A propósito das recentes Eleições para o Parlamento Europeu, muito se disse e mais se pensou sobre a “habitual” elevada percentagem de abstenção. Muito se dirá e mais se pensará sobre o mesmo assunto em eleições vindouras. Do que se disse e se dirá, há sempre alguém que acentua a questão da obrigatoriedade do exercício de voto como forma de combater os números da abstenção. Já li e ouvi essa defesa várias vezes… Para bem da democracia, espero que tal ideia nunca prevaleça. Bater-me-ia convictamente contra! Liberdade, acima de tudo!… Liberdade de ir votar, liberdade de não o querer fazer.
Como combater, então, tamanhos níveis de abstenção? Com cidadania! Um cidadão, aquele que tem consciência de que o é, nunca se demite de um ato eleitoral… Quer sempre exercer o seu direito de voto, vendo-o como um dever que exerce de forma livre e consciente. Um cidadão não cede aos pseudoargumentos que o levem a não ir votar. Expressões comuns – “são todos iguais” ou “nenhum presta” – são meras desculpas usadas por quem não quer ser cidadão, usadas pelos Pilatos que querem sacudir-se da responsabilidade de participar numa decisão que é de todos e para todos.
Acredito que a plena cidadania só lá vai com formação. É, portanto, necessário educar as gentes para a participação cívica, para serem cidadãos conscientes, esclarecidos, atentos e interventivos. Às autoridades e às organizações públicas e civis compete-lhes a iniciativa de se mobilizarem e proporcionarem oportunidades de educação para a cidadania. Aos indivíduos compete-lhes, livremente, a disponibilidade para participar, envolvendo-se na aprendizagem com vontade de serem mesmo cidadãos.
Há dias, participei nas XIII Jornadas Sociais de Lousada, cuja temática se alinhou com o Ano Nacional da Cooperação. Sabendo que tinha de escrever esta crónica e que tinha a ideia de abordar o tema enunciado, dei comigo a pensar que a cooperação poderá ser parte da solução na educação para a cidadania. Há um enorme manancial de experiências e saberes acumulados prontos a serem colocados à disposição da comunidade. Com vontade, confiança, solidariedade e espírito colaborativo é possível ser-se melhor cidadão… Haverá certamente muitos com desejo de colaborarem em projetos pró-cidadania. Não me parece utópica esta intenção. Exemplo dessa possibilidade foi a formação em ciência política recentemente promovida por uma associação da região, a Luminare Valle, em articulação com os municípios de Paços de Ferreira, Penafiel e Lousada. A colaboração institucional e individual resultou em momentos de profícua aprendizagem de forma a contribuir para uma população mais esclarecida e preparada para participar ativamente. Este é certamente um bom caminho…

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