Tenho acompanhado algumas notícias, publicações e comentários que têm surgido nas redes sociais sobre a organização, para o próximo ano, das Festas em honra do Senhor dos Aflitos. Não é meu propósito fazer aqui qualquer juízo de valor sobre o conteúdo que tem sido proferido, muito menos sobre as pessoas envolvidas no processo. No entanto, gostaria de recorrer à história das Festas para trazer a público uma proposta de solução.
Como é sabido que a seleção da comissão organizadora das festas tem recaído única e exclusivamente no pároco de Silvares, que é também o presidente da Fábrica da Igreja paróquia. No entanto, tendo em conta o percurso histórico das Festas, quer na sua dimensão religiosa, quer na sua dimensão profana, seria de considerar outras participações decisórias que poderiam projetar melhor o seu futuro e evitar as discussões polémicas sobre o assunto.
As Festas nasceram espontaneamente da iniciativa popular. Ao longo da segunda metade do século XIX, a necessidade de angariar receitas para as obras da majestosa capela do Senhor dos Aflitos motivou a realização de vários bazares de prendas, aos quais se foi associando a realização de uma festa com recurso a procissão, música e fogo-de-artifício. A romaria foi crescendo, de modo que, nos anos 80, era uma realidade que atraía inúmeros forasteiros dos concelhos vizinhos. Na década seguinte, com a conclusão das obras, o novo templo foi entregue à Santa Casa da Misericórdia, fundada em 1897, com o primeiríssimo motivo de promover o culto e a festa ao Senhor dos Aflitos.
Em 1898, foi o primeiro ano em que as festas se realizaram sob a alçada da Irmandade. Com o impulso do primeiro provedor, Manuel Peixoto de Sousa Freire, e a participação de vários colaboradores, projetou-se a festa na região e no país. Nesse ano e no seguinte, a festa teve uma magnificência invejável. Porém, nos anos seguintes, a dimensão profana das festas quase desapareceu, constrangida pelo contexto económico-financeiro delicado que se vivia em Portugal. Só em 1905, percebendo-se a importância económico-social que as festas tinham para o concelho, se retomou a sua dimensão grandiosa, com iniciativas e contornos organizativos que se repercutiram até à atualidade. Neste ano, uma comissão de cavalheiros de influência social, com o concurso da Misericórdia e da Câmara Municipal, programou a realização magnificente das festas para o último domingo de julho, tendo-a engrandecido com a criação de uma feira anual de gado realizada na véspera.
Já nos anos 60 do século XX, sob a provedoria do Major Arrochela Lobo, a Misericórdia cedeu, para fins paroquiais, o templo do Senhor dos Aflitos à Fábrica da Igreja de Silvares, abdicando da sua participação mais ativa na organização das festas, facto que se mantém na atualidade.
Tendo em conta o percurso histórico das Festas – aqui apresentado de forma muito resumida – e a controvérsia que se tem verificado em torno da escolha da sua comissão, considero que é uma boa altura para se recuperar a participação histórica das entidades que, ao longo dos tempos, mais diretamente concorreram para a sua execução: a Misericórdia, a Câmara Municipal e a Fábrica da Igreja de Silvares. A História dá-lhes legitimidade e responsabilidade para, de forma partilhada, iniciarem um procedimento regulamentar claro e transparente sobre a escolha da comissão organizadora das festas, salvaguardando o cumprimento digno das nossas tradições e potenciando interesses do concelho.
A definição de critérios é uma necessidade urgente, que, certamente, evitaria os contenciosos que se têm vindo a assistir.
Tudo bem e tudo mal. De acordo com a Lei da Separação do Estado (Já de Afonso Costa, Primeira República…), com as leis canónicas e a disciplina da Igreja Católica manda a verdade e o direito (e a tal separação de poderes) que seja o Pároco a legitimar, homologar, qualquer coisa assim, mas determinante, a Comissão de Festas. Em Lousada nas Festas Grandes houve sempre grande paganismo, enviesamento deste critério (intransponível!) e depois muita falta de transparência para não lhe chamar logo desonestidade… Desde o vitalício Zeca Pires até aos denodados “bairristas” tanto da Ladec como fora da Ladec, de tal forma que, perante as exigências da Lei quanto à legal subsidiação autárquica, e inerente controlo de actividade associativa ou cultural, o presidente Jorge Magalhães não viu saída legítima e legal que não fosse o apadrinhamento da constituição da Ladec. Veio o prudente, simpático e conciliador padre Paulo Godinho, viu tudo, como é óbvio, e fez a quadratura do círculo, legitimou o que era legitimável. Agora, garanto-vos, politiqueiros: Se o Leonel Vieira e a sua equipa tiverem perfil de bons cristãos, de bons paroquianos, a sua disponibilidade não só é evangélica, como será politicamente higiénica e moralmente regeneradora!!!!