O mês de Janeiro do novo ano de 2020 foi um mês decisivo para a direita tradicional do nosso país. Ambos os partidos, que até agora preencheram o espectro político de direita em Portugal, fizeram passar as respectivas presidências e direcções pelo crivo democrático dos seus militantes. Nos dois casos os resultados demonstraram que a natureza da vida consiste na mudança e não na estagnação.
PSD, numa inédita segunda volta das suas directas, aposta em renovar a solução de rotura e transformação que Rio operou nas fileiras do partido, processo que tinha iniciado aquando da sua eleição como presidente e que havia quebrado com uma parte substancial da herança “passista” do PSD.
Este fim de semana, num Congresso impróprio para cardíacos, o CDS seguiu uma metodologia similar. As bases do partido revoltaram-se contra o poder instalado e a estratégia falhada e elegeram Francisco Rodrigues dos Santos para seu novo líder. Rodrigues dos Santos representa a necessária pedrada no charco que poderá fazer o partido e o país abandonar o entorpecer ingénuo em que se encontra estagnado. Com perigos crescentes à direita e à esquerda, esta era a tão necessária injecção de adrenalina que o paciente desesperadamente precisava.
E como é óbvio, em democracia, estas mudanças não foram golpes palacianos imaculados. Foram batalhas democráticas aguerridas, das quais muitos saíram afastados. Mas a mudança é isso, de outro modo, não se chamaria mudança e a história está cheia de exemplos que o comprovam. As potências europeias esqueceram-se disso em 1814, quando exilaram Napoleão pela primeira vez. Quando o imperador regressou de Elba, recuperou o trono por exaltação dos seus antigos veteranos de guerra, enviados por outros para o deter. As novas lideranças de PSD e CDS inteligentemente afastam esse risco, revitalizando fileiras e nomeando fiéis oficiais. Afinal, só assim terão a necessária tranquilidade e segurança para se dedicarem por completo a desconstruir o ideário socialista que hoje, tão eloquentemente, mantém o país sob hipnose.
Com esta autêntica revolução, ocorrida nas mais antigas casas da direita portuguesa, rompem-se em definitivo os poucos vínculos que ainda restavam de Passos e Portas. O tempo dirá, como em tudo, se para melhor se para pior. Certo é, que ambos os partidos aparentam uma força renovada capaz de estancar o esvaziamento à direita e promover o seu crescimento.
Para quem achasse o mês de Janeiro aborrecido, aqui ficou a prova de que o início de ano pode ser tão intenso como qualquer outra época politicamente activa.
O início da nova década já vai fazendo, assim, jus à frenética mudança dos “loucos” anos vinte do século transacto. Tal como no passado, também hoje se vai gradualmente rompendo com os paradigmas do passado, construindo presente e perspectivando futuro.
Que novas mudanças se avizinham? Veremos.
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