Viagem ao “Purgatório” proporciona reflexão sobre questão da conservação da arte sacra

Numa iniciativa levada a cabo pelo Gabinete de Património e Arqueologia da Câmara Municipal de Lousada, realizou-se, no passado dia 25 de agosto, o evento “Purgatório e Redenção”. A atividade consistiu numa série de visitas ao longo de um itinerário que teve em conta a localização de retábulos das almas do Purgatório, nomeadamente a igreja de São Miguel de Silvares, igreja de Santa Maria de Sousela e igreja de São Tiago de Lustosa. A visita guiada procurou explorar a génese do culto, o seu desenvolvimento ao longo dos séculos, bem como a sua representação iconográfica e iconológica.

A visita proporcionou ainda a contextualização histórica de cada monumento, incidindo maior atenção sobre o conceito de padroado. Ao longo da visita, que decorreu durante a manhã, foram evidenciados alguns pontos mais sensíveis no que toca à problemática da proteção patrimonial, bem como medidas de conservação e de restauro do património integrado, em que os participantes tiveram a possibilidade de visualizar materiais profissionais de intervenção.

O Gabinete de Património e Arqueologia da autarquia contou com a colaboração da Dalmática-Conservação e Restauro, nomeadamente da conservadora Sofia Lobo, na dinamização da visita guiada, bem como dos párocos das freguesias envolvidas.

Paroquianos puderam esclarecer algumas questões

Sara Vieira, técnica do património, da CM de Lousada, esclareceu que esta atividade “tem a ver com o culto das almas do purgatório, que é uma realidade ainda muito vincada na população local. Muitas vezes, as pessoas deparam-se com elementos ligados a esta questão do purgatório e das almas e não conseguem interpretar aquilo que faz parte do seu quotidiano”. A visita guiada tem, portanto, uma vertente educativa, “de tentar explicar o que foi uma doutrina ideológica mais erudita durante muitos séculos e que depois foi interpretada de uma forma religiosa mais folclórica tardiamente. Também é uma oportunidade para os paroquianos levantarem algumas questões que não estão muito esclarecidas, nomeadamente relativas ao patrono ou ao padroeiro, pois muitas vezes confundem-se estes conceitos. Preservar o património é um dos objetivos desta iniciativa”, refere.

“Restaurar é preservar o passado”, Sofia Lobo

Sofia Lobo, conservadora da Dalmática, falou-nos das mudanças no que toca à conservação do património: “No passado recente, assumia-se que restaurar era repintar. O que acontece é que com isso perdíamos toda a informação que estava por detrás da peça. O que se fazia na época não era um restauro, tem que se chamar um repinte. Felizmente, em alguns casos, repintou-se por cima e conseguimos, com muita paciência, minúcia e muitas horas de trabalho, recuperar a pintura original, mas noutros casos é impossível, pois ou foi completamente danificada a pintura original ou então as camadas de repinte a óleo são tão espessas que acabam por deteriorar o que está por baixo. Restaurar é preservar o passado e não transformar as coisas em peças atuais, pois quando queremos uma peça atual compramos uma nova, porque desta forma perdemos a informação histórica toda”.

Cristiano Cardoso, da Câmara Municipal de Lousada, referiu mesmo alguns “crimes” contra o património: “O que aconteceu em S. Vicente em Boim foi criminoso. Eu tenho uma foto daquela peça antes do restauro e é uma peça fabulosa, digna de qualquer museu nacional e foi todo repintado, parece um boneco. Temos de dizer desta forma, senão as pessoas não entendem. Nós não queremos bonecos nas igrejas, queremos santos, os verdadeiros, os que foram feitos pelos escultores, sejam eles do séc. XVII, XVII ou do séc. XX”.


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