Vivemos num mundo de mercado aberto e em concorrência, diferente do cenário macroeconómico que existia e daquele que constataremos no amanhã. Os tempos de um “emprego para a vida” e uma carreira de décadas na mesma empresa estão a acabar. Estamos numa fase de transformação de formas de viver, trabalhar, sendo a flexibilização laboral um imperativo real, na forma de ver o trabalho, a sociedade e como nos organizamos, na reivindicação entre o equilíbrio de vida pessoal e profissional, entre sociedade e empresa, conduzindo a uma nova gestão dos recursos humanos.
O paradigma do local único de trabalho, com horários rígidos está a mudar, pelas novas gerações. Não faz sentido insistir no modelo “das nove às cinco” e picar o ponto. A ideia que as pessoas são produtivas mais de 8 horas é incongruente, com abalos na estrutura familiar, oriunda de políticas deficientes que raramente lhes reconhecem a importância. Subsiste ainda uma cultura de presentismo, existindo o estigma de que o trabalho fora da organização não se traduz em produtividade. Esta mensurada pela presença física “mina” o avanço em relação à flexibilidade. A autonomia para decidir quando e onde trabalhar, proporcionam equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, um controlo das empresas menor, deixando decidir onde/quando trabalhar. São tendências crescentes que mostram a prevalência da flexibilidade no trabalho, o poder da escolha. A tradicional medida única que serve para todos, está a desvanecer.
As empresas serão mais abertas ao risco, à mudança, investindo nos recursos humanos, em formação profissional e rotatividade interna, com estruturas organizacionais mais orgânicas, do que mecanicistas, diminuindo a rigidez existente no mercado laboral. Terão colaboradores autónomos, competitivos, versáteis, cientes das necessidades do mercado, mais abertos à mudança, exercendo diversas funções ao longo da sua vida ativa, em diferentes organizações, apresentando uma vida profissional menos monótona, em constante qualificação. Serão colaboradores remotos, independentes, freelancers, especialistas em áreas concretas, entrando em determinadas fases da vida corporativa, criando e exponenciando sinergias, com recurso à tecnologia, respondendo às necessidades de mobilidade e produtividade. Deverão as empresas perante um mercado de trabalho mais dinâmico e competitivo adaptarem-se a estas situações e ajustar a sua regulamentação a novos modelos organizacionais, largando ideias conceptuais e académicas, e integrando a realidade, pois as empresas são cada vez mais organismos em constante evolução. Seria sinónimo de estagnação e fossilização profissional ao deter uma estrutura inflexível, face aos desafios do mercado e de uma economia mais versátil e inclusiva.
O Código do Trabalho português deu passos na flexibilização, permitindo a articulação com a vida pessoal/familiar (Trabalho a tempo parcial, Contrato de trabalho intermitente, Horário concentrado e Adaptabilidade), contudo, precisamos de políticas de emprego que coloquem a proteção dos trabalhadores, o desenvolvimento económico e a competitividade das empresas no centro da estratégia.
Na verticalidade desta matéria, sem perceber moramos no trabalho, e visitamos nossa casa, com impacto no contexto pessoal/familiar e na natalidade, como resultância da ausência da flexibilidade do trabalho. É urgente medidas resolutas, concretas e eficazes, como sendo positivo na resposta à conciliação entre trabalho e vida pessoal, em falha e presente no hoje. Sem substância nesta matéria perdemo-nos no trabalho em detrimento da família, dissipamos e justificamos os meios na vertente material esquecendo a vertente humana.
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