por | 25 Abr, 2020 | Opinião, Sociedade

Liberdade

“Viemos com o peso do passado e da semente
esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se ataca na torrente
e a sede de uma espera só se ataca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada
só se pode querer tudo quanto não se teve nada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada

Só há liberdade a sério quando houver
a paz o pão
habitação
saúde educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir.”

Sérgio Godinho

Como nada é oferecido aos trabalhadores, a obtenção de direitos só foi possível com a luta organizada ao longo de muitas décadas, bem antes de Abril de 1974. Direitos, que são fruto de pequenas e grandes lutas nas empresas e locais de trabalho, com greves, concentrações, manifestações, assembleias sindicais, enfrentando a repressão e a prisão, formando assim as bases a partir das quais se construíram as leis do trabalho e a contratação coletiva.

Intervindo ativamente na transformação do país, na defesa da liberdade, no combate contra as forças reacionárias e o patronato, os trabalhadores impuseram a consagração dos seus direitos na lei: liberdade sindical, direito à greve, direito de reunião também em horário laboral, de manifestação, salário mínimo nacional, acesso ao direito a subsídio de desemprego e de doença, à negociação coletiva, proibição de despedimento sem justa causa, férias pagas e respetivo subsídio.
Somemos a estas realidades outras como o acabar de uma guerra colonial que matou 10.000 jovens portugueses e estropiou mais de 40.000; a censura que impediu que a verdade fosse dita, mesmo quando eram filmes de Charlie Chaplin; a tortura e o assassinato de quem tinha coragem de não estar de acordo; a perseguição a artistas, cientistas e intelectuais, porque se recusavam a fazer “queimar” os mesmos livros que o amigo de Salazar, Adolf Hitler, queimou; as eleições viciadas e o assassinato de patriotas como o General Humberto Delgado.

Quarenta e seis anos depois da madrugada libertadora, quando enfrentamos uma pandemia que exige a mesma coragem dos resistentes ao fascismo e dos capitães de Abril, convém também lembrar que novos esbirros, sucedâneos dos informadores e agentes torcionários da PIDE/DGS, tentam utilizar qualquer pretexto para tentar olvidar o Dia da Liberdade. Não passarão! A nossa juventude, criada nessa Liberdade, quando e se for preciso, mesmo que tentem esconder a história, não permitirá tal.
E nós, os que fizemos e vivemos Abril, dizemos, tal como Ary dos Santos:
“ (…) E se esse poder um dia o quiser roubar alguém, não fica na burguesia, volta à barriga da mãe, volta à barriga da terra que em boa hora o pariu. Agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu!”.

Concelhia do P.C.P. de Lousada

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