muitos pilotos de Lousada. A que se deve este interesse?
A atividade que o CAL tem desenvolvido atrai muitos pilotos, gente nova. Nós vamos a qualquer prova do Nacional de Rallycross e não é por acaso que se fazem grelhas só com pilotos de Lousada. Isso deve-se ao facto de, nas 400 voltas ou nas 6 horas, terem vindo e gostado. Assim, acabam por continuar e acaba por ser uma captação. Nesta Super Especial, fazemos convites a pilotos ou a pessoas que, de alguma forma, colaboram com o clube, pessoas que apoiam o CAL. É lógico que convidamos essas pessoas, que, de uma forma ou outra, nos foram ajudando, pois, se fôssemos a abrir o leque, nem conseguiríamos fazer o Rally de Portugal, visto que toda a gente quer participar nesta Super Especial. Até os nossos vizinhos espanhóis querem vir.
O programa é semelhante ao do ano passado?
Procuramos mudar alguma coisa este ano, mas não dá para fazer algo muito diferente, pois os tempos são reduzidos. No próximo ano, se a prova continuar, vamos procurar fazer algo diferente.
Tem receio que o Rally deixe Portugal?
Nós sabemos que há alguns países que querem organizar esta prova. Sabemos que Portugal lá está por algumas influências, mas também porque tem organizado muito bem. Não é por acaso que temos tido as melhores avaliações na qualificação de rallys, mas somos pequeninos, e onde há muito dinheiro as coisas podem, de um momento para o outro, alterar-se. Temos de trabalhar bem, dar uma boa resposta para termos uma boa pontuação, pois, se num mundial é preciso dinheiro para realizar as provas, também é importante que sejam boas provas para que a imagem seja ótima. Gaia não veio ajudar nadinha nesta questão, pois foi tudo em cima da hora… Continuamos nesta perspetiva: fazer bem para o ano estar aqui novamente.
Já tem novidades em relação à nova pista?
Não há novidades. Já se deu andamento em algumas coisas, mas nada concreto. Estamos a trabalhar sempre com o parceiro, que é a Câmara Municipal.
Referiu no passado que esse era um dos principais objetivos…
Eu já estou a ficar cansado disto. Não vale a pena esconder isto de ninguém. Eu gosto disto, estou aqui, vou continuar mais algum tempo. Ter uma pista nova pronta, ou pelo menos dar início aos trabalhos, para mim já era uma grande vitória, já ficava muito contente. Toda a gente sabe o trabalho do falecido Jaime Moura, que foi de uma dimensão que dificilmente alguém vai alcançar, pelo menos no nosso concelho, mas eu não quero estar aqui eternamente. Também temos de dar vez a pessoas mais jovens. Logo que eu veja que é possível, saio. A minha sorte neste momento é que o presidente do CAL tem 20% do trabalho que tinha quando cá chegou. Temos uma equipa e o trabalho é dividido por todos, isto funciona.
No ano passado referiu que o CAL ambicionava realizar outro tipo de provas, como por exemplo super especiais nacionais, provas de drift… Como estão esses projetos?
Nós já tentamos fazer uma super especial, o problema é que os calendários estão muito cheios, são inúmeras as provas aqui na região Norte, a FPAK tem um calendário muito sobrecarregado. Ainda no ano passado, aquando da prova do Nacional aqui em Lousada, a super especial em Paredes, no mesmo dia (uma aqui com bilheteira e lá com entrada livre) prejudicou-nos. A FPAK está muito errada. A média de bilheteira baixou porque não tiveram em atenção o clube, pois em Paredes era a brincar, mas aqui era uma prova a sério. Fazer uma super especial num dia onde há provas ao lado e nem pilotos temos…
O CAL gostaria de fazer uma rampa ou uma super especial, em último caso o Drift, mas com calendários que se ajustem com a realidade das provas que temos aqui. Faço uma super especial quando tiver garantia de que não há nada aqui à volta. Além disso, temos de ver o melhor sítio para a organizar, não quero fazer por fazer. Com o patamar do CAL, não podemos correr o risco de fazer uma prova a brincar.
Este ano a prova será realizada na sexta-feira, véspera de fim de semana. Poderá ser um dos motivos da maior enchente?
Sim, acredito que sim. Posso estar enganado, mas acho que este ano vamos ter mais afluência. Ser à sexta-feira vai ajudar. As pessoas, no dia seguinte, não têm a responsabilidade de trabalhar, o que vai criar a possibilidade de muitas pessoas poderem começara a acompanhar o Rally a partir desta Super Especial. Vamos ter mais gente certamente.
Qual a sua opinião em relação às ações de promoção protagonizadas pelo município de Lousada, nomeadamente a oferta de bilhetes aos estudantes?
Há muitos jovens que nos questionam. A promoção é necessária e é muito boa. É importante estarmos todos unidos em volta deste desporto. Eu penso que é uma atitude que vai dar oportunidade a muitos miúdos de poderem estar cá, e poderão eles próprios, a partir destes momentos, interessar-se e até estarem também cá a competir no futuro.

A Exponor é, mais uma vez, o centro de operações desta prova que é a sétima ronda do Mundial de Ralis vai disputar-se no Centro e Norte do país.
No dia 30, quinta-feira, os pilotos fazem o Shakedown em Paredes, antes da partida oficial junto à Porta Férrea, em Coimbra.
Sexta-feira, após a saída de Coimbra os pilotos participam nas classificativas da Lousã, Góis e Arganil. O dia termina com a Super Especial da prova que, como não podia deixar de ser, tem lugar no Eurocircuito de Lousada.
No sábado a prova começa em Vieira do Minho, seguindo para Cabeceiras de Basto, na Serra da Cabreira, e Amarante. Já na reta final da prova, no domingo, Fafe volta a contar com dupla passagem pela classificativa de Fafe-Lameirinha.
A cerimónia de entrega de prémios vai realizar-se, mais uma vez, na Marginal de Matosinhos.
Lousadenses envolvidos no Rally de Portugal
Lousada tem uma tradição de décadas ligada ao desporto automóvel e, nesse sentido, o Município desenvolve diversas iniciativas para permitir que os mais novos possam viver a paixão do Rally.
O Concurso dos Slogans teve como destinatários todos os alunos do 3.º ciclo do ensino básico a quem foi proposto criar frases com as palavras “Lousada” e “Rally de Portugal”. As melhores propostas têm como prémio dois bilhetes para assistirem à Super Especial de Lousada. Para os alunos que frequentam o ensino secundário no concelho de Lousada vão ser oferecidos bilhetes para que possam também assistir a esta etapa do Rally de Portugal.
Para os alunos que frequentam o ensino secundário no concelho e os alunos Lousadenses que estudam em escolas fora de Lousada, o Município oferece bilhetes de ingresso para a Super Especial de Lousada.

A comprovar a importância que o evento tem também para a economia nacional foi feito um Estudo do Impacto do WRC Vodafone Rally de Portugal na Economia e Turismo, destacando que “metade do retorno verificou-se em despesa direta assegurada por adeptos e equipas na região onde decorreu a prova do Automóvel Club de Portugal: 72,9 milhões de euros, mais 1,7 milhões de euros face a 2017, registando assim um novo recorde no impacto que o evento provoca anualmente no País”, como refere o site oficial do Rally de Portugal.
Os bilhetes encontram-se à venda em diversos locais do concelho, sendo a Loja Interativa de Turismo um dos pontos de venda oficial.
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