S. Lourenço de Pias
Em terra de tamanqueiros e de sapateiros muitos foram reis e senhores pela sabedoria no ofício e na arte, na gestão e na liderança. Lousada primou desde sempre pela engenhosidade e sagacidade dos seus grandes empreendedores, muitos dos quais generosamente passaram para a sociedade e instituições locais as mais diversas ajudas. Uma dessas pessoas foi José António de Bessa Pacheco, que nasceu na freguesia de Sousela, concelho de Lousada, em 22 de novembro de 1908 e faleceu em 28 de maio de 1994 na freguesia de São Lourenço de Pias.
Tendo seguido a arte de seu pai, passaram a ter uma pequena oficina de tamancaria em Sousela, indo abastecer-se de materiais na firma José Ribeiro de Beça, que tinha uma fábrica de calçado e um armazém de paus, solas e cabedais, na freguesia de Pias.
Enamorou-se, então, com Emília da Conceição Freire de Bessa, nascida em Pias em 7 de março de 1912 (ali entretanto falecida em 29 de agosto de 1991), filha de José Ribeiro de Beça, que desde cedo ajudava os seus pais no atendimento de clientes. Casaram em 23 de julho de 1932 na Capela da Senhora do Avelar, na freguesia de Pias.
Do seu casamento nasceram onze filhos, dos quais só nove sobreviveram, sete raparigas e dois rapazes: Maria Emília (já falecida), Maria do Carmo, Manuel Fernando, Maria Natália, Maria José, Maria Lúcia, Maria Adelaide, José António e Margarida Maria. Todos os filhos receberam de seus pais uma educação segundo a moral católica, exemplos de disciplina, de trabalho e obrigação de estudar ficando com uma ferramenta para vencer na vida futura, o que muito contribuiu para as vidas bem-sucedidas que todos granjearam.
José Pacheco, na sequência do seu casamento, assumiu funções na fábrica que o seu sogro detinha e superiormente dirigia, assistindo, acompanhando e participando no alargamento do campo de negócio, em que se verticalizaram as diferentes artes integrantes do tamanco, até à diferenciação pela passagem ao calçado de homem e senhora, e à comercialização como revendedor de matérias-primas e acessórios incorporados no calçado.
Desde a intervenção do fundador que o negócio se alargou de uma base local para regional e, com recurso ao caminho-de-ferro e à contratação de um caixeiro-viajante, evoluiu para uma base nacional, comercializando do Norte ao Centro e Sul do país, do Minho e Trás-os-Montes às Beiras e Estremadura.
José Ribeiro de Beça e os seus herdeiros, nos quais se inclui José Pacheco, contribuíram para grandes transformações sociais, pois tendo instalado um tipo de indústria suportado pela mão-de-obra intensiva, proporcionou a criação de muitos empregos. Consta que chegaram a ser mais de 500 empregados, entre residentes e deslocados, estes pagos à tarefa, maioritariamente do concelho de Lousada (havia alguns de outros concelhos vizinhos).
Também as famílias destes empregados dependiam do trabalho da “Fábrica dos Eidos-Novos”. E foi assim que o poder de compra e o nível de vida destas famílias subiu de forma a permitir a aquisição de habitação própria que, construída na vizinhança da fábrica, no lugar da Boavista, freguesia de Pias, levou a população a atribuir-lhe o nome de lugar de Eidos-Novos, pelo elevado número de pequenas casas (eidos).
Após o falecimento de José Ribeiro de Beça em 28 de Janeiro de 1947, José Pacheco assumiu a gestão da fábrica em conjunto com os seus cunhados Clemente Ribeiro de Beça e António Álvares Ferreira.
José Pacheco foi Presidente da Junta Freguesia de Pias entre 1950 e 1974 e fez parte da Comissão Fabriqueira da Igreja de Pias.
Da atividade autárquica de José Pacheco, recordam-se as prioridades das obras de então, difíceis de perceber nos dias de hoje, de que se destacam a ampliação da luz elétrica a diversos lugares da freguesia (imagine-se a alegria quando os primeiros habitantes desses lugares puderam comprar e usufruir de um simples aparelho de rádio); a requalificação dos fontenários onde as famílias se abasteciam de água potável; a construção dos lavadouros públicos; a construção de caminhos públicos, então de terra batida, para ligar os diferentes lugares, alguns deles feitos em terrenos gratuitamente cedidos por José Pacheco e que eram mantidos, não pelos fundos oficiais que então não existiam, mas pelo apoio de operários da fábrica, com garantia dos seus salários, ajudados pelo trabalho de voluntários; o restauro da Igreja com fundos reunidos em peditório e em cortejos de oferendas, com cantares e dançares, com a generosidade de todos (o IPAR não existia e não havia qualquer tipo de apoios do Estado); a recuperação da Capela da Sra. do Avelar e das festas em sua honra.
Este benemérito também ajudou na construção do Hospital de Lousada, liderando peditórios e organizando cortejos de oferendas para angariação de fundos na freguesia de Pias.
Também foi por si impulsionada a construção da Escola Primária que se encontra próximo da Igreja e ao lado da Sede da Junta de Freguesia.
Refira-se também que o apoio social através distribuição de bens alimentares doados pela Caritas para os pobres da freguesia de Pias ficou sediado na Casa de José Pacheco, onde sua esposa, conhecida pela bondade, caridade e respeito pelos pobres, se ocupava da sua distribuição pelos mais necessitados.
Embora extremamente conservador, em ideais e em ideologia, José Pacheco era também um homem que conseguia ter mente aberta para ouvir quem era progressista e liberal. Com o seu coração “mole”, lá concedeu a oportunidade aos seus operários para se deslocarem na furgoneta da firma aos comícios da oposição, como foi o caso do grande comício de Humberto Delgado, no Porto, em 1958.
Aqui fica um resumo de uma vida riquíssima como foi a de José António de Bessa Pacheco, plena de empreendedorismo e de benquerença pelo bem comum. Seguramente, um Louzadense com Alma.
1 Casou com Emília da Conceição Freire de Bessa (de 7-03-1912 a 29-08-1991). Tiveram nove filhos: Maria Emília Pacheco de Bessa (11-06-1933), Maria do Carmo de Bessa Pacheco (03-02-1935), Manuel Fernando de Bessa Pacheco (10-09-1937), Maria Natália de Bessa Pacheco (01-04-1939), Maria José de Bessa Pacheco Paiva (13-09-1940), Maria Lúcia de Bessa Pacheco Brochado (24-06-1942), Maria Adelaide de Bessa Pacheco Leite de Carvalho (28-06-1945), José António de Bessa Pacheco (17-05-1947), Margarida Maria de Bessa Pacheco Carvalho (29-08-1950)



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