“É preciso pessoas sérias para gerir a AD Lousada” Carlos Moreira

Após a reportagem publicada na última edição sobre a AD Lousada, o responsável pela Comissão Administrativa da AD Lousada, Paulo Rodrigues, demitiu-se. A situação do clube tem suscitado várias reações, entre as quais de antigos dirigentes. Num momento especialmente conturbado na vida da AD Lousada, tentamos perceber o que levou, num tão curto espaço de tempo, o clube à situação atual.

Falamos com o Eng. Carlos Moreira, que foi vice-presidente e responsável pela formação do clube, durante 4 anos (de setembro de 2015 a junho de 2019).

Para si, quais foram os principais motivos para o surgimento desta crise da AD Lousada?

Não conheço com detalhe a vida interna do clube desde junho passado, mas sei que nunca é fácil gerir qualquer associação. Sei das dificuldades que encontramos, em 2015, quando tomamos as rédeas da gestão do clube. Tínhamos poucas equipas, relativamente poucos atletas, a equipa principal estava na última divisão distrital e tínhamos uma dívida que ultrapassava os 65 mil euros. A primeira etapa foi encontrar sócios que se voluntariassem para ajudar na tarefa de fazer renascer o clube. Delineamos objetivos e metas a curto e médio prazo. A longo prazo, deixamos apenas sonhos. Apresentamos tudo isto aos membros do conselho consultivo do clube e aos responsáveis da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal, sujeito a discussão e melhoramento de todos. Aos poucos, as pessoas foram aparecendo, o aumento da atividade foi sendo conseguido, acrescentamos modalidades e fomos conseguindo recursos para pagar tudo. Recordo que tivemos anos em que o orçamento ultrapassou os 350 mil euros. Entretanto, em abril de 2019, o presidente da direção comunicou-nos que sairia no final da época, dado que não sentia ter a confiança do Sr. Presidente da Câmara. Eu, tal como uma boa parte do núcleo que tinha iniciado o projeto em 2015, resolvemos sair também.

Sente que essa saída e esse romper do projeto que tinham foi prejudicial para o clube?

Avisamos com tempo da nossa intenção de saída e procuramos soluções diretivas. Falamos com o Sr. Presidente da assembleia geral, Dr. Jorge Magalhães, e com o Sr. Presidente da Câmara, Dr. Pedro Machado, que foi a primeira pessoa a saber que não continuaríamos, mas tardou muito o surgir uma solução e a que acabou por surgir, o Jorge Fernandes, sinto ter sido mais por falta de outra saída e para que se pudesse inscrever o clube e as equipas para a época atual, do que por muita vontade ou querer do Jorge.

Paulo Rodrigues fez algumas críticas em relação à anterior direção do clube. Como reage a essas críticas?

Julgo que o Joca se referia à direção que liderou o clube de julho a outubro de 2019 e não à que tinha terminado funções em junho, mas, em todo o caso, julgo que nunca é bonito vermos algumas afirmações, pois todos tentam fazer o melhor, como também terá sido, certamente, o caso do Joca.
É evidente que, com a saída de tanta gente em junho, faltaram pessoas para a manutenção da atividade do clube com o nível, a exigência que a dimensão e a credibilidade alcançada exigiam. São as pessoas e o seu trabalho que fazem a estrutura e conseguem sustentar o crescimento e a ambição. A ambição e o projeto que tínhamos era ir bastante mais além e continuo a achar que teria sido possível, mas para tal era preciso que tivéssemos todos a mesma perspetiva de crescimento. A AD Lousada está intrinsecamente ligada ao futuro que quiserem dar ao complexo e à sua utilização, pelo que a opinião e a confiança do Sr. Presidente da Câmara são fatores absolutamente decisivos na afirmação e crescimento do clube como uma entidade formativa de futebol de dimensão nacional. Nós queríamos que assim tivesse sido.

A Câmara foi um obstáculo?

Sempre fomos leais com a câmara. A Câmara ajudou-nos da forma que entendeu ser a melhor. Foi fazendo crescer os apoios à medida que também fomos crescendo na formação, realçando que esses apoios, no máximo, não chegaram a significar 15% do nosso orçamento anual. A utilização gratuita das instalações também é naturalmente uma grande ajuda. A grande dificuldade foi a falta de autonomia de gestão do dia a dia do clube, dentro do complexo. Era muito difícil e motivo de chatices quase diárias, a gestão dos relvados. O clube vive sob orientação dos colaboradores do complexo e alguns são fantásticos, mas também vivemos situações muito complicadas, com pessoas que prestam serviço lá, através do centro de emprego e que mandam mais do que qualquer dirigente do clube. Fomos pedindo ao longo dos anos para ter uma situação de gestão igual às dos clubes das freguesias (pagando o clube as despesas de funcionamento) ou um contrato semelhante ao do ténis, mas tal nunca foi possível. Recordo que o clube saiu do centro, junto à feira, apressadamente, para que a Câmara não perdesse os apoios para a construção do parque urbano. No complexo, as condições físicas são globalmente fantásticas, mas operacionalmente, para o clube, a situação não é nada fácil. A questão da nova sede, que devia compensar a que o clube teve de deixar e foi construída pelos sócios do clube, também nunca saiu das promessas. Ficamos também tristes com a situação da troca dos relvados sintéticos que estão muito desgastados e há bastante tempo que tínhamos a promessa do Sr. Presidente (feita também nas galas do clube) de que iriam ser substituídos aquando do sintético do hóquei, mas na realidade só o do hóquei foi a concurso e substituído. Fomos sentindo que, apesar de todos os dias darmos vida e uso ao complexo, permitindo a prática desportiva massiva aos nossos jovens, éramos um corpo estranho dentro do complexo, onde a nossa opinião pouco ou nada contava. Ao invés, se fosse lá alguma equipa de fora, a atenção, a presença e o carinho eram completamente diferentes.

“A CM de Lousada
nunca reconheceu o
nosso trabalho”

Sentiram-se pouco reconhecidos, é isso?

Também é um pouco isso. Quando triplicamos atividade e conseguimos os resultados que tivemos, parece-me normal que fôssemos um pouco mais reconhecidos pelo Município, que se apressa a destacar e a valorizar tudo o que mexe. Connosco esse reconhecimento nunca chegou. Parece-lhe normal? Para quem trabalha diariamente, de forma apaixonada e desinteressada, esse reconhecimento seria a única compensação que receberíamos e fez-nos falta! Felizmente, a que não tivemos do município fomos tendo, e muita, dos pais dos atletas e adeptos do clube.

Muito provavelmente, o clube descerá de divisão, neste caso nas duas equipas seniores. Que palavras tem para estas descidas?

Até ao final, ainda faltam muitos jogos, pelo que tudo ainda está em aberto, apesar de reconhecidamente ser muito difícil. Mas se vierem a acontecer é obviamente muito triste, pois sabemos bem da dificuldade que tivemos em colocar as equipas nessas divisões. Perdoe-me a imodéstia, mas talvez hoje se perceba um pouco melhor o milagre que fizemos nestes últimos anos. Orçamentos nos seniores muitíssimo baixos, aposta como nunca antes havia acontecido nos jovens da nossa formação e ao mesmo tempo termos conseguido 5 subidas de divisão em seniores, foi realmente algo extraordinário! O clube saberá certamente encontrar forma de superar as dificuldades atuais e, com a aposta contínua nos jovens formados cá, voltará a ter sucesso seguramente.

Para si, o que é preciso para que a AD Lousada volte a ter estabilidade e sucesso?

Pessoas sérias e capazes a geri-lo. Uma comunhão de objetivos com o Município, numa relação de parceria quase umbilical e de grande confiança. E, por último, uma presença autónoma e de compromisso no complexo, onde a sede seja uma realidade, fomentando o associativismo e o bairrismo e os interesses do clube não sejam sempre secundarizados pelos do Município.

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