por | 10 Set, 2019 | LivreMENTE, Opinião

Festas Grandes… Olhar o passado a pensar no futuro!

Tenho acompanhado algumas notícias, publicações e comentários que têm surgido nas redes sociais sobre a organização, para o próximo ano, das Festas em honra do Senhor dos Aflitos. Não é meu propósito fazer aqui qualquer juízo de valor sobre o conteúdo que tem sido proferido, muito menos sobre as pessoas envolvidas no processo. No entanto, gostaria de recorrer à história das Festas para trazer a público uma proposta de solução.

Como é sabido que a seleção da comissão organizadora das festas tem recaído única e exclusivamente no pároco de Silvares, que é também o presidente da Fábrica da Igreja paróquia. No entanto, tendo em conta o percurso histórico das Festas, quer na sua dimensão religiosa, quer na sua dimensão profana, seria de considerar outras participações decisórias que poderiam projetar melhor o seu futuro e evitar as discussões polémicas sobre o assunto.

As Festas nasceram espontaneamente da iniciativa popular. Ao longo da segunda metade do século XIX, a necessidade de angariar receitas para as obras da majestosa capela do Senhor dos Aflitos motivou a realização de vários bazares de prendas, aos quais se foi associando a realização de uma festa com recurso a procissão, música e fogo-de-artifício. A romaria foi crescendo, de modo que, nos anos 80, era uma realidade que atraía inúmeros forasteiros dos concelhos vizinhos. Na década seguinte, com a conclusão das obras, o novo templo foi entregue à Santa Casa da Misericórdia, fundada em 1897, com o primeiríssimo motivo de promover o culto e a festa ao Senhor dos Aflitos.

Em 1898, foi o primeiro ano em que as festas se realizaram sob a alçada da Irmandade. Com o impulso do primeiro provedor, Manuel Peixoto de Sousa Freire, e a participação de vários colaboradores, projetou-se a festa na região e no país. Nesse ano e no seguinte, a festa teve uma magnificência invejável. Porém, nos anos seguintes, a dimensão profana das festas quase desapareceu, constrangida pelo contexto económico-financeiro delicado que se vivia em Portugal. Só em 1905, percebendo-se a importância económico-social que as festas tinham para o concelho, se retomou a sua dimensão grandiosa, com iniciativas e contornos organizativos que se repercutiram até à atualidade. Neste ano, uma comissão de cavalheiros de influência social, com o concurso da Misericórdia e da Câmara Municipal, programou a realização magnificente das festas para o último domingo de julho, tendo-a engrandecido com a criação de uma feira anual de gado realizada na véspera.

Já nos anos 60 do século XX, sob a provedoria do Major Arrochela Lobo, a Misericórdia cedeu, para fins paroquiais, o templo do Senhor dos Aflitos à Fábrica da Igreja de Silvares, abdicando da sua participação mais ativa na organização das festas, facto que se mantém na atualidade.

Tendo em conta o percurso histórico das Festas – aqui apresentado de forma muito resumida – e a controvérsia que se tem verificado em torno da escolha da sua comissão, considero que é uma boa altura para se recuperar a participação histórica das entidades que, ao longo dos tempos, mais diretamente concorreram para a sua execução: a Misericórdia, a Câmara Municipal e a Fábrica da Igreja de Silvares. A História dá-lhes legitimidade e responsabilidade para, de forma partilhada, iniciarem um procedimento regulamentar claro e transparente sobre a escolha da comissão organizadora das festas, salvaguardando o cumprimento digno das nossas tradições e potenciando interesses do concelho.

A definição de critérios é uma necessidade urgente, que, certamente, evitaria os contenciosos que se têm vindo a assistir.

1 Comment

  1. António Vieira Costa

    Tudo bem e tudo mal. De acordo com a Lei da Separação do Estado (Já de Afonso Costa, Primeira República…), com as leis canónicas e a disciplina da Igreja Católica manda a verdade e o direito (e a tal separação de poderes) que seja o Pároco a legitimar, homologar, qualquer coisa assim, mas determinante, a Comissão de Festas. Em Lousada nas Festas Grandes houve sempre grande paganismo, enviesamento deste critério (intransponível!) e depois muita falta de transparência para não lhe chamar logo desonestidade… Desde o vitalício Zeca Pires até aos denodados “bairristas” tanto da Ladec como fora da Ladec, de tal forma que, perante as exigências da Lei quanto à legal subsidiação autárquica, e inerente controlo de actividade associativa ou cultural, o presidente Jorge Magalhães não viu saída legítima e legal que não fosse o apadrinhamento da constituição da Ladec. Veio o prudente, simpático e conciliador padre Paulo Godinho, viu tudo, como é óbvio, e fez a quadratura do círculo, legitimou o que era legitimável. Agora, garanto-vos, politiqueiros: Se o Leonel Vieira e a sua equipa tiverem perfil de bons cristãos, de bons paroquianos, a sua disponibilidade não só é evangélica, como será politicamente higiénica e moralmente regeneradora!!!!

    Reply

Submeter Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos recentes

Firmino Mendonça, o cafeteiro mais antigo

O cinquentenário Café Paládio é uma espécie de instituição comercial em Lousada e tem Firmino...

Intercâmbio cultural na Croácia

Um artista multifacetado e aventureiro, assim se pode definir o lousadense José Pedro Moreira, de...

Inglesa procura as suas origens em Lousada

CHAMA-SE ELIZABETH NATASHA LOUSADA Por várias razões (afetivas, existencialistas ou simplesmente...

Clube de Ténis de Mesa de Lousada

Esta edição possui o prazer de apresentar o emocionante mundo do ténis de mesa aos olhos de Rui...

Centros de Interpretação da Rota do Românico com entrada livre

Nos próximos dias 22, 23 e 24 de setembro, o ingresso nos Centros de Interpretação do Românico e...

Artur Faria demite-se da Caixa Agrícola

Artur Faria, Presidente do Conselho de Administração da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Terras...

Município integra projeto 2030 Youth Vision

"Queres construir um mundo mais justo e sustentável?" é a designação da iniciativa que vai ser...

Era uma vez uma praça do Românico (parte II)

Construtor contesta anulação da obra No seguimento da reportagem publicada na nossa edição...

AGRADECIMENTO

MARIA LUISA PAULA PEREIRA DE BESSA MACHADO (22 de Agosto 1947 a 11 de Setembro 2023) A família...

Apresentação do 6.º volume da Revista Lucanus

O 6.º volume da Revista Lucanus - Ambiente e Sociedade vai ser apresentado no dia 21 de setembro,...

Siga-nos nas redes sociais